quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Segundo Ateus: "Ateísmo faz melhores ladrões, assassinos e estupradores"


Por Gary DeMar

“Não responda ao tolo Segundo sua tolice, ou você será semelhante a ele. Responda ao tolo conforme sua tolice merece, para que ele não seja sábio aos seus próprios olhos. Os Ateus estão nisso novamente”(Provérbio 26.4,5)

Os Backyard Skeptics têm apresentado outdoors que dizem “Ateístas são melhores amantes”. O outdoor ateísta explica-nos por que os ateístas são melhores amantes. Não é devido ao amor, mas porque “ninguém está vigiando”. Por “ninguém” os ateístas querem dizer Deus.

Desde que não existe nenhum Deus que julga nosso comportamento, homens e mulheres, homens e cães, mulheres e cavalos, adultos e crianças podem fazer o que eles quiserem juntos. Se não existe um julgamento ou juízo final, tudo é bem-vindo.

Lembre-se que, se ninguém está olhando faz dos ateus melhores amantes, então eles podem também ser melhores espancadores de esposas, sádicos, ladrões, espancadores e estupradores.

Os Backyard Atheists têm adotado e adaptado a canção de John Lennon, “Imagine”, como hino ateísta:

Imagine there’s no heaven – Imagine que não exista paraíso
It’s easy if you try – é fácil se você tentar
No hell below us – nem exista inferno abaixo de nós
Above us only Sky – acima apenas ao céu
Imagine all the people living for today – imagine todas as pessoas vivendo o hoje
.

Desde que existe apenas o céu acima de nós, ou seja, nenhum Deus, você e eu podemos viver o hoje sem conseqüências associadas ao nosso comportamento.

Então, o que é verdade para o sexo, também é verdade para todo o restante. Dada a premissa de que ninguém (isto é, Deus) está nos vendo, que Adolf Hitler fez era errado? “Tiranos feitos melhores assassinos (afinal, ninguém está olhando)”. Dado o pressuposto exercido dos Backyard Skeptics, após a morte, Adolf Hitlter é pior do que o maior filantropo do mundo [N.T. p.ex. Madre Tereza de Calcutá]?[1] Não. Ninguém estará ali para julgar a ambos.

A cosmovisão dos Backyard Skeptics é explicitada suficientemente em umas poucas linhas do filme de ficção científica Pandorum (2009)

“Imagine só por um minute, imagine você sem as correntes de sua moralidade. Você ficaria surpreso com você. Isto é liberdade total”

O biólogo Randy Thomhill e o antropólogo Craig Palmer estabelecem a tese de que o estupro é natural, que é parte do processo evolucionário e é benéfico. Em seu livro A Natural History of Rape (2000), publicado pelo MIT Press, afirmam que o estupro humano “surge a partir de mecanismos evoluídos dos homens para obtenção de um alto número de parceira em um ambiente onde as fêmeas escolhiam seus parceiros”. Os homens estupram porque ajuda a espalhar seus genes. Ninguém pode se opor a isso em bases morais, nem mesmo as mulheres que são violentadas, desde que não há ninguém vigiando (julgando)

Os Ateus não podem explicar a moralidade. Eu não os acuso de serem imorais, mas eu os acuso de apropriarem-se[2] dos conceitos derivados da Cosmovisão Cristã, que eles denunciam, para viverem suas escolhas morais. Se no momento da morte, não somos mais do que poeira ao vento e na vida somos um saco de carne e ossos animados por impulsos elétricos, então não existe base para moralidade imutável na vida ou na morte.

O Ateísmo é uma cosmovisão guiada por fé em um sistema de pensamento supostamente gerado por um cérebro evoluído a partir de uma sopa química pré-biótica que, aleatoriamente, emite impulsos elétricos através de sua matéria cinza. Mas, como pode um materialista saber que um cérebro evoluído pode ser confiável para conhecer qualquer coisa de maneira autoritariamente ou afirmar que certos comportamentos são moralmente corretos ou errados dadas as hipóteses puramente materiais? C. S. Lewis assim colocou a questão:

Se o Sistema Solar for provocado por uma colisão acidental, então o surgimento de vida orgânica neste planeta também foi acidental, e a completa evolução do Homem foi também um acidente. Se é assim, então todo nosso processo de pensamento é mero acidente – o subproduto acidental dos movimentos do átomos. Isso vale para os materialistas e astrônomos, bem como para qualquer outra pessoa (processo do pensamento). Mas, se seus pensamentos – i.e, do Materialismo e Astronomia – são simplesmente subprodutos acidentais, por que deveríamos acreditar que eles são verdadeiros? Não vejo razão para acreditar que um acidente seria confiável para nos dar as pistas corretas de todos os outros acidentes[1]

Por que é “parte da natureza” quando uma águia canibaliza um dos seus filhotes e alimenta os seus filhotes mais fortes, mas é moralmente repreensível para uma mãe humana fazer o mesmo a um de seus próprios filhos?

