sexta-feira, 22 de maio de 2015

Uma Breve Resposta de James Anderson a William Lane Craig sobre Molinismo

Por James Anderson
Traduzido por Gaspar de Souza


            Poucos meses atrás eu escrevi uma postagem intitulada “O Deus Falível do Molinismo” motivado pelo bate-papo entre William Lane Craig e Paul Helm. Algumas pessoas alertaram-me para o fato do Dr. Craig resumidamente respondeu meu argumento em um recente podcast. Isto é o que ele disse:

Eu penso que ele pisou em falso em seu argumento aqui. Certamente é verdadeiro que em qualquer circunstância particular de liberdade-permitida, um agente é livro para fazer outra coisa que Deus sabe que ele fará. Mas, naquele mundo em que o agente faz algo diferente, o plano de Deus não seria o mesmo. O que o colega parece não lembrar é que naquele mundo Deus teria diferentes planos. Deus saberia naquele mundo que S faria alguma coisa diferente em C e, então, naquele mundo ele teria planos para que isto aconteça. Então, o que ele está tentando fazer é manter os planos de Deus firmes e fixados de mundo a outro, mas em seguida variar o valor dos contrafactuais, e você não pode fazer isso. Se você alternar para um mundo no qual S  não faz A em C, então você não pode dizer: “bem, neste mundo os planos de Deus são que S faria A em C”. Não, não, naquele mundo Deus teria planos diferentes.
Então, quando você alternar o valor-verdade dos Contrafactuais, você também tem de alternar os planos providenciais, porque os planos providenciais são baseados em contrafactuais que são verdadeiros naqueles mundos. Então, dado que os planos de Deus são baseados no que ele conhece que os agentes livres fariam, os planos mudarão de mundo para mundo junto com as decisões dos agentes. Assim, não existe qualquer problema aqui. Os planos de Deus nunca falham, e ele não é falível.

            Primeiro deixe-me dizer que estou honrando em o Dr. Craig considerar meu comentário digno de nota. Mas tenho umas poucas coisas a dizer em resposta.
            Craig está correto ao dizer que cometi um equívoco no argumento original, como eu reconheci em réplica ao comentário do Greg Welty. Eu disse no início [do artigo] que não relevante se o decreto de Deus (ou “plano providencial”, para usar a terminologia de Craig) está incluído em C, isto é, as circunstâncias nas quais Deus coloca o agente livre S, sabendo que S fará A em C. Mas isto é um equívoco, porque os Molinistas dirão que C não inclui o decreto de Deus, de tal modo que nesses mundos possíveis em que S não faz A em C, enquanto C é o mesmo, o decrete de Deus é diferente. (Como Craig coloca a questão, o plano providencial de Deus não é “firme e fixado” através dos mundos nos quais S escolhe C, embora C seja fixado). Os contrafactuais são diferentes naqueles mundos alternativos e, portanto, o decreto de deus também será diferente naqueles mundos, desde que ele é baseado naqueles contrafactuais.

            Bastante justo, mas como argumentei nos comentários da postagem original, eu não penso que a observação deixa o Molinista não supera as dificuldades. Em primeiro lugar, parece-me uma alegação especial excluir o decreto de Deus – que é uma decisão ativa com consequências causais, não um simples conhecimento passivo – das circunstâncias em que S faz sua escolha livre. O Molinista tem que dizer, de fato, “Não se preocupe, é possível para S não fazer A em C desde que não incluamos o decreto de Deus em C, pois então seria possível para S fazer outra coisa contrária ao que Deus decretou”. Em outras palavras, o Molinista tem que restringir C às circunstâncias intramundanas. 

           Mas, por que deveria ser permitido ao Molinista fazer esse movimento? Afinal, as circunstâncias são casualmente vinculadas ao Decreto de Deus (e, necessariamente assim no sistema molinista). As circunstâncias se obtêm apenas porque Deus decidiu que elas deveriam ser obtidas e as causou ser obtidas. Se você pode traçar a linha limite de C de modo a excluir o decreto de Deus e suas ações para implementar esse decreto (ou seja, sua manipulação de circunstâncias intramundanas), por que não traçar limite ainda mais restritiva, de modo a excluir, digamos, todas as circunstâncias de mais de cinco anos antes da escolha de S, ou todas as circunstâncias de mais de cinquenta milhas da região de S? Existe algum princípio racional para traçar a linha limite de C onde o Molinista quer traça-la além de salvar o sistema? Por que pensar que está quente e ensolarado em Charlotte hoje é um elemento relevante de minhas circunstâncias, mas Deus fazer [um dia] quente e ensolarado em Charlotte (parcialmente a fim de direcionar as escolhas dos habitantes da cidade)  não é um elemento relevante?

            Acerca do ponto relacionado, eu penso que o Molinista preserva a infalibilidade divina apenas por seu compromisso com o livre-arbítrio libertariano (LAL). Um entendimento central por trás do LAL é que as escolhas de S são livres apenas se elas não forem determinadas pelos fatores (especialmente as ações de outros agentes) além do controle de S. Como eu demonstrei em minha postagem original e nos comentários subsequentes, existe um sentido claro no qual, do ponto de vista Molinista, Deus determina as escolhas de S. Isso não é um determinismo causal, mas ainda é determinismo no sentido que o decreto de Deus é que S fará A (que é fixado antes de quaisquer das escolhas de S) assegurando que S fará A. Dado que Deus tem decretado que S fará A, S não pode fazer outra coisa senão A.

            Então, o Molinista tem de dizer que “Dado apenas que S está em C (que exclui o decreto de Deus), S pode fazer outra coisa além de A, mas dado que Deus tem arranjado C precisamente a fim de que S faça A, S não pode fazer outra coisa senão A”. Agora, por que não deveríamos considerar que uma noção desvirtuada do LAL? Por que alguém que está comprometido com a ideia de LAL se contentaria com a visão de que suas escolhas são apenas livres com respeito à circunstâncias intramundana e não livre com respeito à circunstâncias extramundanos(isto é, o decreto de Deus e a ação ativa das circunstâncias intramundanas)? Se você pode viver com tal forma diluída de LAL, por que insistir nisso tudo?

            Eu penso que isto é uma das razões porque muitos Arminianos (esqueça os Teístas Abertos) não querem entrar na linha Molinista. Eles sentem que o Molinismo ainda é uma forma de determinismo  e não está completamente comprometido com LAL. Em resumo, ainda dá a Deus controle de mais(Embora eu pense, da perspectiva Calvinista, que o Molinismo não dê a Deus controle suficiente)

            Assim, continuo com as observações que fiz no final de minha postagem original, que eu reproduzo aqui:
            Como se percebe, essa tensão no centro do Molinismo surge porque ele ambiciona ser deterministicamente indeterminista. “Indeterminismo” por causa de seu compromisso com o livre-arbítrio libertário. “Determinista” porque o decreto de Deus, de alguma forma (não sabemos como) determina de antemão que suas criaturas farão certas escolhas. Isso pode não ser um determinismo causal, mas, apesar de tudo, é determinismo (como muitos Arminianos não-Molinistas, tais como Roger Olson, podem ver claramente). Se preordenar que S escolhe A não significa predeterminar que S escolha A, então o que significa?

            Para mais discussão, verifique os diálogos nos comentários da postagem original.


Fonte: http://www.proginosko.com/2014/05/a-brief-response-to-william-lane-craig-on-molinism/

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