terça-feira, 2 de março de 2010

JESUS CRISTO, O EVANGELHO ETERNO - Marcos 1.1

Por Gaspar de Souza

Introdução


O Evangelho é recontar (história) das Boas Novas da Obra Redentiva de Deus. Nada tem a ver com a Teologia da Prosperidade Material; com o Tradicionalismo ou Jargões evangélicos; nem com a Religião. Antes, tem a ver com uma história contada pelo próprio Deus; tem a ver com Jesus Cristo e sua Vida e Obra.

O Evangelho de Marcos, o mais conciso dos Quatro, centraliza-se nos atos de Jesus Cristo, nas suas realizações, especialmente no que diz respeito aos sofrimentos do Messias. O objetivo, portanto, deste evangelho é ensinar que “fidelidade e obediência como um discípulo de Jesus, inevitavelmente resultarão em oposição, sofrimento e, talvez, morte”(CONSTABLE, 2008, p. 4). O objetivo é pastoral.

Assim, o Evangelho também tem a ver com a relação de Jesus com os Seus Discípulos. Adolf Pohl (1998) chama a atenção para o fato de que Marcos é o único dos Evangelhos que se refere aos Discípulos como “os seus discípulos”( 2.15; 3.7; 8.10,27; 11.11; 14.14, 17; 16.7). Não há Evangelho sem Discípulos! Não se é evangélico (seguidor do Evangelho), sem ser discípulo de Jesus Cristo, o Evangelho Encarnado.

Hoje desejamos expor o primeiro verso, a abertura do Evangelho. Rogamos que a Palavra de Deus registrada neste versículo nos ajude a nos tornar verdadeiros discípulos de Jesus Cristo.

O Princípio do Evangelho (v. 1a) – Embora o título do livro de Marcos sirva para indicar a origem divina de seus escritos, ele tem outro propósito. Note-se que apenas três livros das Escrituras começam com o termo “princípio”: Gênesis, quando fala da Criação; João, quando fala da Eternidade do Verbo; e Marcos, quando fala do Evangelho. Marcos não começa a sua narrativa com a Genealogia de Jesus, pois para ele o Evangelho não começa com o ministério terreno de Cristo. O Evangelho é tão antigo quanto a Criação e, por estar relacionado com Jesus Cristo, é tão eterno quanto o Verbo. Não por menos que a Escritura chama o Evangelho de “Evangelho Eterno”(Ap 14.6) e começou no Céu; é este Evangelho que seria proclamado “aos que habitam sobre a terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo”.

Desta forma, “as boas novas sobre Jesus Cristo fornecem um começo de uma grande importância como a Criação do Cosmos. Quando Jesus veio à terra e começou seu ministério, Deus fez nova criação. Este evangelho apresenta um novo começo no qual Deus revela boas novas sobre Jesus Cristo.”(CONSTABLE, 2008, p. 8).

O Evangelho não é um “plano B”. Antes, é a revelação do plano eterno de Deus, anunciado desde o Éden (Gn 3.15), anunciado a Abraão (Gn 12. 3; Cf. Gl 3.8). Como diz o Rev. John Charles Ryle(1994, p. 6): “Na vinda de Jesus Cristo a este mundo, nada houve de inesperado ou de improviso”. O Evangelho é a revelação do mistério que esteve oculto desde tempos eternos este mundo, “mas que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos Profetas, segundo o mandamento do Deus Eterno, a todas as nações para obediência da fé”(Rm 16.25, 26). Tem mais a ver com Deus do que com os Homens, a quem Deus quer bem.

A Origem e o Conteúdo do Evangelho: Jesus Cristo, o Filho de Deus (v. 1b) – Veja como isto é importante. O texto diz: “princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. No texto grego, a primeira sentença é uma frase só. Daqui é possível tirarmos três lições preciosas e esquecidas:

a. A primeira maneira de entender o texto (v. 1b) é que o Evangelho tem sua origem no próprio Jesus Cristo: “princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. Ora, se o Evangelho tem mais a ver com Deus do que qualquer outra coisa, então somente Nele pode ter tido a sua origem. Leiam-se os relatos bíblicos. Ninguém elaboraria um plano perfeito; ninguém descreveria um Deus tão perfeito, santo, justo e bom, como o Deus das Escrituras; ninguém conseguiria inventar um Jesus como os das Escrituras. A história contada nas Escrituras, com um começo (Criação), um meio (Queda) e um Fim (Redenção e Consumação), seria impossível de ser inventada por homens pecadores e egoístas, que tendem a ocultar seus pecados e fracassos. Enfim, ninguém criaria uma “História de Graça”. Deus é a origem do Evangelho. Ou, como diria John Piper, se o Evangelho é a História de Deus sobre Si, então “Deus é o Evangelho”, “Jesus Cristo é o Evangelho”

b. A segunda maneira de entender a frase é: Jesus Cristo é o objeto do Evangelho, isto é, o Evangelho é sobre Jesus Cristo. É sobre a sua vida e obra. Paulo nos diz que o Evangelho é “proclamação do Messias, que foi crucificado, sepultado, ressus¬citou e apareceu aos doze”(Pohl)(Cf. 1Co 15. 1 – 11).