Existe uma questão mais fundamental que raramente é perguntado. Como o puramente material gerou o imaterial (sabedoria, alegria, amor, esperança, lógica, razão, moralidade)?

Os Ateus em Londres Promovem Campanha Similar

Os ônibus de Londres têm sido equipados com banners com os seguintes dizeres: “Provavelmente Deus não Existe. Então, pare de se preocupar e curta a vida” [2]. Os patrocinadores esperam que a mensagem leve pessoas a questionar a existência de Deus. “Esta campanha de colocar slogans alternativos nos ônibus fará com que as pessoas pensem – e pensar é um anátema para a religião”, argumenta os promotores. “[Richard] Dawkins disse que como um ateísta ele ‘não seria louco’ em colocar que ‘provavelmente’ Deus não existe. [3] Ele quer que os anúncios digam que “Deus não Existe”

Se Deus não existe, então quem vai dizer o que constitui curtir a vida? Existem restrições em curtir a vida? Se existem, quem define essas restrições e por quê? Por qual padrão e por qual autoridade?

Duas jovens que participam numa confusão em Croydon, uma cidade no sul de Londres, Inglaterra, já se gabaram que elas estavam mostrando a polícia e aos “ricos que podemos fazer o que quisermos”. Elas diziam com calma e naturalidade. Richard Dawkins, com suas campanhas nos ônibus, tem contribuído para uma mudança na filosofia moral entre os jovens de Londres?

Pessoas foram roubadas. Comércios queimados. Reporters no Twitter afirmavam que algumas pessoas estavam sendo retiradas, enquanto outro vídeo chocante mostrava um adolescente sangrando sendo roubado em plena luz do dia por bandidos sem lei que pretendia ajudá-lo a ficar de pé. Eis como um jornal descreveu o que estava acontecendo: “Multidão Descontrolada Espalha Confusão em Londres”. Parece-me que isto não é nada mais do que a “sobrevivência do mais apto” da evolução em prática, especialmente desde que “ninguém está vendo”

Dawkins e seus seguidores ateus estão falando ao mundo que Não Existe Deus, então pare de se preocupar e curta a vida. Os bagunceiros estão curtindo a vida à custa dos outros, e quem é você ou qualquer outra pessoa para dizer que eles não deveriam curtir a vida do modo que eles querem aproveitá-la?

Notas

  1. C.S. Lewis, God in the Dock (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1970), 52–53. []
  2. See Gwynne Dyer, “The Atheist Buses” (February 8, 2009). []
  3. Atheists Plan Anti-God Ad Campaign on Buses” (October 23, 2008). []

Fonte: http://americanvision.org/5582/atheists-make-better-thieves-murderers-and-rapists/

Traduzido e adaptado por Gaspar de Souza



[1] Em outra pergunta: desde que não há quem esteja vigiando, quem é pior, Adolf Hitler ou Madre Tereza de Calcutá?

[2] O conceito de “borrowed capital” da apologética de Cornelius Van Til é aplicado aqui de modo claro. Veja aqui a definição: http://profgaspardesouza.blogspot.com/2011/04/um-glossario-vantiliano-parte-1.html

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Rumores indicam descoberta de manuscrito de Marcos do primeiro século


Sempre que uma descoberta é feita na área da arqueologia bíblica, todo cuidado é pouco. Geralmente estas descobertas podem ser obras de gananciosos falsários ou de pessoas que desejam a todo custo (mesmo às custas da mentira), provar que sua fé é verdadeira.

É dentro deste contexto que a mera menção da descoberta de um novo manuscrito de Marcos causa ceticismo. Isto de fato é bastante natural. Porém, dadas as circunstâncias, há uma grande possibilidade desta descoberta ser realmente verdadeira. Como devemos reagir a esta notícia?

