terça-feira, 24 de setembro de 2013

Ética e cidadania

Rev. Emerson Arruda

São duas horas da manhã, e é exatamente neste horário que encerro a leitura de duas obras importantes: Pratical Christian Theology, de Floyd H. Barackman e História e Teoria, de José Carlos dos Reis. 

De algum modo, a leitura desses textos me entusiasmaram a escrever mais uma vez sobre ética e cidadania. Talvez, porque daqui alguns meses milhares de brasileiros realizarão uma das ações mais cívicas do universo democrático: a eleição de pessoas que irão conduzir centenas de municípios em nosso País. 

Essa autonomia democrática conjugada com responsabilidade ética e consciência cidadã se estabelece como o melhor caminho para construção de um novo modelo de estado e da própria maneira de se fazer política. De tal modo que autonomia, ética e cidadania não devem se estabelecer apenas como conceitos a serem admirados, mas, vivenciados por todos nós. Neste sentido, a promoção desse ideal democrático deve levar em conta o pressuposto de que cada pessoa é um sujeito ético, constituído de valores e crenças. Tal status exige deste indivíduo uma reflexão moral, que lhe faculte a capacidade de ver o mundo além dos seus interesses pessoais, partidários e de manipulações políticas entre o poder público, a realidade estatal e a própria filosofia do senso comum. 

Não é de hoje que a mídia socializa uma série de informações de vários grupos políticos, religiosos, acadêmicos, e privados que se beneficiam de toda a estrutura administrativa e econômica do setor público como se fosse algo natural. Esse triste comportamento é visível também no modo como alguns cidadãos vendem e/ou trocam os seus votos por um simples “prato de lentilhas”, como fez o personagem bíblico Esaú, ao vender o seu direito de primogenitura ao seu irmão Jacó. 

Tal prática pode ser vista quando vários grupos políticos alimentam um ciclo vicioso de cestas básicas, consultas médicas, viagens permanentes de norte ao sul, e uma série de outras atitudes assistencialistas que escravizam as pessoas ao sistema, e não lhes dão subsídios concretos e/ou ferramentas para que possam ser independentes. Esse tipo escravização não promove de modo algum a edificação do verdadeiro sentido da palavra cidadania, pois, não dignifica e nem cria meios eficazes para que cada ser humano conquiste a sua autonomia, sendo capaz, através de uma formação científica e cultural de garantir a sua sobrevivência com qualidade e senso crítico. Todo cidadão no momento de votar deveria problematizar esse ato democrático, perguntando-se: Por que estou votando? Quais são as motivações que me fazem escolher esse ou aquele candidato? Estou elegendo determinado indivíduo, porque creio que ele tem um projeto que leva em consideração a minha autonomia como sujeito pensante? Ou apenas estou fazendo uma barganha com a minha cidadania na expectativa de ganhar benefícios como: cinquenta reais, remédios, almoço num restaurante, uma camiseta legal, ou a garantia de ser contratado para cargos políticos? 

O nosso desafio como cidadãos é o de compreender que ética e cidadania devem ser os pontos centrais em nossa escolha política. Ao eleger alguém, precisamos esquecer-nos de interesses que beneficiam a nós mesmos. É necessário pensar num projeto político que leve em conta a autonomia e a dignidade das pessoas, a fim de que elas não sejam mais subservientes ao processo de domesticação política, e que, finalmente, saibam promover reflexões críticas da realidade, estabelecendo o verdadeiro sentido da palavra democracia.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

IGREJA DE CRISTO, MINISTRA E HERDEIRA DA JUSTIÇA

Por Gaspar de Souza

            Nesta semana(18 de setembro de 2013), o Brasil assistiu a um impasse entre a Justiça e a Verdade; entre o Legalismo e a Moralidade. Um juiz da mais alta Corte do país, o Supremo Tribunal Federal, num caso de empate num julgamento daqueles que, “formando uma quadrilha”, como o próprio STF havia dito anteriormente, optou pelo Legalismo, dando a chance para um novo julgamento daqueles que ele mesmo, o tal juiz, disse serem eles criminosos. Não deveríamos esperar nada diferente em um ambiente onde os interesses políticos se sobressaem (os Ministros são escolhidos por indicação do Presidente da Nação), as meticulosidades jurídicas, os meandros retóricos e, especialmente, aonde os poderosos costumam apelar, tivesse uma postura diferente.

            Em todo o julgamento, ficou claro que alguns juízes agiram mais como defensores dos criminosos. Ao não ver a luz no fim do túnel, mas apenas um abismo entre a Justiça e a Impunidade  que cada vez mais se distanciam, mas é a Impunidade quem permanece e a Justiça vai embora, há de perguntar: o que a Igreja de Cristo tem a ver com isso?

