Introdução
O Rev. Valdeci dos Santos faz uma importante observação. Ele diz que a Adoração “é resultante da aplicação da máxima cristã lex orandi, lex credenci, cuja tradução pode ser ‘o que se ora, é o que se crê’. Segundo este princípio, adoração e teologia caminham juntas e grande parte de nossa teologia (certa ou errada), é influenciada por nossa liturgia (forma de adoração)”.
Quando se fala em Adoração, é certo que surgem as polêmicas, e como aconteceu na época dos Juizes de Israel onde “cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos” (Jz 17.6; 21.25), hoje não é diferente, pois sobre este assunto “cada um faz como bem parece aos seus olhos”. O aferidor para a discussão é a Cultura, o Tempo e o Homem Moderno. Não se apela ao Espírito Santo falando nas Escrituras com seriedade, mas mantém-se sob uma “grade ideológica” do Culto. Ou seja, olha-se para as Escrituras com este aferidor (Cultura, Tempo e o Homem).
Isto posto, notamos, então, que há atualmente uma grande divergência acerca do tema“adoração”, às vezes causando separação e mágoas; é preciso, antes de tomar qualquer atitude, responder para si a seguinte pergunta: “Deus se agrada da minha adoração?” ou “Será que Deus recebe qualquer tipo de adoração?”. Isto é extremamente importante por um único motivo: Deus não recebe falsa adoração! No texto de Êxodo 20. 4 – 6 mostra a seriedade deste assunto. Lá, para nos prevenir da falsa adoração, também chamada de idolatria, o Senhor diz: “por que eu, o Senhor teu Deus, sou Deus ciumento”(v. 5).
Adoração é um assunto de vital importância. Conta certo escritor, que existem cerca de 40 capítulos das Escrituras dedicados à descrição, construção, dedicação e uso do Tabernáculo do Senhor, enquanto que apenas dois são dedicados ao relato Criação (SANTOS, 2000, p. 28). As Escrituras não tratam deste assunto como desdém, mas com a seriedade que envolve benção ou maldição para o adorador.
Por isso que a atitude daquele que deseja adorar a Deus com adoração verdadeira é ouvir o Senhor falar na própria Escritura, sua Palavra, para que, descobrindo Nela o querer de Deus, aproximar-se do Senhor sem levar “fogo estranho”, mesmo que tenhamos o coração sincero. Afinal, sinceridade não é o parâmetro para a verdade, mas o contrário. A busca pela Verdade revelará se somos ou não sinceros. Assim, o parâmetro para saber se nossa adoração a Deus é verdadeira não somos nós ou nossos sentimentos, mas o próprio Deus falando nas Escrituras Sagradas.
Por que logo quando tratamos deste assunto, como zelo pelas almas dos adoradores, somos logo chamados de radicais ou de antiquado? Por que não examinar a Escritura? Você já percebeu que o maior motivo hoje para um membro deixar uma igreja e ir para outra já não é o aspecto doutrinário, bíblico ou mesmo geográfico, mas “o estilo de adoração e de culto”? (SANTOS, 2000, p. 27). Dizem: “Ah! Naquela igreja a gente dança, bate-palmas; lá o pastor é legal! Ele deixa a gente à vontade no culto! A pregação é curta; às vezes nem pregação tem; lá sim, o culto é bacana, é agradável!”. Você já ouviu isto? Saiba, querido leitor, que a preocupação com a verdadeira adoração era algo que distinguiria os verdadeiros pastores dos falsos mestres: “Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si mestres conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério” (2 Tm 4. 1 – 4). Ao profeta Jeremias o Senhor revelou: “porque tanto o profeta, como o sacerdote, estão contaminados; até na minha casa achei a sua maldade, diz o SENHOR” (Jr 23. 11).
Nós hoje estudaremos o Segundo Mandamento a fim de descobrir nele o querer de Deus. Hoje veremos o contexto em que foi entregue o Segundo Mandamento e o porquê ele nos foi dado. O que o Senhor quer nos ensinar com estas palavras. A partir dele buscaremos compreender o porquê Deus ser tão categórico na proibição da Idolatria. Veremos que Deus mesmo nos diz como adorá-lo, reservando para Si, o Adorado, a prerrogativa de regular nossa adoração como princípios eternos.
