segunda-feira, 20 de julho de 2009

CRÍTICAS AO ARTIGO "DEUS E O JARDIM DAS DELÍCIAS"

O Jornalista Hélio Schwartsman, do Folha Online, escreveu um artigo: "Deus e o Jardim das Delícias". Li e, sinceramente, não passa de afirmações tautológicas e antiteístas. O leitor Marcos Dourado forneceu uma excelente resposta, por e-mail, ao articulista militante. A resposta encontra-se no site Criacionismo Segue, numa boa exposição dos achados de Hélio. As notas no fim do artigo foram postas por mim.
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Caro Hélio,


Em sua última coluna na Folha, “Deus e o Jardim das Delícias”, você se declarou um “ímpio contumaz”. Data venia, prezado. Contumaz, talvez; ímpio, nem por brincadeira. Você obviamente aplicou contra si um juízo apocalíptico – acredito que por galhofa, a julgar pelo encômio moral que você se dedicou há alguns anos. Hélio, não se superestime. É preciso muito suor, muita hora-extra – em suma, um esforço literalmente dos diabos para se atingir o status da impiedade. Por algumas de suas colunas na Pensata, você, quando muito, mereceria do seu provável ascendente, o rei Davi, a pecha de néscio ("Diz o néscio no seu coração: Não há Deus. Os homens têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em suas obras; não há quem faça o bem." Salmo 14:1).


Mas eu falava de esforços. O ímpio é, antes de tudo, diligente. Abnegado. Não sabe o que é desídia, ao menos a desídia intelectual. Logo, para juntar-se ao conselho dos ímpios, você deveria demonstrar essa diligência ímpia ao longo de seus textos. Parece-me que tal não ocorre. Permita-me desenvolver o raciocínio.


Em tempos idos, mais precisamente 11/1/2007, você escreveu o artigo “Santa Ilusão” a respeito do livro Deus, Um Delírio, de Richard Dawkins. À época, não me dispus a ler o “delicioso libelo”, como então você o definiu. Apeteceu-me mais o breve, elegante e bem conduzido Deus Existe, que conta a decisão aristotélica do filósofo Antony Flew de abraçar o teísmo após setenta anos de ateísmo. Por que “aristotélica”? Porque Flew, desde a adolescência, se dispôs a seguir o argumento até aonde ele o levasse. E o livro é um road movie desse trajeto.


Contudo, mesmo não conseguindo Dawkins me induzir à copromancia[1] (falar nisso, por onde andará o Paulo Betti?), ainda assim confiei em seu juízo quando você se dispôs a resenhar o fecaloma editorial do renomado zoólogo. Ao menos quanto à pertinência da argumentação do bufo sacrílego, julguei que você a dissecaria segundo seus critérios de filósofo. Daí, por decorrência, imaginei que, malgrado as grosserias levianas do autor, haveria algum mérito lógico nas ideias ali defendidas. Ledo e ivo engano. Hoje pela manhã me repassaram um vídeo em que o filósofo, teólogo e historiador do Novo Testamento, William Lane Craig[2], disseca o argumento considerado central pelo próprio Dawkins em seu “delicioso libelo”. Repasso-o, meio que de memória.


Para começar, a edição brasileira do Delírio, sem querer, comete uma graça: o argumento central do livro começa à página 1-7-1.


Craig argumenta que se o cerne do livro de Dawkins falhar, como aquele mesmo propôs, suas conclusões a respeito da inexistência de Deus se esfacelam.

Citemos as palavras do livro:


1) Um dos grandes desafios para o intelecto humano, ao longo dos séculos, vem sendo explicar de onde vem a aparência complexa e improvável de design no Universo.

2) A tentação natural é atribuir a aparência de design a um design verdadeiro.

3) A tentação é falsa, porque a hipótese de que haja um propósito suscita imediatamente o problema maior sobre quem projetou o projetista.


4) O guindaste mais engenhoso e poderoso descoberto até agora é a evolução darwiniana, pela seleção natural.


5) Não temos ainda um guindaste equivalente para a Física.


6) Não devemos perder a esperança de que surja um guindaste melhor na Física, algo tão poderoso quanto o darwinismo é para a Biologia.


Conclusão: "Deus, quase com certeza, não existe."