Quero chamar a atenção para o fato de Marcos usar a expressão “Jesus Cristo”. Isto quer dizer que o Evangelho também trata da Salvação de pecadores, pois é isto que o nome de Jesus quer dizer (Cf. Mt 1.21; Lc 2.11); Este Jesus é o “Cristo”, o “Messias”, o Ungido de Deus, aquele anunciado e prometido anteriormente aos Profetas, e agora revelado por amor de nós(8.29; 12.35; 14.61; 15.32. Cf. 1Pe 1.19, 20). Simeão, sendo-lhe revelado que não morreria antes “de ter visto o Cristo do Senhor”, quando recebeu o menino Jesus nos braços orou a Deus dizendo: “os meus olhos viram a tua salvação”(Lc 2. 30); assim foram também os anjos. Ao encontrarem os pastores no campo disseram: “eis aqui que vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor”(Lc 2.11). Ele, portanto, é o Escolhido de Deus para Salvação dos Homens. “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.”(At 4.12). Por isso, não há como ser salvo a não ser pelo Evangelho!

c. A terceira e última lição é que ele não é somente o Salvador e Messias. Ele é mais do que um profeta, um herói, um filósofo ou um grande mestre. Ele é chamado de Filho de Deus. Este é o ápice da abertura do Evangelho de Marcos. Para os leitores ocidentais, a expressão “Filho de Deus”, talvez não diga muita coisa. Porém, para os primeiros cristãos, especialmente os judeus convertidos, equivalia a afirmar que Jesus Cristo era Deus, igual ao Pai. A divindade de Jesus Cristo é apresentada logo no início do relato evangélico. Tenho para mim que isto deveria gerar em nós uma plena segurança de que o Evangelho não pode fracassar, visto que está fundamentado no próprio Deus Filho. John Charles Ryle(1994, p. 6) faz o seguinte comentário: “nisto repousa o infinito valor de sua morte na cruz. Nisso fundamenta-se o mérito peculiar de sua morte expiadora em favor dos pecadores. Essa morte não foi a de um mero homem como nós; pelo contrário, foi a morte dAquele que é ‘sobre todos, Deus bendito para todo sempre’(Rm 9.5)”.

E Agora?

Nisto, sem dúvida, reside a beleza da obra da redenção de homens que estão debaixo da ira de Deus, que estão em rebeldia pecaminosa contra Deus: Deus mesmo veio buscá-los! Leitor, nisto reside a suficiência de Jesus Cristo para nossa salvação: Ele é Deus e Homem! Deus não enviou anjos ou homens pecadores para redimir aos pecadores. Antes, Deus Pai enviou Seu Filho para verter seu sangue por pecadores por quem Deus está irado, mas que está disposto a perdoá-los. O Evangelho começa com a Divindade de Jesus. Por isso que, qualquer um, até mesmo um anjo vindo do céu, se anunciar outro Jesus ou outro evangelho, seja anátema, isto é, seja excomungado e maldito, pois diminuiu a sublimidade do Evangelho de Jesus Cristo.

Finalizo com as palavras do J.C. Ryle(idem): “Que os crentes apeguem-se a essa doutrina, com uma zelosa vigilância. Assim, com ela, estarão firmados sobre uma rocha. Sem ela, é como se nada sólido tivessem debaixo de seus pés. Nossos corações são fracos. Nossos pecados, muitos. Precisamos de um Redentor capaz de salvar totalmente e que nos livra da ira vindoura. Nós temos esse redentor em Jesus Cristo. Ele é o ‘Deus Forte’(Is 9.6)”

Postado por Gaspar de Souza

Um comentário:

Anônimo disse...

Eis aí a essência da pregação da Igreja. Não é preciso inventar fórmulas mirabolantes para se alcançar o coração do homem, basta a simplicidade das Boas-Novas.

Rev. Rogerio Mattos
I.P. ROÇADINHO - BA