Tomistas e calvinistas têm-se oposto firmemente ao molinismo, julgando-o
uma negação da independência e da graça de Deus.
Segundo o tomismo, Deus é Realidade Pura; nele não
há potencial passivo (v. analogia, principio da; Aristóteles; Deus, natureza de; Tomás de Aquino). Se Deus
tivesse potencial, ele precisaria de uma causa. Como é a Causa suprema de todas
as coisas, Deus não tem potencial (v. Deus, natureza de). Se o molinismo
estiver correto, Deus é o recipiente passivo do conhecimento dos atos livres. O
“conhecimento médio” de Deus é dependente de eventos que realmente ocorrem. O
grande “Eu Sou” torna-se o “Eu Posso Ser”. Isso implica uma passividade que
Deus como Realidade Pura não pode ter. Logo, o molinismo é contrário à natureza
de Deus.
Deus se torna um efeito. Outra afirmação da dificuldade e que o conhecimento de Deus é completamente
causal, determinando todos os eventos, ou e determinado por esses eventos. Não
há outra alternativa. Os molinistas dizem que o conhecimento de Deus é
determinado por futuros atos livres. Isso sacrifica Deus como Causa suprema.
Ele é determinado pelos eventos, não o Determinador. Isso é contrário à
natureza de Deus, pois ele se tornaria espectador epistemológico (ibid., p.
107).
A graça eficaz é negada. Outra objeção é que o molinismo nega a graça eficaz de Deus na salvação.
Tudo que Deus quer acontece sem que nossa liberdade seja transgredida. “Ele
deseja com eficácia nosso consentimento livre, e realmente consentimos, de livre
vontade” (ibid., p. 401). Somente dessa maneira a graça de Deus pode ser
eficaz. Deus é o Autor ativo da salvação (ibid., p. 398). Como Aquino diz: “Se
a intenção de Deus é que esse homem, cujo coração ele esta movendo, venha a
receber graça santificadora, então esse homem recebera graça infalivelmente”.
A intenção de Deus não pode falhar, e os salvos são
infalivelmente salvos (certissime, diz Agostinho; ibid., 111).
Ao mesmo tempo que concordam com a natureza eficaz
da graça, os tomistas se separam dos calvinistas extremados nessa questão. Para
os tomistas, as criaturas livres retém o poder de decidir não seguir a Deus
quando Deus graciosa e eficazmente os leva a escolher segundo sua vontade
predeterminada.
Os calvinistas extremos ensinam que esse movimento
do Espírito Santo no coração da pessoa que escolhe e irresistível. Se é a vontade
de Deus, essa pessoa respondera porque o Espírito estimula o coração. Os
tomistas insistem em que, “ao invés de forçar o ato, ao invés de destruir [...]
a liberdade, o impulso divino tornou real [...] a liberdade. Quando a graça eficaz
toca o livre-arbítrio, esse toque é virginal, ele não violenta, apenas
enriquece” (ibid., p. 110).
Mas isso não é essencial para a posição anti-molinista.
O conhecimento de Deus poderia ser determinante do ato livre sem causá-lo. Essa
doutrina foi defendida por Agostinho e por calvinistas moderados (v. Geisler).
Fonte:
GEISLER, Norman. Enciclopédia
Apologética – resposta aos críticos da fé cristã. São Paulo: Vida Acadêmica,
2002, p.608 – 610.
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