quarta-feira, 16 de setembro de 2009

AS ESCRITURAS, DEUS E A LÓGICA

Já faz algum tempo que havia lido o artigo do Craig Hawkins sobre as Escrituras e a Lógica. Hoje recebi o artigo por e-mail. Achei que poderia colocá-lo aqui no blog para acesso dos leitores. Como já tenho autorização do amigo Felipe Sabino (lá do excelente Monergismo), então resolvi postar aqui. É um longo artigo, por isso vou colocá-lo em partes. Você pode ler o artigo todo no link acima ou abaixo. Vale a pena ler. Então, descubra um pouco mais sobre as Escrituras, Deus e a Lógica.
____________________________

Deus e Lógica (Parte 1)

Craig S. Hawkins

Tradução de Marcelo Herberts

Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças.

- Marcos 12:30 NVI

1. O Exemplo Supremo de Cristo:

A. O emprego da evidência objetiva:

1. Se Jesus, Deus o Filho, a segunda pessoa da Trindade, empregou evidência objetiva para validar, a fortiori, suas reivindicações, tanto mais isso vale para você e para mim!

2. Marcos 2:1-5-12

3. João 2:18-21

4. João 10:30-31-32-33, 37-38

5. João 15:24-25

6. João 20:24-29

B. O emprego da razão (argumentação):

1. Mateus 12:24-30

1. Argumento da analogia (vv. 25-26)

2. A lei da inferência lógica ou racional (v. 26)

3. Reductio ad absurdum (vv. 25-26)

4. Argumento da analogia (v. 27)

5. A lei da inferência lógica ou racional (vv. 28, 29)

6. Argumento da analogia (v. 29)

7. A lei da contradição (v. 30)

8. A lei do terceiro excluído (v. 30)

2. Os Apóstolos:

A. O emprego da evidência objetiva:

1. Pedro: Atos 2:14-32-39; 3:6-16; 4:8-14-20

2. Paulo: Atos 26:26; 1 Coríntios 15:1-8

3. O apelo ao testemunho ocular objetivo: Lucas 1:2-4; João 1:14; 19:31-35-36;

20:24, 30-31; Atos 1:1-3; 3:6-16; 4:8-14-20; 9:3-8, 17; 22:6-9, 14; 26:12-18, 26; 1

Coríntios 15:1-8; 2 Pedro 1:16; 1 João 1:1-3, e assim por diante.

4. O emprego da razão-racionalidade:

1. Paulo: Atos 17:2-3, 11, 17, 22-31; 18:4, 19; 19:8-9; 26:25; 1 Timóteo 6:20

2. Apolo: Atos 18:27-28

Nota: Ordenado por Deus!

5. Dialegomai é o termo grego usado nas passagens acima.

6. Dialegomai: argumentar, disputar ou arrazoar. BAG: “discutir, conduzir uma discussão… de ensaios que provavelmente terminariam em discussões…” Vine:

“pesar diferentes coisas, ponderar’; então, com outras pessoas, ‘conversar, argumentar, disputar’” … “’disputar com outros…’” (veja Atos 17:2, 17; 18:4, 19; 19:8-9; Judas 9).

7. Como considerando ou pesando a evidência do preço da caminhonete de uma pessoa em relação à de outra: característica por característica (velocidade 4 vs 5, cavalos de potência, assentos, som, dólar por dólar)

3. O Valor da Mente Orientada por DEUS

A. Isaías 1:18; Marcos 12:29-31; Atos 26:25

1. Somos criados na imago Dei – à imagem de Deus. Isso inclui, entre outros atributos, a capacidade de raciocinar.

2.Assim, resulta disso o valor da evidência e da razão. Como Charles Hodge nos diz: “Se o conteúdo da Bíblia não corresponde às verdades que Deus tem revelado nas obras exteriores e na constituição da nossa natureza, ela não poderia ser recebida como vinda dEle, pois Deus não pode se contradizer. Nada, portanto, pode ser mais aviltante à Bíblia do que a asserção de que suas doutrinas são contrárias à razão. A suposição de que a razão e a fé são incompatíveis; que precisamos nos tornar irracionais a fim de nos tornarmos crentes, é, como quer que seja pretendida, a linguagem da infidelidade; pois a fé no irracional é necessariamente em si mesma irracional… Podemos crer apenas no que conhecemos, i.e., naquilo que inteligentemente apreendemos.”1