DIFERENÇA E SEMELHANÇA ENTRE O 1º E O 2º MANDAMENTO
Seguindo a seqüência lógica da entrega dos Dez Mandamentos, o Senhor pronuncia as palavras do Segundo Mandamento: “Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos”.
Esta seqüência não é apenas numérica, mas é teológica. Note o seguinte. No Primeiro Mandamento, o Senhor nos diz que Ele é o objeto exclusivo de Culto, isto é, não há outro Deus, nem outro Ser que mereça Adoração. Já o Segundo Mandamento não nos fala do objeto de Adoração, mas da maneira de adorar.
João Calvino, ao falar sobre este mandamento, faz a seguinte observação: “No Primeiro Mandamento, depois que Ele [Deus] tem nos ensinado que é o verdadeiro Deus, Ele nos ordena que apenas Ele deve ser adorado; e agora Ele define qual é SUA LEGÍTIMA ADORAÇÃO. Agora, desde que existem duas coisas distintas, nós concluímos que os mandamentos são também distintos, nos quais coisas diferentes são tratadas. O Primeiro, sem dúvida, precede em ordem, isto é, que os crentes devem estar satisfeitos com o único Deus; mas isto não seria suficiente para nós o ser instruídos a adorá-lo unicamente, a menos que nós também soubéssemos a maneira na qual Ele seria adorado”.
A conclusão é óbvia: “No Primeiro Mandamento é proibido adorar um falso deus; no Segundo Mandamento é proibido adorar a Deus em maneira falsa”.
O ASPECTO INTERIOR E EXTERIOR DA ADORAÇÃO
Nesta primeira impressão é fácil notar que o Mandamento não trata apenas do exterior. Lembre-se que a Lei do Senhor é espiritual; ele avalia as intenções do coração, bem como os atos exteriores. Um ponto interessante do Segundo Mandamento é que, enquanto no Primeiro o Senhor diz: “não haverá para ti outros deuses diante de minha face”, ou seja, indicando algo que é primeiramente projetado na mente, o Segundo Mandamento fala da realização do projeto. Veja como o texto começa: “não farás para ti....”. Aquilo que começou na mente veio a concretizar na realização visível. Normalmente é neste estado que se encontra o adorador: primeiro ele imagina sobre Deus; depois ele faz da imaginação uma ação.
É preciso destacar que este Mandamento não proíbe a feitura de qualquer imagem, visto que o teor do Mandamento é religioso. Assim, o Mandamento não é contra a Arte, mas contra a fabricação de Ídolos para o serviço religioso: “Não te encurvarás a elas nem as servirás”. “O segundo mandamento se restringia ao âmbito do culto” (G. von Rad, 2007, p. 215). Esta referência proibitiva constitui uma afronta, pois Deus é Espírito e a adoração a Ele é em Espírito e em Verdade. Note que a implicação desta proibição é que a adoração a Deus não é pelo que é visível.