            O Teólogo Richard Niebuhr constumava falar em Igreja Responsável e Irresponsável. No caso desta última, ela escolhe um caminho polarizado entre ficar do lado dos poderosos, e por isso ela busca a aprovação dos homens; ou ficar do lado dos “revolucionários”, dos radicais. Há ainda aquelas que se isolam de uma coisa ou de outra. São “tão santas” que não vão ao mundo (Jo. 17.18) e estão completamente alheias ao clamor por Justiça.

            A Igreja Responsável entende-se como Apostólica. Ela proclama o Evangelho que se manifesta na Justiça de Deus em Cristo. Ela se vê como uma Igreja Pastora, arrebanhando aqueles que clamam por Justiça. E ela se vê como um Reino de Sacerdotes, intercede pelos homens e, até mesmo, se arrepende por eles “por não saberem o que fazem”. Ela entende o valor da Justiça e, por isso, aplica-o a si mesmo.


            Dito isso, vê-se quão urgente é a questão da Disciplina na Igreja de Cristo. A igreja não é uma justiceira, mas uma promotora da justiça. Ela testifica aos homens que o Evangelho está clamando desde os céus para que se arrependam, pois o Justo Deus está para executar a sua Espada e Ele é o Justo Juiz que julga imparcialmente, e nisso não há acepção de pessoas. Em “abrir e fechar o reino dos céus”, a Igreja dá o exemplo, abrindo os braços para os arrependidos, mas fechando para os impenitentes, de dentro e de fora de suas portas. Ela executa a Justiça em si mesmo, corta na própria carne, ferindo-se pela Lei. Nela, a misericórdia e a verdade se encontram; a justiça e a paz se beijam(Sl 85.10). Ele deve ser a Ministra e Herdeira da Justiça, servindo ao Supremo Juiz. 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

OS DESAFIOS DE PREGAR A PALAVRA DE DEUS COMO SERVOS





Pr. Emerson Arruda [1]

Neste ano completo cerca dez anos de ministério pastoral, sou um dos formandos da Turma Reverendo Boanerges Ribeiro, ano de 2003 do Seminário Teológico Presbiteriano José Manoel da Conceição.  

Como outros pastores, tenho o privilégio e a responsabilidade de pregar a Palavra de Deus a uma pequena parte do seu rebanho no interior de Mato Grosso. Essa tarefa honrosa exige oração, fidelidade, sensibilidade, amor e consciência da minha fraqueza espiritual, dentre outras coisas.

 Reaprendi, nesses últimos dias[2], que a pregação é o principal meio de graça pelo qual o reino de Deus se torna visível de modo salvífico aos olhos humanos, que tocados pelo Espírito Santo começam a enxergar o mundo sob as lentas da eternidade.

Tal perspectiva teológica evoca sobre todos nós pregadores a decisão e o compromisso de sermos servos. Mas, servos de quem?

Na proclamação das verdades eternas somos embaixadores de um reino, em que o Deus Trino governa majestosamente sobre todas as coisas como criador, sustentador e redentor. Deste modo, pregamos como servos do Rei eterno, significando o todo a partir daquele que é Senhor sobre tudo.

De modo gracioso, especial e histórico a Trindade revelou a sua vontade gloriosa estabelecendo preceitos, estatutos, e testemunhos, as Escrituras Sagradas. Nelas encontramos a descrição progressiva do projeto Deus para vida humana; valores normativos que estabelecem a verdade absoluta para todos os seres.

Assim, quando pregamos, devemos nos limitar a Palavra de Deus, tendo como ponto de partida a sua inspiração, infalibilidade e suficiência, e não, os conceitos que regem a lógica de uma humanidade caída, que continua dizendo: somos deuses!

Pregadores devem ser servos do Texto Sagrado, esforçando-se com diligência hermenêutica, exegética, teológica e homilética na compreensão e comunicação apaixonada das Escrituras Sagradas que apontam Cristo como salvador do mundo.

Partimos do pressuposto de que as Escrituras Sagradas são especiais para nossa saúde e de que elas, cumprindo o propósito de Deus santificar diariamente sua igreja, devem ser entregues pelos pregadores com amor servial e não com moralismos vazios.

Todos os domingos estão diante dos nossos olhos pessoas que como nós, precisam de alimento, consolo e instrução para suas almas. Não podemos comunicar a vontade de Deus como se fossemos feitores do pacto. O anúncio deve ser realizado como uma expressão de servialidade e concepção de que somos servos daqueles que pastoreamos.