4. Empregos da Lógica/Razão

A. Emprego Ministerial da Razão

Trata-se do uso da lógica/razão como serva ou “criada” da Bíblia e da teologia. A Lógica/Razão não é colocada no mesmo patamar ou acima da Bíblia, mas ocupa um papel subordinado à revelação de Deus. É esse o papel da razão que aqui defendo.

B. Emprego Magistral da Razão

Esse é o emprego da lógica/razão no mesmo patamar ou mesmo acima da Bíblia. Aqui, lógica/razão (de um indivíduo ou de um grupo) é supostamente o juiz, árbitro ou autoridade final da verdade. Não é esse papel da razão que eu estou defendendo. Trata-se de um uso incorreto – abuso – da razão.

C. Antiintelectual

Essa é a posição de rejeição ou negação completa do papel da razão/lógica na apologética e nos outros pontos do Cristianismo. Infelizmente essa é a visão que muitos cristãos, intencionalmente ou não, defendem.

5. Deus nos deu uma mente e espera que a usemos (Marcos 12:29-31)

A. Não é verdade que a mente é uma coisa terrível, “e, portanto, desperdicemo-la”.

B. A natureza emocional da humanidade é tão caída quanto o seu intelecto. Então, igualmente, não devemos exaltá-la na conversão.

C. Se formos glorificar a Deus enquanto cristãos e compartilhar o Evangelho com outras pessoas, não devemos ignorar ou desconsiderar de forma não-escriturística a importância da mente na pregação do Evangelho.

D. Trata-se realmente de uma forma de falsa humildade ou espiritualidade, e deveria ser denunciada pelo que ela é – não-bíblica e ofensiva a Deus!

6. Definição de Lógica

A. Antes de avançar, precisamos definir lógica.

1. “Lógica é o estudo dos métodos e princípios empregados para distinguir os raciocínios bons (corretos) dos ruins (incorretos).” 2

2. É o estudo das leis ou princípios do pensamento ou raciocínio, não sendo meramente reflexão ou pensamento per se, mas o tipo de reflexão ou pensamento que chamamos de raciocínio. Irving Copi fala que “A distinção entre raciocínio correto e incorreto é o problema central com o qual se ocupa a lógica.” 3

3. Norman Geisler e Ronald Brooks nos dizem que “Lógica é o estudo da razão sólida ou das inferências válidas e das falácias presentes, formais e informais.” 4

(ênfase no original).

7. A Natureza e a Necessidade da Lógica

A lógica é inegável, inevitável, auto-evidente ou auto-explicativa. Ninguém pode não usá-la. Uma pessoa deve usá-la a fim de rejeitá-la. Todas as reivindicações para sua rejeição são auto-contraditórias, refutadas ou auto-invalidáveis. As quatro leis ou princípios da lógica/razão são inestimáveis! Nós precisamos conhecer e fazer uso devido da lógica. Nós precisamos treinar a nós, aos nossos filhos e a igreja a usar a lógica corretamente.

A. A Inevitabilidade da Lógica

Por maior que seja a retórica de alguém contra a lógica, ninguém pode deixar de usar a lógica. É impossível pensar ou envolver-se em qualquer tipo de diálogo coerente e não usar a lógica. As leis ou princípios da lógica são o que se chama primeiros princípios – primeiros princípios de epistemologia. A lógica é indispensável por pelo menos cinco razões.