O Senhor Deus, posteriormente falando a Moisés, disse-lhe ao subir ao Monte Horebe, “além da voz”, não viu figura alguma (Dt 4. 12), e que “nenhuma figura vistes no dia em que o Senhor, em Horebe, falou convosco no meio do fogo”(v. 16). E por que deveriam guardar-se de fazer imagens sobre Deus para adorarem? “Para que não vos corrompais, e vos façais alguma imagem esculpida na forma de qualquer figura, semelhança de homem ou mulher; figura de algum animal que haja na terra; figura de alguma ave alada que voa pelos céus; Figura de algum animal que se arrasta sobre a terra; figura de algum peixe que esteja nas águas debaixo da terra; Que não levantes os teus olhos aos céus e vejas o sol, e a lua, e as estrelas, todo o exército dos céus; e sejas impelido a que te inclines perante eles, e sirvas àqueles que o SENHOR teu Deus repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus” (Dt 4. 16 – 19)
O ASPECTO ESPIRITUAL DO 2º MANDAMENTO
A cada momento do Segundo Mandamento a ênfase está, portanto, na adoração sensitiva versus a adoração espiritual. Neste último caso, os sentidos não estão em evidência (o olhar, o tocar, o expressar do corpo ou mesmo nas emoções ou sentimentos), mas no invisível, no que não se pode ver. É o carnal x o espiritual; é o sensitivo x o racional. “Não farás para ti imagem.....” é a proibição contra o falso culto, chamado de idolatria. Não se adoraria ao Senhor Deus pelo que se podia ver, mas pelo que podia entender. Eles adorariam ao Senhor “com todo o entendimento”. Talvez se diga: “Ele também não diz ‘com todo o coração’?” É desconhecido de muitos que o “coração” refere-se, quando não falando do órgão físico, a “tudo o que nós atribuímos à cabeça e ao cérebro – a capacidade de perceber, raciocinar, pensar, compreender, entender e tomar conhecimento, a consciência, memória, conhecimento, sentimento, vontade e juízo”.
O 2º MANDAMENTO: O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO
O Segundo Mandamento, portanto, é o Princípio Regulador do Culto a Deus. Sem ele, ou a não observância do Segundo Mandamento, incorremos numa adoração falsa. O Senhor nos mostra-Se zeloso com o Culto prestado a Ele. Enquanto Ele, o Senhor, nos mostra o preceito para adoração aceitável por Ele (vv. 4, 5a); também nos mostras as sérias penalidades (vv. 5b, 6). Entre uma e outra, Ele nos mostra a razão por que exige obediência ao Segundo Mandamento: “porque eu, o Senhor teu, sou Deus ciumento, zeloso”.
Desta forma, a intenção do Senhor em dar este Segundo Mandamento é dizer-nos que o Culto pertence a Ele e que apenas Ele tem a prerrogativa de dizer como quer ser adorado. Este Mandamento nos protege do Formalismo morto bem como das invenções humanas no culto. Neste caso nos preserva de cultuarmos falsamente, segundo nossos desejos; naquele caso nos preserva de sermos ritualistas. O Mandamento nos leva a refletir sobre a Grandeza do Adorado e atividade do adorador, que é dar toda glória a Deus.
Em outra ocasião discorremos sobre o aspecto do Mandamento em Si, isto é, na exposição desta divisão acima: 1) Preceito; 2) Sanções; 3) Razões; concluindo com o que o Mandamento exige de nós, o que proíbe e qual a força deste Mandamento.
PARA PENSAR
Quero relatar os três fatores que nos influenciaram neste assunto, fazendo-nos tirar os nossos olhos do Adorado e colocá-los sobre o adorador. O primeiro fator é a ênfase na experiência ou nos sentimentos. Nada há de errado com a experiência ou os sentimentos, desde que não estejam e não sejam a referência para uma verdade em matéria de doutrina. Foram Heidegger e Schleiermacher que enfatizaram o que ficaria conhecido como subjetividade. Para eles a verdade não estaria lá fora (nas Escrituras?), mas aqui dentro (de cada um?). Você já percebeu que em muitos dos cultos que prestamos a Deus, o principal é a emoção? Palavras como “prazer”, “apaixonar”, “tocar”, “sentir” são mais freqüentes do que palavras como “pensar”, “aprender”, “ver”, “entender” etc? Novamente digo que não há nada de errado com aquelas palavras; apenas quando são postas acima do que Deus prescreveu na Palavra Escrita! É contra esse aspecto que Deus nos dá o Segundo Mandamento.
