Dr. Douglas Groothuis
Traduzido e publicado com permissão do autor
Tradutor: Gaspar de Souza
Ideias
têm consequências, mas poucos entendem como as consequências estão enraizadas
em e fluem das ideias. O assunto de casamento de mesmo sexo e gênero não pode
ser entendido sem uma análise filosófica. A decisão da Suprema Corte de que a proibição
do casamento homossexual é contra A Constituição é jurisprudência patética, mas
sob dessa cosmovisão estão pressupostos que deveriam ser expostos à luz da
razão.
Gênero agora é considerado um conceito flexível; não é
mais dado pela natureza de alguém. A Biologia agora não tem mais a fazer com o
gênero. Em vez disso, toma-se um gênero de alguém por identificá-lo com uma
vasta gama de possibilidades. A natureza do organismo humano – sob o DNA – é irrelevante
para identidade de gênero. A tradição da
raça humana de que macho e fêmea são categorias fixas e perpétuas de seres nada
significa para os experimentalistas de gênero. Homens podem identificar-se com mulheres
(e, talvez, ter uma operação de mudança de sexo); mulheres podem identificar-se
com homens (e, talvez, ter uma operação de mudança de sexo); homens podem
identificar-se bissexuais; mulheres podem identificar-se como bissexuais. Macho
e fêmea podem identificar-se como parcialmente heterossexuais e parcialmente
homossexuais.
Como essa redefinição de identidade humana aconteceu? Antes
de tentarmos responder a isso, considere a metafísica do movimento em relação ao
Teísmo Cristão, uma cosmovisão cada vez mais rejeitada pelos agentes do poder
da cultura America.
Cristãos,
juntamente com Judeus, sabem que o universo tem um significado intrínseco dado
por um Deus infinito e pessoal, o Criador e Projetista do universo. Este ser,
que pensa, fala e age, trouxe os humanos à existência como seus representantes;
como tal, eles possuem racionalidade, vontade, emoções e relacionamentos. Como o
primeiro livro da Bíblia ensina:
E
criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e
enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves
dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. (Gênesis 1. 27, 28)
Esta
declaração é filosoficamente rica de significado. Os humanos têm uma natureza
dada por Deus, uma constituição como macho e fêmea. Isto é um dado divinamente
outorgado. Isto é, os humanos são uma espécie especial de ser, como é o
resto da criação viva. Antes da criação dos humanos, Gênesis registra que:
E disse Deus: Produza a terra alma
vivente conforme a sua espécie; gado, e répteis e feras da terra
conforme a sua espécie; e assim foi. E fez Deus as feras da terra conforme a
sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil da terra
conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom (Gênesis 1. 24, 25. Grifos do
autor).
A
palavra espécie não deveria ser tomada de maneira biologicamente
precisa; em vez disso, ela fala de uma forma distinta de ser, uma essência. Deus
não criou o cosmos e os humanos de uma maneira de valor-neutro. Pelo contrário,
o significado e a função apropriada das entidades vivas são especificados por
seu criador e exaurido em seu próprio ser. Nossos primeiros pais rejeitaram a
ordem e mandamento de Deus fora motivadas pelo desejo de redefinir a realidade
independente de Deus. A rejeição da palavra de Deus sobre os termos de Deus
resultou na Queda, cujos efeitos foram sentidos através das eras (Gênesis 3). Movendo-se
desde a Criação até a Ressurreição, o Apóstolo Paulo afirma categorias objetivamente
reais da realidade – viva e não-viva – em seu grande discurso sobre a ressurreição
de Cristo e dos Discípulos de Cristo.
Nem
toda a carne é uma mesma carne, mas uma é a carne dos homens, e outra a carne
dos animais, e outra a dos peixes e outra a das aves. E há corpos celestes e
corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a dos terrestres. Uma
é a glória do sol, e outra a glória da lua, e outra a glória das estrelas;
porque uma estrela difere em glória de outra estrela.(1 Coríntios 15.39 – 41)
Não é preciso aprofundar maiores detalhes no argumento
para perceber que ele ensina que Deus tem especificado a natureza das coisas. Sendo
assim, as criaturas deveriam acatar as instruções do Criador no modo como elas
vivem suas vidas mortais neste planeta.