1. Os princípios primários ou leis da lógica/razão são primeiros princípios de epistemologia.


a. Peter Angeles explica, entre outras coisas, que primeiros princípios são “Declarações (leis, razões, regras) auto-evidentes e/ou fundamentais para a explicação de um sistema e aquilo de que depende o sistema para ser consistente e coerente.” 5


b. Isto é, não há proveito “por trás” ou “em torno deles”.


c. São axiomáticos ou auto-evidentes.


d. Isto é, nós não podemos não usá-los (veja pontos 2 e 3).


2. Segundo, a própria distinção entre verdadeiro e falso, ou aplicável ou não aplicável, somente existe ou tem sentido se a lógica é verdadeira ou aplicável. Sem a lógica (e.g., a lei da não-contradição) não existiria tal coisa ou conceito de verdadeiro ou falso. Então, não poderiam ser declarações verdadeiras ou falsas em primeiro lugar, assim como a lógica não é verdadeira ou falsa em sua aplicação num dado contexto. Isso porque a lei da (não-) contradição “… em si traça a linha entre verdadeiro e falso. Assim, não podemos chamá-la de falsa sem já não assumirmos a sua veracidade (Geisler e Brooks, 16)”. O mesmo é verdadeiro com respeito às outras leis da lógica. Como Geisler e Brooks nos dizem:


A lógica é erigida sobre quatro leis inegáveis. Não há como “ficar por trás” dessas leis para explicá-las. Elas são auto-evidentes e auto-explicativas. Igualmente, não há como contorná-las. A fim de rejeitar qualquer dessas declarações, a pessoa deve assumir o próprio princípio que busca negar. Mas se você precisa assumir que algo é verdadeiro para dizer que é falso, não conseguiu um caso muito bom, não é? Por exemplo, segundo a lei da não-contradição (A não é não-A) duas declarações contraditórias não podem ambas ser verdadeiras ao mesmo tempo e no mesmo sentido. Ora, se alguém tentou negar isso e disse “A lei da não-contradição é falsa”, ficou com um problema. Sem a lei da não-contradição não há tal coisa como verdadeiro ou falso, pois essa lei em si traça a linha entre verdadeiro e falso. Assim, não podemos chamá-la de falsa sem já assumir que ela é verdadeira. O mesmo se dá quando alguém tenta negar as outras leis: a lei da identidade (A é A), a lei do terceiro excluído (A ou não-A), e a lei da inferência racional (ênfase no original). 6


3. Terceiro, além do mais, o significado de uma declaração (sem falar da sua significância ou veracidade) depende da lógica. Se a lógica não é verdadeira ou aplicável ao tópico em questão, a declaração é sem sentido. Uma declaração muito significativa ou com significância existe apenas porque a lógica é verdadeira ou aplicável. De outro modo, a declaração poderia ou de fato seria verdadeira e não verdadeira ou aplicável e não-aplicável, dado que não seria mais verdadeiro que declarações não podem ser verdadeiras e não-verdadeiras (falsas) ao mesmo tempo e no mesmo sentido. Então, alguém poderia muito bem dizer que “lógica é verdadeira ou aplicável ao tópico em questão” no mesmo fôlego que faria a declaração anterior, ou “Eu verei você na quarta e não verei você na quarta” etc.


Assim, negar a lógica ou declarar que ela não é verdadeira ou aplicável somente tem sentido se a lógica se aplica à declaração original. Mas isso refuta a alegação original.

Portanto, qualquer declaração ou reivindicação somente tem sentido, significado ou veracidade a fortiori, se e apenas se a lógica se aplica ou é verdadeira. Logo, a alegação que “a lógica não é verdadeira ou aplicável” é sem sentido a menos que a lógica seja verdadeira, mas nesse caso a alegação original é falsa, de fato, autorefutável.