Outro fator é a idéia que de precisamos ter todo este aparato moderno de culto (as palmas, as danças, as coreografias, o sermão curto e sem profundidade, o antidogmatismo etc) para que as coisas em nossa igreja funcionem (entenda “encham”). Julga-se a verdade pelo resultado, pela praticidade, pelo efeito. É certamente uma frustração, no mínimo, para muitos pastores, ver dezenas de igrejas ao seu redor “crescendo, crescendo” em números, enquanto a sua igreja parece estagnada. Porém, ao sondar a teologia, o culto ou o que tem movido aquela igreja ao “inchamento”, digo, “enchimento”, notar-se-á que a Escritura não é o centro ali. Ela está lá, mas não passa de um livro. Há inovações, modernizações, na verdade, há importações do mundo para a comunidade. As pessoas trocam apenas de lugar: do mundo para a comunidade eclesiástica. A isto chamamos de pragmatismo. Neste sentido o Segundo Mandamento nos mostra de quem é a prerrogativa de dizer como deve ser o Culto.
Por fim, o último fator, embora existam outros tantos, é a ênfase no humano, não no Divino. Até mesmo quando se fala em divino, muitos pensam em homens que agem com deuses; este reflexo é visto na preocupação dos líderes cristãos em propiciar programas na igreja onde as pessoas se sintam felizes. A palavra correta é entretenimento, distração para “descarregar” o estresse. Como diz um escritor: “como filhos desta nossa geração, exigimos que cada momento do culto venha satisfazer nossas necessidades” (SANTOS, 2000, p. 29). Muitos pastores não confrontam mais o pecado para que as pessoas não se sintam mal; a boa mensagem não é a que “ensina Bíblia”, mas a que ensina se sentir bem. O Segundo Mandamento nos ensina, portanto, que Culto não é entretenimento, pois se houver tal coisa no Culto ao Senhor provocaremos a sua indignação.
É claro que é preciso sentir-se bem na igreja, que precisamos nos alegrar, que queremos crescer etc., mas tudo isto submetidos à Palavra de Deus, realçando o caráter de Deus, suas obras, seus juízos, sua vontade, exaltando-o acima de tudo e a nós dizermos: “NÃO a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade.” (Sl 115. 1).
Acreditamos que Deus tenha nos dito e ensina sobre nosso modo de viver, mas não acreditamos que ele tenha nos ensinado o modo de adorá-lo. Certo escritor acertou o alvo quando disse: “Há maneiras corretas e outras erradas de se adorar a Deus. Convém aprender a maneira correta.”. “Deus não se agrada de tudo o que fazemos supostamente em seu nome, por isso devemos ser obedientes a Ele e descobrir o que realmente lhe agrada. Precisamos evitar procedimentos e costumes que inventamos, por melhores, mais atrativos e práticos que pareçam”. Mas a questão final é: onde podemos descobrir o que realmente agrada a Deus em matéria de Culto?
Pergunto: Quem deveria decidir como nós devemos adorar ao Senhor Deus? Deveria ser o pastor? Ou deveria ser a cultura? Talvez os jovens, ou nossas tradições? Ou quem sabe tudo isto junto? Nada, nem ninguém, exceto o Senhor, pode estabelecer como Ele quer ser Adorado. Você acredita que está qualificado para determinar a maneira de adorar a Deus? Ou você acredita que Deus não é o único qualificado para dizer-nos como adorá-lo?
O Culto não é invenção humana (coisas dos pagãos). “Deus não deve ser adorado com um culto segundo a vontade do adorador, mas conforme o que ele unilateralmente preordenou e estabeleceu. O culto, portanto, não pode fugir aos parâmetros estatuídos na Palavra de Deus, pois não é realização humana, mas divina. Deus o instituiu, organizou-o e o ordenou. Ele (o culto) não pode ser como o cultuador deseja prestá-lo, mas como Deus quer recebê-lo. Também não se destina à satisfação humana, mas à divina ( Rm 12. 1 ). Quem deve ficar satisfeito com o culto é Deus, único sujeito e objeto da adoração, não o homem. A emoção e a paixão espirituais devem pervadir o culto, não o passionismo e o sentimentalismo sensoriais expressos em coreografias, romantismos beatíficos e danças em ritmos populares”.
