Dr. Joseph R. Nally[1]
Traduzido por Gaspar de Souza
Pergunta: Mateus 11. 20 – 24 ensina o Molinismo (Conhecimento Médio)?
Resposta:
Ao teólogo
Jesuíta Luis de Molina é, geralmente, atribuído a posição e origem do
Molinismo, embora Fonseca e Lessius compartilhem das mesmas ideias. Eles usam
textos tais como Mateus 11 para mostrar que Deus tem “Conhecimento Médio”. Em
nossos dias, William Lane Craig afirma o mesmo, e a [denominação] The Baptist
Faith and Message parece resumir o Molinismo: “O perfeito conhecimento [de
Deus] se estende a todas as coisas, passadas, presentes e futuras, incluindo as
decisões futuras de suas criaturas livres”(Artigo 2)
O
Molinismo, em poucas palavras, declara que Deus tem três tipos de conhecimento:
natural, médio e livre.
1) Conhecimento
Natural é o conhecimento de Deus de todas os mundos possíveis (tudo que diz
respeito ao que é necessário e possível no entendimento de Deus)
2) Conhecimento
Livre é o conhecimento de Deus deste mundo atual. Por um “ato livre”, ele é
capaz de conhecer o que ele conhece absolutamente(Até agora estamos bem, mas
Molina diz que esse conhecimento (livre) não é alguma coisa que seja essencial
em Deus)
3) O
Conhecimento Médio declara que Deus não pode conhecer os atos livres futuros
dos homens da mesma maneira que ele conhece outras coisas absolutamente.
Assim, de
acordo com Molina, este Conhecimento Médio é dependente dos atos livres que os
homens farão. Portanto Deus, em sua onisciência, espera pelo atos dos homens e,
então, escolhe salvá-los com base em suas escolhas de serem salvos.
Agora,
voltemos ao texto da questão (que está entre outros textos-provas de Êxodo
13.17; 1 Samuel 23.8 – 14; Jeremias 23.21, 22; 1 Coríntios 2.8)
Mateus
11. 20 – 24: Então começou ele a lançar
em rosto às cidades onde se operou a maior parte dos seus prodígios o não se
haverem arrependido, dizendo: Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque, se
em Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito
que se teriam arrependido, com saco e com cinza. Por isso eu vos digo que
haverá menos rigor para Tiro e Sidom, no dia do juízo, do que para vós. E tu,
Cafarnaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos; porque,
se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela
permanecido até hoje. Eu vos digo, porém, que haverá menos rigor para os de
Sodoma, no dia do juízo, do que para ti.
Primeiro,
o Conhecimento Médio é uma não-realidade. O conhecimento de Cristo é
simplesmente natural (conhecimento de Deus de todos os mundos possíveis), não
médio.
Segundo, Mateus
11 apenas prova o conhecimento de Deus de contrafactuais, não conhecimento
médio. Como Travis Campbell, e Conhecimento Médio: Uma Crítica Reformada
declara:
Na melhor
das hipóteses, as passagens frequentemente usadas pelos defensores do
conhecimento médio provam, se provam alguma coisa, apenas “que Deus, conhecendo
todas as causas, tanto as livres como as necessárias, sabe o que qualquer
criatura fará em quaisquer condições. Mesmo nós sabemos que se pusermos fogo à
pólvora, seguir-se-á uma explosão.”(A.A. Hodge, Outlines of Theology [Carlisle,
Pa.: Banner of Truth, 1972], 148). Em outras palavras, essas passagens bíblicas
nos mostram apenas que Deus conhece a natureza dos agentes livres tão bem que, fossem
os agentes colocados em outras circunstâncias, Deus sabia exatamente que eles
fariam. E isso não reconcilia conhecimento médio com libertarianismo, mas com
compatibilismo. Mais importante ainda, é certamente possível que Deus conhece
esta informação logicamente apenas posterior ao decreto divino, eliminando assim
a necessidade do conhecimento médio. Portanto, há pouca, se há alguma, garantia
bíblica para scientia media.
Bastante
interessante, Craig admite este ponto, dizendo:
Desde que
a Escritura não reflete sobre esse
assunto, quase nenhum texto-prova pode provar que o conhecimento de Deus de
contrafactuais é obtido logicamente antes de seu decreto divino. Isto é assunto
para reflexão da teologia filosófica, não para exegese bíblica. Então, embora
seja claramente anti-bíblico negar que Deus tenha conhecimento simples e mesmo
conhecimento de contrafactuais, aqueles que negam o conhecimento médio não pode
ser acusado de ser anti-bíblico((Craig, "Middle Knowledge View,"
125.)
Terceiro,
os defensores do Conhecimento Médio não podem deixar de fora, como Paul Harvey
diria, “o resto da história”
Mateus 11.25
– 27: Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do
céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as
revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve. Todas as coisas
me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e
ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
O
Conhecimento Médio aqui é condenado. Quando Jesus diz, “Pai, Senhor do céu e da
terra”, ele está dizendo que Deus em sua soberania tinha, em seu agrado,
ocultado conhecimento de alguns e revelado esse mesmo conhecimento a outros.
Mateus 11 não fala sobre Deus não conhecendo qualquer coisa até que o homem
fizesse alguma coisa. Pelo contrário, já as conhece e apenas não quer
revelá-las até/se ele desejar. Mateus capítulo 11 está ensinando sobre o justo
julgamento porvir (Mt 11.15 – 19). Observe que isso não aconteceu ainda,
mas Cristo sabe que irá acontecer. Isto não
é conhecimento médio, mas conhecimento natural e conhecimento livre para justamente
agir como Deus vê e prepara segundo sua vontade.
Deus é
soberano sobre todas as coisas(Prov. 16:33; Mat. 10:29; Rom. 11:36; Ef. 1:11
etc.), até mesmo sobre as decisões humanas(Prov. 20:24; 21:1).
Embora Deus não tente ninguém ao pecado (Tiago 1:13),
ele ainda está agindo em todas as coisas, de indivíduos à nações, para o fim
que ele tem desejado(Is. 46:10-11). O propósito de Deus não depende do homem(At 17:24-26),
nem Deus descobre ou aprende(1 Jo 3:20; Jó 34:21-22; Sal. 50:11; Prov. 15:3).
Todas as coisas são decretadas pelo conselho infinitamente sábio de Deus(Rom. 11:33-36).
A
Confissão de Fé de Westminster substancia a posição ortodoxa no Capítulo III. 1
– 3, Dos Decretos de Deus:
I. Desde toda a eternidade, Deus, pelo
muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de
modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência
das causas secundárias, antes estabelecidas.
Isa. 45:6-7; Rom.
11:33; Heb. 6:17; Sal.5:4; Tiago 1:13-17; I João 1:5; Mat. 17:2; João 19:11;
At.2:23; At. 4:27-28 e 27:23, 24, 34.
II. Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há
de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa
alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer
em tais e tais condições.
At. 15:18; Prov.16:33; I Sam. 23:11-12; Mat. 11:21-23; Rom. 9:11-18.
III. Pelo decreto de Deus e para manifestação
da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida
eterna e outros preordenados para a morte eterna.
I Tim.5:21; Mar.
5:38; Jud. 6; Mat. 25:31, 41; Prov. 16:4; Rom. 9:22-23; Ef. 1:5-6.
Fonte:
http://thirdmill.org/answers/answer.asp/file/99657.qna/category/th/page/questions/site/iiim
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