4. Quarto, para negar ou tentar refutar a necessidade pela lógica, a necessidade da lógica, ou a veracidade da lógica, a pessoa deve primeiro usá-la, assim contradizendo a sua afirmação original. Ela precisa usar a lógica na tentativa de refutá-la ou mesmo negá-la. Se ela precisa usar a lógica no esforço de refutá-la, o argumento é evidentemente não-verdadeiro. Com isso ela tem apenas provado a veracidade e a aplicabilidade da lógica (ironicamente, na própria tentativa de refutar essas duas coisas).


a. Negar a lógica ou dizer que ela é falsa ou não-verdadeira ou aplicável num dado contexto, requer o uso da lógica na própria asserção (assim, é verdadeira e aplicável). É como uma pessoa que diz “Eu não posso falar uma palavra em português”. Mas ela acabou de fazê-lo. Ela deveria deixar de falar português ou se retratar da declaração original. A declaração original é falsa, de fato auto-refutável.


b.Outros exemplos de alegações dessa natureza:

i. “A lógica não se aplica a esse assunto.”

ii. “Este assunto, visão ou domínio, está ‘além’ da lógica.” A idéia é que o alcance da lógica simplesmente não se estende a esse assunto.

iii. “Isso não é nada mais que um preconceito ou perspectiva ocidental contra a oriental ou aristoteliana, sobre a lógica. A idéia é que alguém está insistindo pela perspectiva de uma cosmovisão ocidental, ao passo que ignora, age em detrimento de uma visão mística ou oriental.

iv. “Essa é a perspectiva “espiritual” contra a mundana.”

v. “Trata-se apenas do domínio da racionalidade ou lógica contra o domínio da emoção.”

vi. “Trata-se do ponto de vista de um estado de consciência normal contra um estado de consciência alterado.”

vii. “Trata-se do caso de uma divergência entre este plano ou nível da realidade ou existência e outros planos.”

viii. “Trata-se apenas de uma divergência entre esse nível de significado e outros níveis.”

ix. “A lógica não é verdadeira.”

x. Essa é uma perspectiva moderna versus pós-moderna.

xi. Todas essas alegações são baseadas na lógica em primeiro lugar.


c. A lógica é inegável; não é possível não usá-la.


d. Assim, negar a lógica ou asseverar que ela não é verdadeira (i.e., falsa) ou aplicável, é algo que em si mesmo baseia-se na lógica. A declaração ou distinção é construída ou declarada debaixo da lógica. A lógica teve de ser empregada na formulação da declaração. A declaração “a lógica não se aplica” envolve a distinção “a lógica não se aplica” versus “a lógica se aplica”. Contudo, é possível fazer essa distinção apenas por causa das leis da lógica. Assim, a lógica é – precisa ser – verdadeira ou aplicável. Mas isso é auto-refutável ou refuta a alegação original.


5. Quinto, não é possível deixar de usar a lógica no mundo real. Tente se deslocar de carro até o armazém negando a validade da lógica. (De fato, qual armazém? Aquele que está e que não está ali?) Uma pessoa não pode atravessar os trilhos do trem sem ela. Da próxima vez que você estiver cruzando um trilho, com um trem aparentemente reduzindo a velocidade na linha, imagine-se pensando que o trem está e não está ali. Você faria isso? Não! Tente isso no mundo “real”. A lógica é necessária, indispensável na vida. Uma pessoa não pode literalmente viver (por muito tempo) sem ela!

a. Exemplo: Francis Schaeffer, o estudante hindu e o bule de chá…

b. Exemplo: O cientista cristão que tenta lhe dar um livro que não está aí…

c. Exemplo: O hindu ou o cientista cristão, que olha para os dois lados antes de atravessar a rua… Por que eles olham para os dois lados antes de atravessar a rua?


B. Auto-refutável

1. Todas as tentativas de negar ou refutar a lógica fracassam. Elas são asserções falsas (de fato sem sentido ou absurdas), auto-contraditórias ou auto-invalidáveis.