Agora podemos entender o que a nossa Confissão de Fé nos diz: “A luz da natureza mostra que há um Deus que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos, e que, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, de toda a alma e de toda a força; mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras”
O Rev. Valdeci dos Santos faz uma importante observação. Ele diz que a Adoração “é resultante da aplicação da máxima cristã lex orandi, lex credenci, cuja tradução pode ser ‘o que se ora, é o que se crê’. Segundo este princípio, adoração e teologia caminham juntas e grande parte de nossa teologia (certa ou errada), é influenciada por nossa liturgia (forma de adoração)”.
Quando se fala em Adoração, é certo que surgem as polêmicas, e como aconteceu na época dos Juizes de Israel onde “cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos” (Jz 17.6; 21.25), hoje não é diferente, pois sobre este assunto “cada um faz como bem parece aos seus olhos”. O aferidor para a discussão é a Cultura, o Tempo e o Homem Moderno. Não se apela ao Espírito Santo falando nas Escrituras com seriedade, mas mantém-se sob uma “grade ideológica” do Culto. Ou seja, olha-se para as Escrituras com este aferidor (Cultura, Tempo e o Homem).
Isto posto, notamos, então, que há atualmente uma grande divergência acerca do tema“adoração”, às vezes causando separação e mágoas; é preciso, antes de tomar qualquer atitude, responder para si a seguinte pergunta: “Deus se agrada da minha adoração?” ou “Será que Deus recebe qualquer tipo de adoração?”. Isto é extremamente importante por um único motivo: Deus não recebe falsa adoração! No texto de Êxodo 20. 4 – 6 mostra a seriedade deste assunto. Lá, para nos prevenir da falsa adoração, também chamada de idolatria, o Senhor diz: “por que eu, o Senhor teu Deus, sou Deus ciumento”(v. 5).
Adoração é um assunto de vital importância. Conta certo escritor, que existem cerca de 40 capítulos das Escrituras dedicados à descrição, construção, dedicação e uso do Tabernáculo do Senhor, enquanto que apenas dois são dedicados ao relato Criação (SANTOS, 2000, p. 28). As Escrituras não tratam deste assunto como desdém, mas com a seriedade que envolve benção ou maldição para o adorador.
Por isso que a atitude daquele que deseja adorar a Deus com adoração verdadeira é ouvir o Senhor falar na própria Escritura, sua Palavra, para que, descobrindo Nela o querer de Deus, aproximar-se do Senhor sem levar “fogo estranho”, mesmo que tenhamos o coração sincero. Afinal, sinceridade não é o parâmetro para a verdade, mas o contrário. A busca pela Verdade revelará se somos ou não sinceros. Assim, o parâmetro para saber se nossa adoração a Deus é verdadeira não somos nós ou nossos sentimentos, mas o próprio Deus falando nas Escrituras Sagradas.
Por que logo quando tratamos deste assunto, como zelo pelas almas dos adoradores, somos logo chamados de radicais ou de antiquado? Por que não examinar a Escritura? Você já percebeu que o maior motivo hoje para um membro deixar uma igreja e ir para outra já não é o aspecto doutrinário, bíblico ou mesmo geográfico, mas “o estilo de adoração e de culto”? (SANTOS, 2000, p. 27). Dizem: “Ah! Naquela igreja a gente dança, bate-palmas; lá o pastor é legal! Ele deixa a gente à vontade no culto! A pregação é curta; às vezes nem pregação tem; lá sim, o culto é bacana, é agradável!”. Você já ouviu isto? Saiba, querido leitor, que a preocupação com a verdadeira adoração era algo que distinguiria os verdadeiros pastores dos falsos mestres: “Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si mestres conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério” (2 Tm 4. 1 – 4). Ao profeta Jeremias o Senhor revelou: “porque tanto o profeta, como o sacerdote, estão contaminados; até na minha casa achei a sua maldade, diz o SENHOR” (Jr 23. 11).
Nós hoje estudaremos o Segundo Mandamento a fim de descobrir nele o querer de Deus. Hoje veremos o contexto em que foi entregue o Segundo Mandamento e o porquê ele nos foi dado. O que o Senhor quer nos ensinar com estas palavras. A partir dele buscaremos compreender o porquê Deus ser tão categórico na proibição da Idolatria. Veremos que Deus mesmo nos diz como adorá-lo, reservando para Si, o Adorado, a prerrogativa de regular nossa adoração como princípios eternos.