Muitos são os desafios na pregação da Palavra de Deus, o nosso primeiro passo é o de perceber e crer que ensinamos os desígnios de Deus, como servos dEle mesmo, de sua Palavra e de seu povo. Perdendo essa dinâmica espiritual falaremos apenas dos ídolos de nosso coração.


[1] O Pr. Emerson de Arruda, pastoreia a Igreja Presbiteriana de Jaciara (MT). É Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano José Manoel da Conceição. É Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (FAMA). Licenciado em Filosofia (FAMA e Centro Universitário Clareteano). Mestre em Educação pela UFMT. Doutorando em Ministérios pelo CPAJ.
[2] Módulo: Pregação Reformada, aplicado pelos doutores David Jussely e Valdeci da Silva Santos, no Centro Presbiteriano de Pós-graduação Andrew Jumper.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Uma adolescente criada na sinagoga sabe mais do que uma garota com um Ipad nas mãos

Por Pr. Emerson Arruda1
Além das várias informações de suma importância nestes últimos dias no Módulo Pregação num Mundo pós-moderno,2 uma das frases do professor Emílio Garofalo ao analisar o conhecimento que Maria tinha das Escrituras Sagradas (Antigo Testamento), me chamou a atenção: “uma adolescente criada na sinagoga sabia mais, do que muitos adolescentes cristãos hoje.”

Essa frase simples, mas ao mesmo tempo tão reveladora nos faz um convite de teor reflexivo: o de investir ainda mais no processo de formação bíblico-reformada de adolescentes que são e estão presentes em nossas comunidades cristãs.

Às vezes, por conta de tantas mudanças paradigmáticas que perfazem e ao mesmo tempo desenham o processo histórico da humanidade, imaginamos que a produção de uma linguagem zen-existencialista, o entretenimento das festas à fantasias da Liga da Justiça à Harry Potter, os encontros de adoração moralista, em que a graça de Deus não conduz os ritmos, melodias e harmonias, dentre outros, são aparentemente os caminhos pedagógicos eficazes para a instrução de meninos e meninas inteligentes que podem guardar em seus corações a história da redenção. 
 
Deste modo, vale a pena lembrar que Daniel, Hananias, Misael, Azarias, Josias, Ester, Samuel, e a jovem escrava que ajudou Naamã, dentre outros jovens tementes a Deus, revelaram conhecimento e consistência espiritual na sua contemporaneidade. 
 
Hoje vivemos numa etapa repleta de fascínios midiáticos e cibernéticos, em que somos capazes de nos comunicar e fazer parte de guetos virtuais, como o facebook, skype e twitter, que por sua vez desaparecem rapidamente. Nesse sentido, não me lembro de ter ido ao culto fúnebre do Orkut e Messenger que se apresentavam tão cheios de vida, talvez, porque neles, sem perceber, eu mesmo celebrei a minha própria morte virtual.

Além disto, não podemos esquecer a presença de várias ferramentas tecnológicas como: Ipad, tablet, notebook, ultrabook, celulares e Iphones, que exigem um exercício racional e dedicação no modo de usá-las. Enquanto, nós, filhos de uma geração de discos de vinil e máquinas datilográficas percorremos esse caminho virtual como se fossem labirintos sem fim, nossos adolescentes fazem download em frações de segundo.

Essa habilidade cognitiva e persistência na apreensão destas informações tecnológicas servem também como elementos motivadores no ensino de conceitos doutrinários presentes nas Escrituras Sagradas e aspectos teológicos motivadores que constituem a tradição reformada. 
 
Não podemos subestimar a inteligência e capacidade emocional de adolescentes cristãos se envolverem prazerosamente com temas confessionais, que para alguns, são aparentemente difíceis, áridos e\ou distantes de suas vidas. Eles são capazes de amar a Palavra de Deus e se motivados corretamente, podem com a força e brilho da juventude ser parceiros prudentes e obedientes à defesa da fé reformada. 
 
Enfim, nossos adolescentes não podem ser apenas consumidores cristãos que caminham apenas com Ipads em suas mãos, eles precisam e são capazes de caminhar com a história da redenção em suas mentes e corações.
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1 O Pr. Emerson de Arruda, pastoreia a Igreja Presbiteriana de Jaciara (MT). É Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano José Manoel da Conceição. É Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (FAMA). Licenciado em Filosofia (FAMA e Centro Universitário Clareteano). Mestre em Educação pela UFMT. Doutorando em Ministérios pelo CPAJ.


2 O Pr. Emerson refere-se ao Módulo realizado no Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ - Mackenzie), ocorrido nos dias 26 – 30 de agosto de 2013, sob a Orientação dos Prof. Dr. Emílio Garofalo e Prof. Tarcízio Carvalho.