2. Os termos de uma declaração ou proposição que não cumprem ou satisfazem a si mesmas – seus próprios critérios ou exigências (ou aceitabilidade), 7 incluem:

auto-anulação, auto-refutação, auto-invalidação, absurdo auto-referenciado ou absurdidade auto-referenciada. Exemplos de alegações auto-refutáveis incluem:

a. Uma pessoa dizendo “Eu creio e não creio na lógica” ou “a lógica é e não é verdadeira” (ao mesmo tempo e no mesmo sentido).

b. Uma pessoa dizendo “eu sou e não sou ateu”.

c. Uma pessoa que alega “crer e não crer no pós-modernismo” ou “crer e não crer que o pós-modernismo é verdadeiro”.

d. Uma pessoa dizendo “eu sou e não sou aderente da Nova Era” ou “eu sou e não sou neo-pagão”.

e. Uma pessoa dizendo “eu sou e não sou cristão”.

f. Uma pessoa dizendo “Jesus é e não é Deus” (a segunda pessoa da Trindade).

3. As alegações absurdas expostas acima são lógica e ontologicamente equivalentes às alegações que:

a. Uma pessoa que acredita em “círculos quadrados”.

b. Uma pessoa escrevendo “Eu não posso escrever uma palavra em português”.

c. Uma pessoa dizendo “Todas as declarações que eu faço são falsas”.

d. Uma pessoa reivindicando que “todas as sentenças contendo mais de cinco palavras são falsas”.

e. Uma pessoa exprimindo “Eu somente irei crer naquilo que pode ser provado pelo método científico!”

f. Uma pessoa dizendo “meu irmão é filho único.”


4. Ronald Nash diz: “… uma negação da lógica tem conseqüências não apenas para a epistemologia e para a metafísica, mas também para a ética. Se todas as asserções são verdadeiras, não existe diferença entre caminhar até uma cidade vizinha e caminhar sobre um despenhadeiro; entre tomar leite e ingerir arsênio. Mas obviamente diferença.8


5. Assim, se a lógica não é verdadeira ou transculturalmente aplicável, A pode ser não-A ao mesmo tempo e no mesmo sentido, e assim, por exemplo, a posição pós-moderna é igual à cristã ortodoxa. Ou, que o pós-modernista não defende o pósmodernismo.

Mas mesmo o pós-modernista acredita nisso. Ele acertadamente asseveraria nesse caso que a sua visão não é a nossa visão – e esse é o porquê de estarmos discutindo com ele em primeiro lugar. Ele também não declararia que mantém e não mantém premissas do pós-modernismo. Isso é absurdo, mas é o que sucede quando alguém nega a aplicabilidade universal e a veracidade da lógica. Pela graça de Deus precisamos tentar ajudar os pós-modernistas e outros que negam a validade universal da lógica a perceberem as implicações das suas visões.


C. A lógica é a camisa de força da vida para aqueles que argumentam insanamente ou, pelo menos mentalmente, recusam-se a viver no mundo real!


D. Uma pessoa não pode nem mesmo atravessar a rua, sem falar na via metafísica, sem usar a lógica.


E. A lógica é indispensável – ponto. Além do mais, é uma ferramenta incalculável para desmantelar as visões não-cristãs. Precisamos conhecer a lógica e tornarmo-nos competentes em seu uso.


F. Os três “Cs” da Lógica:

Nós não podemos compreender, sem falar em confirmar e sem falar em conformar (sujeitar) os nossos pensamentos e vidas à revelação de Deus, sem o emprego da Lógica.