DIFERENÇA E SEMELHANÇA ENTRE O 1º E O 2º MANDAMENTO
Seguindo a seqüência lógica da entrega dos Dez Mandamentos, o Senhor pronuncia as palavras do Segundo Mandamento: “Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos”.
Esta seqüência não é apenas numérica, mas é teológica. Note o seguinte. No Primeiro Mandamento, o Senhor nos diz que Ele é o objeto exclusivo de Culto, isto é, não há outro Deus, nem outro Ser que mereça Adoração. Já o Segundo Mandamento não nos fala do objeto de Adoração, mas da maneira de adorar.
João Calvino, ao falar sobre este mandamento, faz a seguinte observação: “No Primeiro Mandamento, depois que Ele [Deus] tem nos ensinado que é o verdadeiro Deus, Ele nos ordena que apenas Ele deve ser adorado; e agora Ele define qual é SUA LEGÍTIMA ADORAÇÃO. Agora, desde que existem duas coisas distintas, nós concluímos que os mandamentos são também distintos, nos quais coisas diferentes são tratadas. O Primeiro, sem dúvida, precede em ordem, isto é, que os crentes devem estar satisfeitos com o único Deus; mas isto não seria suficiente para nós o ser instruídos a adorá-lo unicamente, a menos que nós também soubéssemos a maneira na qual Ele seria adorado”.
A conclusão é óbvia: “No Primeiro Mandamento é proibido adorar um falso deus; no Segundo Mandamento é proibido adorar a Deus em maneira falsa”.
O ASPECTO INTERIOR E EXTERIOR DA ADORAÇÃO
Nesta primeira impressão é fácil notar que o Mandamento não trata apenas do exterior. Lembre-se que a Lei do Senhor é espiritual; ele avalia as intenções do coração, bem como os atos exteriores. Um ponto interessante do Segundo Mandamento é que, enquanto no Primeiro o Senhor diz: “não haverá para ti outros deuses diante de minha face”, ou seja, indicando algo que é primeiramente projetado na mente, o Segundo Mandamento fala da realização do projeto. Veja como o texto começa: “não farás para ti....”. Aquilo que começou na mente veio a concretizar na realização visível. Normalmente é neste estado que se encontra o adorador: primeiro ele imagina sobre Deus; depois ele faz da imaginação uma ação.
É preciso destacar que este Mandamento não proíbe a feitura de qualquer imagem, visto que o teor do Mandamento é religioso. Assim, o Mandamento não é contra a Arte, mas contra a fabricação de Ídolos para o serviço religioso: “Não te encurvarás a elas nem as servirás”. “O segundo mandamento se restringia ao âmbito do culto” (G. von Rad, 2007, p. 215). Esta referência proibitiva constitui uma afronta, pois Deus é Espírito e a adoração a Ele é em Espírito e em Verdade. Note que a implicação desta proibição é que a adoração a Deus não é pelo que é visível.
