quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Onisciência


Por Alexander R. Pruss[1]

Considere duas afirmações sobre o Conhecimento de Deus

1.    Para todo p, se p, então Deus conhece p
2.    Para todo p, se p, e Deus possivelmente conhece p, então Deus conhece p.

É um fato interessante que (2), combinado com duas premissas incontroversas, abrange (1). Aqui estão mais duas premissas incontroversas.

3.    Necessariamente, o Conhecimento de Deus é exclusivo por conjunção e implicação tautológica (isto é, se Deus conhece p, e Deus conhece q, então Deus conhece (p e q), e se Deus conhece p, e p tautologicamente implica q, então Deus conhece q)
4.    Existe ao menos uma proposição p tal que possivelmente Deus conhece p e possivelmente Deus conhece não-p.

Obviamente, a proposição p em (4) é contingente, desde que conhecimento abrange verdade. Aqui está o argumento de que (2) – (4) abrange (1). Determina qualquer verdade p. por (4), seja q qualquer porposição de tal forma que, possivelmente, Deus conhece q e possivelmente Deus conhece não-q. Se q inclui, vamos r=q. Se q não se sustenta, então temos r=não-q. Observe que r é verdadeiro.
Observe que possivelmente Deus conhece não-r (se r=q, então segue-se do fato de que Deus possivelmente conhece não-p; se r=não-q, então segue-se do fato Deus possivelmente conhece tanto q quanto (3), desde que q tautologicamente implica não-r). Seja s a proposição (p ou não-p). Então, Deus possivelmente conhece s. Para Deus possivelmente conhecer não-r, e em qualquer mundo Deus conhecer não-r, Deus também conhece (p ou não-p) por (3). Então,  s é tão verdadeiro quanto p é verdadeiro. Por conseguinte, se é uma proposição que é verdadeira e possivelmente conhecida por Deus. Novamente, por (2), Deus conhece s. Ademais, r é uma proposição verdadeira, e Deus possivelmente conhece r (desde que Deus possivelmente conhece q e Deus possivelmente conhece não-q). Conclui-se, Deus conhece r, por (2). Mas s é (p ou não-r). Por (3), segue-se que Deus conhece p, desde (s e r) tautologicamente implica p
Se alguém tenta limitar a onisciência por dizer que onisciência apenas significa que Deus conhece coisas que Deus pode conhecer, ou que Deus apenas conhece coisas que possivelmente são conhecidas por alguém (que também abrange [2], não se tem limitada a onisciência de todo: Deus ainda acaba conhecendo todas as proposições verdadeiras, assumindo [3] e [4]). Existe algum outro modo de limitar a onisciência não-arbitrariamente? Estou certo que não. Mas, infelizmente, não existe necessidade para limitar a onisciência. Deus conhece todas as verdades.


[1] Alexander R. Pruss Associate Professor Department of Philosophy Baylor University


Traduzido por Gaspar de Souza

Filosofia Analítica e Filosofia Continental


[Existem] duas Escolas ou Áreas dentro da Filosofia Contemporânea. A Filosofia Analítica, frequentemente chamada de filosofia “Anglo-Americana” por causa de sua origem nas Ilhas Britânicas e nos Estados Unidos da América. Decorrente das obras de Gottlob Frege e dos antigos escritos de Edmund Husserl, representantes clássicos incluem Ludwig 'Wittgenstein, Bertrand Russell, os “positivistas lógicos”, W. V. O. Quine, Donald Davidson, Saul Kripke e Alvin Plantinga. A Filosofia Continental originou-se da Europa Continental, particularmente Alemanha e França. Traçando sua linhagem a partir de Immanuel Kant e Georg Wilhelm Friedrich Hegel, figuras representantes na Filosofia Continental incluem Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, Emmanuel Levinas, Jacques Derrida e Michael Foucault.

Tem havido, tradicionalmente, uma grande hostilidade entre as duas escolas, mas isso é amplamente baseado em caricaturas: a Filosofia Analítica é caricaturada como sinônimo de positivismo lógico e como obcecada por distinções sutis, mas em última análise, sem sentido; a Filosofia Continental é caricaturada com niilista e desdenhosa de argumento lógico. Qualquer distinção real entre as duas deve ser entendida como heurística e as duas escolas não são, certamente, exclusivas. No entanto, podemos definir algumas grandes diferenças.

            Na Filosofia Analítica, a prioridade é colocada em analisar as proposições e argumentos essenciais dos textos a fim de avaliar seu poder de persuasão. Em outras palavras, o objetivo da filosofia [analítica] é resolver problemas, definindo claramente os termos de um debate e construir argumentos em que as conclusões sejam verdadeiras e possam ser realmente verificadas (ou desmascarar falsas conclusões). Proposições são consideradas eternas ou atemporais e, por isso, não são significativamente condicionadas pelo contexto sócio-histórico. Então, uma vez que alguém extraia uma proposição, digamos, da “Suma Teológica de [Tomás] de Aquino”, realmente pouco importa quem disse isso, ou quando foi dito, ou as influências sobre o filósofo que disse isso. O que importa é a declaração em si e o papel que ela desempenha no argumento. Como era de se esperar, nesta escola de pensamento a história da filosofia muitas vezes tem pouco ou nenhum papel a desempenhar exceto como uma fonte de argumentos. Assim, nos programas de pós-graduação na tradição analítica, por vezes há exigências da história da filosofia, mas a exigência mais rigorosa é em lógica.

            Na Filosofia Continental, a ênfase recai sobre a história da filosofia, com a consequência de, por vezes, desvalorização da lógica (muitos programas de pós-graduação em filosofia continental não têm requisito em lógica). Isto nasce de convicções básicas, pois na escola continental há uma maior valorização da inevitabilidade da tradição e para o aspecto existencial de questionamento filosófico (em vez da lógica)

Ambas as tradições têm fornecido fontes de pesquisas para o pensamento teológico e, recente geração de filósofos e teólogos parece apreciar a complementaridade destas duas tradições.

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CLARK, Kelly James; LINTS, Richard; SMITH, James K.A. 101 Key Terms inPhilosophy and their Importance for Theology. Louisville, London: Westminster John Knox Press, 2004, p. 1 – 3.




Traduzido com permissão, com adaptações, por Gaspar de Souza