1. Compreensão (ou Apreender)

Se uma pessoa não pode apreender o conteúdo do Evangelho, certamente não pode entendê-lo, e a fortiori não pode crer nele!

a. Declarações e crenças ilógicas ou auto-contraditórias são incompreensíveis no sentido de serem absurdas. Não se crê em asserções absurdas, sejam religiosas ou “seculares”. São vistas e rejeitadas com base

no que são – absurdas.

b. Segue, portanto, que razão e lógica são necessárias para proposições racionais e inteligíveis, que são uma pré-condição necessária para a comunicação da verdade às pessoas. A verdade precisa ser lógica para ser apresentada à mente de uma pessoa na forma de reflexões inteligíveis, e assim possa ser acatada ou rejeitada. Como Charles Hodge colocou com precisão:

Em primeiro lugar, a razão é necessariamente pressuposta em toda revelação. Revelação é a comunicação da verdade à mente. Mas a comunicação da verdade presume a capacidade de recebê-la. A revelação não pode ser feita a estúpidos ou idiotas. Verdades, para serem recebidas como objetos de fé, precisam ser intelectualmente apreendidas… O primeiro e indispensável ofício da razão, portanto, em matéria de fé, é a cognição ou apreensão inteligente das verdades apresentadas à nossa percepção. 9


2. Confirmação

a. Uma vez que Deus não se contradiz ou pede que creiamos em contradições ou naquilo que é inerentemente auto-contraditório (veja, e.g., 1 Timóteo 6:20), as revelações que dEle procedem não irão contradizer revelações previamente dadas, ou mesmo os processos de raciocínio sólido para compreensão dessas revelações. Hodge nos diz: Se o conteúdo da Bíblia não correspondesse às verdades que Deus nos tem revelado em suas obras exteriores e na constituição da nossa natureza, não poderia ser recebido como vindo dEle, pois Deus não pode se contradizer. Nada, portanto, pode ser mais aviltante à Bíblia do que a idéia de que as suas doutrinas são contrárias à razão. A suposição de que a razão e a fé são incompatíveis; que nós precisamos nos tornar irracionais a fim de nos tornarmos crentes, é, não importa como for pretendido, a linguagem da infidelidade; pois a fé no irracional é por necessidade em si mesma irracional… Nós podemos crer somente no que conhecemos, i.e., naquilo que apreendemos com inteligência. 10

b. Assim, num sentido, a razão é o purgante apropriado para julgar a probidade de uma dada revelação. Isto é, antes que uma dada revelação de Deus seja aceita, nós precisamos discernir se de fato ela provém dEle. Novamente, Hodge falou conclusivamente sobre essa questão: É impossível que Ele exigisse de nós crermos naquilo que contradiz alguma das leis da crença que Ele imprimiu na natureza [i.e., as leis do pensamento ou da lógica 11]… A fé inclui uma afirmação da mente de que algo é verdadeiro. Mas é contraditório dizer que a mente pode afirmar ser verdadeiro aquilo que ela percebe que não é possível ser verdade. Isso seria afirmar e negar, crer e não crer, ao mesmo tempo… O último terreno da fé e do conhecimento é a confiança em Deus. Nós não podemos crer e conhecer qualquer coisa a menos que confiemos nessas leis de crença que Deus implantou em nossa natureza. Fosse o caso de se exigir de nós crermos naquilo que contradiz essas leis, os fundamentos seriam desintegrados. Todas as distinções entre certo e errado desapareceriam… e nos tornaríamos vítimas de qualquer enganador astuto, ou ministro de Satanás, que, por operar maravilhas, nos intimaria a crer em sua mentira. 12

c. Deve ser evidente que a fé é inerentemente racional. Sua própria natureza exige isso. 13 Além do mais, uma vez que a fé em Cristo é autocomprometimento com a verdade, necessariamente seu conteúdo ou aquilo que é crido corresponde à realidade, bem como é consistente ou não-contraditório.

Assim, preenche os requisitos dos dois primeiros testes da verdade (as teorias da correspondência e da coerência da verdade).

Lembre-se, é-nos dito que somos salvos porque cremos na verdade (veja, e.g., João 18:37; 2 Timóteo 2:13), e que, por outro lado, aqueles que não crerão na verdade estão perdidos (veja, e.g., 2 Timóteo 2:10-11).