O Senhor Deus, posteriormente falando a Moisés, disse-lhe ao subir ao Monte Horebe, “além da voz”, não viu figura alguma (Dt 4. 12), e que “nenhuma figura vistes no dia em que o Senhor, em Horebe, falou convosco no meio do fogo”(v. 16). E por que deveriam guardar-se de fazer imagens sobre Deus para adorarem? “Para que não vos corrompais, e vos façais alguma imagem esculpida na forma de qualquer figura, semelhança de homem ou mulher; figura de algum animal que haja na terra; figura de alguma ave alada que voa pelos céus; Figura de algum animal que se arrasta sobre a terra; figura de algum peixe que esteja nas águas debaixo da terra; Que não levantes os teus olhos aos céus e vejas o sol, e a lua, e as estrelas, todo o exército dos céus; e sejas impelido a que te inclines perante eles, e sirvas àqueles que o SENHOR teu Deus repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus” (Dt 4. 16 – 19)
O ASPECTO ESPIRITUAL DO 2º MANDAMENTO
A cada momento do Segundo Mandamento a ênfase está, portanto, na adoração sensitiva versus a adoração espiritual. Neste último caso, os sentidos não estão em evidência (o olhar, o tocar, o expressar do corpo ou mesmo nas emoções ou sentimentos), mas no invisível, no que não se pode ver. É o carnal x o espiritual; é o sensitivo x o racional. “Não farás para ti imagem.....” é a proibição contra o falso culto, chamado de idolatria. Não se adoraria ao Senhor Deus pelo que se podia ver, mas pelo que podia entender. Eles adorariam ao Senhor “com todo o entendimento”. Talvez se diga: “Ele também não diz ‘com todo o coração’?” É desconhecido de muitos que o “coração” refere-se, quando não falando do órgão físico, a “tudo o que nós atribuímos à cabeça e ao cérebro – a capacidade de perceber, raciocinar, pensar, compreender, entender e tomar conhecimento, a consciência, memória, conhecimento, sentimento, vontade e juízo”.
O 2º MANDAMENTO: O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO
O Segundo Mandamento, portanto, é o Princípio Regulador do Culto a Deus. Sem ele, ou a não observância do Segundo Mandamento, incorremos numa adoração falsa. O Senhor nos mostra-Se zeloso com o Culto prestado a Ele. Enquanto Ele, o Senhor, nos mostra o preceito para adoração aceitável por Ele (vv. 4, 5a); também nos mostras as sérias penalidades (vv. 5b, 6). Entre uma e outra, Ele nos mostra a razão por que exige obediência ao Segundo Mandamento: “porque eu, o Senhor teu, sou Deus ciumento, zeloso”.
Desta forma, a intenção do Senhor em dar este Segundo Mandamento é dizer-nos que o Culto pertence a Ele e que apenas Ele tem a prerrogativa de dizer como quer ser adorado. Este Mandamento nos protege do Formalismo morto bem como das invenções humanas no culto. Neste caso nos preserva de cultuarmos falsamente, segundo nossos desejos; naquele caso nos preserva de sermos ritualistas. O Mandamento nos leva a refletir sobre a Grandeza do Adorado e atividade do adorador, que é dar toda glória a Deus.
Em outra ocasião discorremos sobre o aspecto do Mandamento em Si, isto é, na exposição desta divisão acima: 1) Preceito; 2) Sanções; 3) Razões; concluindo com o que o Mandamento exige de nós, o que proíbe e qual a força deste Mandamento.
PARA PENSAR
Quero relatar os três fatores que nos influenciaram neste assunto, fazendo-nos tirar os nossos olhos do Adorado e colocá-los sobre o adorador. O primeiro fator é a ênfase na experiência ou nos sentimentos. Nada há de errado com a experiência ou os sentimentos, desde que não estejam e não sejam a referência para uma verdade em matéria de doutrina. Foram Heidegger e Schleiermacher que enfatizaram o que ficaria conhecido como subjetividade. Para eles a verdade não estaria lá fora (nas Escrituras?), mas aqui dentro (de cada um?). Você já percebeu que em muitos dos cultos que prestamos a Deus, o principal é a emoção? Palavras como “prazer”, “apaixonar”, “tocar”, “sentir” são mais freqüentes do que palavras como “pensar”, “aprender”, “ver”, “entender” etc? Novamente digo que não há nada de errado com aquelas palavras; apenas quando são postas acima do que Deus prescreveu na Palavra Escrita! É contra esse aspecto que Deus nos dá o Segundo Mandamento.