Primeiramente, para definirmos nosso posicionamento com relação à notícia, devemos expor como ela foi dada. O anúncio deste manuscrito foi feito em um debate entre Bart Ehrman e Daniel B. Wallace. Este já é a terceira vez que um debate entre os dois acontece. Todos devem conhecer Bart Ehrman por livros como "O que Jesus Disse? O que Jesus Não Disse? Quem mudou a Bíblia e por quê" ou "Evangelhos Perdidos: As Batalhas pela Escritura e os Cristianismos que não chegamos a conhecer", que procuram demonstrar que não podemos ter certeza qual era o texto original das Escrituras (já fizemos uma pequena crítica de Ehrman aqui no blog). Por outro lado, Daniel B. Wallace é o autor da gramática intermediária de Grego Koiné mais usada nos seminários norteamericanos, e que recentemente foi traduzida para o português, Gramática Grega - Uma sintaxe exegética do Novo Testamento, além de dirigir o Center for que Study of New Testament Manuscripts, que se dedica a digitalizar e tornar disponível a todos os estudiosos os vários manuscritos bíblicos.

Neste debate, a pergunta direcionada a Bart Ehrman foi: Onde estão todos os primeiros manuscritos? Ele então teria respondido que nós não temos qualquer manuscrito antigo. Foi dentro deste contexto que Daniel B. Wallace respondeu que nós temos sim manuscritos bem antigos. Nós temos pelo menos 18 manuscritos do segundo século (seis dos quais foram recentemente descobertos), e um manuscrito do primeiro século. Pelas palavras de Daniel B. Wallace, este manuscrito foi recentemente descoberto, e se for realmente um manuscrito do primeiro século, teremos uma descoberta fantástica.

Os detalhes deste novo manuscrito estão sendo mantidos em segredo até o lançamento de um livro sobre ele, que será publicado pela E. J. Brill. Por este motivo, não temos ainda nada de concreto sobre esta nova descoberta. O que temos sobre o manuscrito é uma declaração do próprio Wallace, que diz em seutexto sobre o debate que Ehrman teria questionado a validade do manuscrito. Sobre isto ele teria respondido que um renomado paleógrafo havia estudado o manuscrito e definido esta data.

Temos apenas uma declaração sobre o manuscrito, e mesmo assim já há discussão sobre ela. Por exemplo, Timothy Michael Law em seu blog diz:
De qualquer forma a existência de um manuscrito é quase irrelevante a menos que ele dê alguma luz à história do texto, e pelo que se sabe, é incrivelmente difícil, se não impossível, definir uma data no primeiro século com base paleográfica: a linha entre o primeiro e o segundo século é muito embaçada.
O próprio Daniel B. Wallace já havia comentado sobre este ceticismo relacionado ao método paleográfico, ao discutir a datação do papiro P52 que traz o evangelho de João em um texto que está traduzido no site e-cristianismo:
A declaração do autor que “paleografia não é o mais efetivo método para datar textos” parece implicar que um melhor método está disponível para nós para este fragmento. Este não é o caso, como Nongbri admite. De fato, ele usa a paleografia para tentar desacreditar a datação-padrão deste fragmento! Mas ele não parece querer reconhecer o mesmo que P52 traz muito para a discussão a respeito da data de João. Sua conclusão que o papiro “não pode ser usado como evidência” para a data de João é certamente exagerada. Que a vasta maioria dos manuscritos do Novo Testamento é datada estritamente com bases paleográficas, e que há vários outros papiros de João tão antigos quanto o segundo século, sugere que o ceticismo de Nongbri é sem sentido.
Se a vasta maioria de manuscritos do Novo Testamento é datada com bases paleográficas, por que este manuscrito não poderia ser datado assim? Não é o uso ou não do método que deveria produzir questionamentos sobre a veracidade da data, mas as condições do manuscrito, evidências, etc... Precisamos ter acesso às informações relacionadas ao manuscrito para termos condições ou não de questionar esta data.

Temos portanto somente as palavras de D. Wallace. Há um bom tempo acompanho suas obras e sei como ele trabalha. Em sua gramática - por exemplo - ele gosta sempre de expor as explicações possíveis que um texto pode ter, para depois com base em evidências, apontar para a a melhor explicação. Quando há textos que ele acha difícil a decisão por uma interpretação, ele diz claramente. O mesmo pode ser observado nos artigos que ele escreve, que podem ser encontrados tanto no site e-cristianismo como em outros sites pela internet. Ele mesmo rejeita a identificação de 7Q5 como um pedaço do texto de Marcos com base em evidências. Ele demonstra ser bem cuidadoso em suas afirmações e sempre busca bases fáticas para elas. Assim, baseando-se na forma que ele trabalha, há uma boa expectativa de que o que ele afirmou neste debate seja verdadeiro. Pelo menos podemos acreditar que ele deve ter boas bases para concluir que o manuscrito encontrado seja realmente do primeiro século.

Como devemos reagir a esta notícia então? Obviamente, temos que esperar pelo relatório sobre o manuscrito. A forma de trabalho de Daniel Wallace só nos dá grandes expectativas, mas isto por si só não deve servir para nós de argumento. Somos obrigados a aguardar. Ansiosamente...