Jesus
ensinava e pensava dentro dessa cosmovisão. Quando perguntaram-lhe sobre
casamento e divórcio, ele apelou para a natureza dos homens e mulheres:
Então chegaram ao pé dele os fariseus,
tentando-o, e dizendo-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer
motivo? Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os
fez no princípio macho e fêmea os fez, e disse: Portanto, deixará o homem pai e
mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais
dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.(Mateus
19. 3 – 6)
Quando alguém rejeita a
existência de Deus (ou simplesmente a ignora), ele não está simplesmente
rejeitando uma ideia filosófica ou religiosa. Ele está rejeitando todas as
ideias e práticas que são singularmente apoiadas pelo Teísmo Cristão. Friedrich
Nietzsche (1844 – 1900) entendeu muito bem isto. Em sua famosa parábola “O
Louco”(em Gaia Ciência), Nietzsche
deixa seu profeta falar das implicações da “morte de Deus”
Como nos consolar, a nós,
assassinos entre os assassinos? O mais forte e mais sagrado que o mundo até
então possuíra sangrou inteiro sob os nossos punhais – quem nos limpará este
sangue? Com que água poderíamos nos lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados
teremos de inventar? A grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não
deveríamos nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele?
Nunca houve um ato maior – e quem vier depois de nós pertencerá, por causa
desse ato, a uma história mais elevada que toda a história até então!” nesse
momento silenciou o homem louco, e novamente olhou para seus ouvintes: também
eles ficaram em silêncio, olhando espantados para ele. “Eu venho cedo demais”,
disse então, “não é ainda meu tempo. Esse acontecimento enorme está a caminho,
ainda anda: não chegou ainda aos ouvidos dos homens. O corisco e o trovão
precisam de tempo, a luz das estrelas precisa de tempos, os atos, mesmo depois
de feitos, precisam de tempo para serem vistos e ouvidos. Esse ato ainda lhes é
mais distante que a mais longínqua constelação - e no entanto eles o cometeram!"[1]
Sim,
“e no entanto eles o cometeram!”
por banir Deus de seus pensamentos, suas vidas e suas culturas. Deus está morto
para o ímpio, mas permanece obstinadamente vivo como Criador e Juiz. O Psicólogo
Eric Fromm (1900 – 1980) escreveu que no século dezenove Deus morreu. No século
vinte o homem morreu. Se o homem não foi criado por Deus, por que deveria se
importar muito com ele? A colheita amarga foi a dezenas de milhões assassinados
pelo Nazismo e Comunismo. No século vinte e um o gênero morreu, desde que o
homem não concedeu a natureza por Deus. O gênero agora é desequilibrado da
biologia, história, lógica e religião. Ele é flexível, fungível, maleável e
infinitamente inconstante, uma vez que não precisa obedecer a nada
objetivamente real. A discussão de gênero está em toda a parte; [mas] o fato do
gênero não está em lugar nenhum, desde que os fatos fazem muitas exigências
sobre as mentes livres.
Francis Schaeffer (1912 – 1984), filósofo e crítico
social, discerniu esta ruptura da realidade dada de Deus em 1968 em sua obra de
referência, O Deus que Intervém:
Algumas formas de homossexualismo de hoje são de natureza tal que não se
limitam ao homossexualismo somente, mas representam uma forma de expressão filosófica.
Precisamos ter compreensão para com o real problema da homofilia. Mas grande
parte da homossexualidade moderna é expressão da atual negação da lei da
antítese. Neste caso, isso levou à negação da distinção entre homem e mulher. De
modo que se extinguiu a ideia de macho e fêmea, visto como parceiros
complementares [...] Para grande parte do pensamento moderno, a ordem do dia é
combater todas as antíteses e toda a lógica da criação divina – inclusive a distinção
macho e fêmea.[2]
Schaeffer
viu a origem do problema: as pessoas estavam negando a antítese real entre
verdade e falsidade, entre bem e mal, entre o que Deus criou e o que o homem
corrompeu. Mas mesmo Schaeffer – profeta que foi – não poderia ter visto a extensão
em que a realidade seria negada em nome do amor, tolerância, escolha
e liberdade.
Vamos tentar trazer tudo isso junto. A filosofia que
sustenta e anima esta redefinição de gênero é anti-essencialista e construtivista.
Os humanos como macho e fêmea não têm uma natureza objetiva, qua gênero.
Gênero é apenas um espaço reservado para a vontade do identificador, que
escolhe o gênero não com base qualquer coisa estável ou confiável, mas apenas
pela excentricidade erótica. Alguém constrói uma identidade de gênero, mas
sem o auxílio de um modelo. O que se constrói, pode ser destruído – caprichosamente
sem fim. E agora essa filosofia é apoiada a toda força por lei federal. Se você
discorda, você será punido. Tratarei disso num ensaio posterior.
Muito mais precisa ser articulado sobre essa nova
corajosa revolução de gênero. Por enquanto, compreenda a cosmovisão – ideias têm
consequências e ideias falsas têm más consequências. Basta olhar em sua volta.
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