Outro fator é a idéia que de precisamos ter todo este aparato moderno de culto (as palmas, as danças, as coreografias, o sermão curto e sem profundidade, o antidogmatismo etc) para que as coisas em nossa igreja funcionem (entenda “encham”). Julga-se a verdade pelo resultado, pela praticidade, pelo efeito. É certamente uma frustração, no mínimo, para muitos pastores, ver dezenas de igrejas ao seu redor “crescendo, crescendo” em números, enquanto a sua igreja parece estagnada. Porém, ao sondar a teologia, o culto ou o que tem movido aquela igreja ao “inchamento”, digo, “enchimento”, notar-se-á que a Escritura não é o centro ali. Ela está lá, mas não passa de um livro. Há inovações, modernizações, na verdade, há importações do mundo para a comunidade. As pessoas trocam apenas de lugar: do mundo para a comunidade eclesiástica. A isto chamamos de pragmatismo. Neste sentido o Segundo Mandamento nos mostra de quem é a prerrogativa de dizer como deve ser o Culto.
Por fim, o último fator, embora existam outros tantos, é a ênfase no humano, não no Divino. Até mesmo quando se fala em divino, muitos pensam em homens que agem com deuses; este reflexo é visto na preocupação dos líderes cristãos em propiciar programas na igreja onde as pessoas se sintam felizes. A palavra correta é entretenimento, distração para “descarregar” o estresse. Como diz um escritor: “como filhos desta nossa geração, exigimos que cada momento do culto venha satisfazer nossas necessidades” (SANTOS, 2000, p. 29). Muitos pastores não confrontam mais o pecado para que as pessoas não se sintam mal; a boa mensagem não é a que “ensina Bíblia”, mas a que ensina se sentir bem. O Segundo Mandamento nos ensina, portanto, que Culto não é entretenimento, pois se houver tal coisa no Culto ao Senhor provocaremos a sua indignação.
É claro que é preciso sentir-se bem na igreja, que precisamos nos alegrar, que queremos crescer etc., mas tudo isto submetidos à Palavra de Deus, realçando o caráter de Deus, suas obras, seus juízos, sua vontade, exaltando-o acima de tudo e a nós dizermos: “NÃO a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade.” (Sl 115. 1).
Acreditamos que Deus tenha nos dito e ensina sobre nosso modo de viver, mas não acreditamos que ele tenha nos ensinado o modo de adorá-lo. Certo escritor acertou o alvo quando disse: “Há maneiras corretas e outras erradas de se adorar a Deus. Convém aprender a maneira correta.”. “Deus não se agrada de tudo o que fazemos supostamente em seu nome, por isso devemos ser obedientes a Ele e descobrir o que realmente lhe agrada. Precisamos evitar procedimentos e costumes que inventamos, por melhores, mais atrativos e práticos que pareçam”. Mas a questão final é: onde podemos descobrir o que realmente agrada a Deus em matéria de Culto?
Pergunto: Quem deveria decidir como nós devemos adorar ao Senhor Deus? Deveria ser o pastor? Ou deveria ser a cultura? Talvez os jovens, ou nossas tradições? Ou quem sabe tudo isto junto? Nada, nem ninguém, exceto o Senhor, pode estabelecer como Ele quer ser Adorado. Você acredita que está qualificado para determinar a maneira de adorar a Deus? Ou você acredita que Deus não é o único qualificado para dizer-nos como adorá-lo?
O Culto não é invenção humana (coisas dos pagãos). “Deus não deve ser adorado com um culto segundo a vontade do adorador, mas conforme o que ele unilateralmente preordenou e estabeleceu. O culto, portanto, não pode fugir aos parâmetros estatuídos na Palavra de Deus, pois não é realização humana, mas divina. Deus o instituiu, organizou-o e o ordenou. Ele (o culto) não pode ser como o cultuador deseja prestá-lo, mas como Deus quer recebê-lo. Também não se destina à satisfação humana, mas à divina ( Rm 12. 1 ). Quem deve ficar satisfeito com o culto é Deus, único sujeito e objeto da adoração, não o homem. A emoção e a paixão espirituais devem pervadir o culto, não o passionismo e o sentimentalismo sensoriais expressos em coreografias, romantismos beatíficos e danças em ritmos populares”.
Agora podemos entender o que a nossa Confissão de Fé nos diz: “A luz da natureza mostra que há um Deus que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos, e que, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, de toda a alma e de toda a força; mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras”
Postado por Gaspar de Souza
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