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Professor da Unicamp Fausto Castilho lança tradução de Heidegger

MARCIO AQUILES
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS


Em 1949, com o ar parisiense ainda saturado dos traumas do pós-Guerra, Fausto Castilho, então estudante de letras e filosofia na Sorbonne, dirigiu-se a uma livraria à cata de uma edição de "Sein und Zeit", de Martin Heidegger.

Conseguir "Ser e Tempo", a grande obra do filósofo alemão, que maculara seu nome ao aderir ao regime nazista, não era das coisas mais fáceis na França daqueles tempos.

Castilho achou, em uma livraria próxima ao seu apartamento, um exemplar da "edição nazista", de 1941, que teve a dedicatória a Edmund Husserl eliminada --pai da fenomenologia e professor de Heidegger, Husserl era judeu.

Desde então, Castilho, 82, vem traduzindo "Ser e Tempo". Sua versão dessa obra fundamental sai em maio, pela editora Unicamp em parceria com a Vozes.

Alessandro Shinoda/Folhapress
Retrato do professor da Unicamp, Fausto Castilho, que está lançando tradução de "Ser e Tempo"
Retrato do professor da Unicamp, Fausto Castilho, que está lançando tradução de "Ser e Tempo"

PERCURSO FILOSÓFICO

Fausto Castilho chegou a Paris aos 18 anos, falando francês fluente e munido de uma carta de recomendação escrita pelo crítico literário Antonio Candido.

Amigo de Candido, o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977) o recebeu e providenciou sua nova residência, na praça da Sorbonne. "Ele me disse: 'Você agora vai ficar prisioneiro desse recinto'. Dito e feito."

Na instituição francesa, teve entre seus professores Merleau-Ponty, Jean Piaget e Gaston Bachelard, que naquele momento já haviam publicado ou estavam por publicar textos de importância seminal para seus campos.

"Quando Merleau-Ponty soube que Heidegger voltaria a lecionar em Friburgo, disse que eu deveria ir para lá fazer seu curso, e eu fui", afirma.

Na Alemanha, conta, "sentava na primeira fila". "Mas a presença física de Heidegger não era agradável, pois eu ficava me lembrando do [seu passado na universidade como] reitor nazista".

O primeiro contato de Castilho com a obra de Martin Heiddeger fora ainda antes de sua ida à Europa, por meio de uma edição da revista francesa "Les Temps Modernes" que tratava do alinhamento do filósofo ao ideário nazista.

"Heidegger carrega essa ambiguidade. Desde a minha adolescência ele representa para mim essa dicotomia de ser um filósofo excepcional, mas que aderiu ao nazismo."

COMITÊ DE APROVAÇÃO

A fim de conseguir a aprovação do comitê Heidegger --chefiado por seu filho
Hermann-- para uma nova publicação, foram encaminhadas à Alemanha traduções que Castilho tinha feito de Kant e Descartes, para demonstrar seu apuro técnico.

A edição bilíngue, que Castilho diz acreditar ser a única em idiomas ocidentais, está em processo final de revisão.

"Traduzir esse livro exige uma confissão de modéstia. Vejo o trabalho como uma sugestão de leitura numa língua que não é a do autor."

Ao longo dos anos, Castilho leu todas as traduções disponíveis em inglês, italiano, espanhol e francês.
"Naturalmente eu fui me apropriando de algumas soluções propostas por todos eles. Uma tradução é algo aproximado", diz.

Entre as dificuldades de transpor o texto para o português, Castilho cita as especificidades de alguns conceitos heideggerianos.

Ele critica a "liberdade filosófica" que introduz "transformações radicais" --mesmo se, para um leigo, essas transformações possam parecer sutis, como a inclusão de artigos no título, mudando-o para "O Ser e O Tempo".

O rigor que Fausto Castilho demonstra e sua posição de ex-aluno do alemão dão peso à nova tradução.
Na academia, ele é um intelectual respeitado, com passagens como professor pela USP, Unesp e Unicamp.
No Brasil, como em seu período europeu, Castilho continuou tendo contato com artistas e intelectuais que moldaram seu meio no século 20.

Em 1960, quando o francês Jean-Paul Sartre estava no Recife, Castilho encaminhou ao filósofo uma pergunta sobre a relação entre teoria e prática em sua obra. Sartre afirmou precisar de um seminário para respondê-la.

"Ele fez questão de responder à minha pergunta pessoalmente em uma conferência, que ele preparou na biblioteca de meu apartamento. E olha que Simone de Beauvoir não queria ir a Araraquara."


Fonte: Folha Online