3. Conformação

Nós devemos conformar os nossos pensamentos e vidas à revelação de Deus. Mas não podemos fazer isso sem empregar a lógica. Por exemplo, nós não podemos dizer que “Cristo é Deus e não-Deus” ou que “nós pecamos e não pecamos”.

G. Pensadores Cristãos Remetendo ao Ponto de Vista Bíblico Sobre a Lógica 1. Diversos pensadores cristãos influentes resumiram bem o ensino bíblico sobre a lógica. Eu gostaria de citar alguns deles (em adição às notas prévias de Charles Hodge) para uma posterior conformação.

2. Por exemplo, Carl F.H. Henry lembra: “… As Escrituras afirmam que Deus é a fonte e o fundamento da razão e da verdade, e que a imago Dei na qual Ele criou e mantém a humanidade inclui as capacidades racionais e morais.14

Henry também escreve com critério:

As leis da lógica não são um pré-julgamento especulativo fixado num dado momento da história na forma de um desenvolvimento filosófico transitório. Nem implicam uma forma ocidental de pensar, ainda que Aristóteles possa tê-las estabelecido de forma ordenada. As leis da inferência válida são universais; são elementos da imago Dei. Na Bíblia a razão tem valor ontológico. Deus é em si a verdade e a fonte da verdade. O Cristianismo bíblico assume o Logos de Deus como a fonte de todo o significado, e considera as leis do pensamento um aspecto da imago… A abordagem pluralista em favor das religiões do mundo, hoje, freqüentemente advoga a necessidade de se reformar o Evangelho em outra coisa que não “as formas de pensamento ocidentais” e em “lógicas” nãoocidentais, como se a lógica fosse uma invenção aristotélica. Tal ênfase geralmente relativiza a teologia cristã, substituindo-a por uma filosofia não-bíblica com aparência de missão cristã. 15


3. R.C. Sproul, John Gerstner e Arthur Lindsley igualmente notam:

Biblicamente, a contradição é a marca registrada da mentira. Sem esse teste formal de falsificação, as Escrituras (e quaisquer outros escritos) não teriam meios de distinguir a verdade da falsidade, a retidão da maldade, a obediência da desobediência, Cristo do anticristo.” 16

Sproul, Gerstner e Lindsley também declaram corretamente (contra o pósmodernismo):

“A lei da não-contradição, enquanto pressuposição ou pré-requisito necessário para a vida e o pensamento, não é arbitrária nem subjetivista. É universal e objetiva. O que é subjetivo e arbitrário é a sua negação temporária e forçada.” 17


4. Arthur Holmes responde:

“… a lei da não-contradição é uma condição universal ao pensamento inteligível. A famosa ‘prova negativa’ de Aristóteles mostra isso por reclamar que a pessoa que nega a lei pratica a sua negação no discurso. Declarações ininteligíveis podem ser possíveis sem ela, como falar de um círculo quadrado, mas declarações ininteligíveis dificilmente qualificam-se como reflexão ou discurso inteligível. Onde é ignorada essa lei da lógica, toda lógica e inteligibilidade se foram. 18

Holmes também ressalta:

“O pensamento está sujeito às leis da lógica, pois eu não posso me contradizer e falar com sentido, sem falar em construir uma linha válida de um argumento. Boa lógica é uma das dádivas de Deus, e é essencial para o pensamento neste e em qualquer outro mundo.” 19


5. Por último consideramos a visão de Agostinho:

A natureza real das conclusões lógicas não é arranjada pelos homens; antes, eles examinaram e tomaram conhecimento dela, e assim se tornaram aptos a estudar ou ensiná-la. Isso é eterno na ordem das coisas, e divinamente ordenado.” 20

Fonte: http://www.monergismo.com/textos/apologetica/Deus_logica_craig-hawkins.pdf

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