Salta aos olhos que a conclusão brota do vento. Qual theo ex-machina, ela desce de paraquedas; não resulta de nenhuma das seis premissas anteriores. Não é preciso ser um estudante de filosofia para perceber que se trata de uma falácia non sequitur (ou como você bem traduziu uma vez: besteira da grossa).


Falácia permanece falácia mesmo quando todas as suas premissas se mostram verdadeiras. Elas são? Vejamos.


Poderíamos, sob a batuta de Quine, apelar para a generosidade (embora quando se trate de Dawkins eu ache melhor pautar-me por Goya – aquele que pintou um quadro de nome “o sono da razão gera monstros”). Nesse caso, diríamos não se tratar de premissas mas de um conjunto de afirmações cuja consecução um tanto saltitante resultaria na conclusão da inexistência de Deus.


Pergunta a um filósofo: “Existe alguma regra lógica que permita, de maneira válida, chegar à conclusão de Dawkins partindo de suas seis 'afirmações'?”


Parece que nem blindada pela caridade a conclusão se sustenta. No máximo, considerando-se verdadeiras cada uma das seis afirmações, não se poderia afirmar a existência divina com base no “aparente” design do Universo. Daí a negá-la resulta que o eminente queniano atolou-se até o pescoço no monturo de seus preconceitos.


Melhor, a “aparente” complexidade do Universo não confirma a existência de Deus – mas também não a inviabiliza. Na verdade, essa “suposta” impressão de design mais apoia que desmente a existência de Deus. O crente pode, a partir dela, crer justificadamente em Deus – ainda que dispense argumentos cosmológicos, ontológicos, morais ou, por que não, desconsidere qualquer argumento. Ele pode basear-se talvez em experiências religiosas estritamente pessoais. Até mesmo, quem sabe, na própria Revelação Divina. Não seria incoerente; um dos pilares cristãos vem justamente de a fé ser um dom divino, imprescindível para o perdão dos pecados e a salvação da alma.

Portanto, a rejeição para o argumento do design para a existência de Deus de modo algum implica que Ele não exista. Nem sequer invalida essa crença. Muitos dos cristãos que conheço rejeitam diversos argumentos em favor da existência de Deus (alguns rejeitam até o design) e isso não faz com que levem a sério o ateísmo ou o agnosticismo.

Voltando aos seis passos de Dawkins, percebe-se que alguns deles são flagrantemente falsos:

Passos ou premissas 5 e 6:


Neles, Dawkins se refere ao improvável, quiçá miraculoso, ajuste fino para que as condições iniciais do Universo viessem a propiciar o surgimento e desenvolvimento da vida. Tais condições são tão complexas e de tal forma excludentes a alternativas que muitos cientistas se assombram a ponto de chamarem-nas de “sintonia fina do Universo para a vida”.

Pois não é que Dawkins admite justamente isso no argumento 6? Não há equivalente à Teoria da Evolução para explicar essa sintonia. Logo, mesmo se o neodarwinismo fosse bem sucedido (e não é) para explicar a origem da vida mais a sua complexidade em planos estanques de reinos, filos, classes e ordens, não há teoria que explique o improbabilíssimo emaranhado de combinações pró-vida decorrentes do tal Big Bang.

Desse modo, o famigerado livro de Richard Dawkins, tão incensado, tão badalado, possui em seu miolo um buraco impossível de ser preenchido apenas com entulhos falaciosos.

Para cobrir tal lacuna, ele recorre ao velho tapa-buracos do otimismo: “Não devemos perder a esperança de que surja um guindaste melhor na Física, algo tão poderoso quanto o darwinismo é para a Biologia.” Obliquamente, o evangelho dawkinsiano sequestra uma metáfora de Richard Goldschmidt: “Eis que o monstro esperançoso se fez cãs e foi esvoaçá-las no campus de Oxford.”


Mas há como o nosso etólogo travesso se superar. Tomemos o passo 3 de seu argumento:

“A tentação é falsa, porque a hipótese de que haja um propósito suscita imediatamente o problema maior sobre quem projetou o projetista.”


Quer dizer: não há justificativa para inferir design a partir da complexidade do Universo porque o problema seria apenas deslocado para mais adiante.


Primeiro: para que uma explicação seja satisfatória não há necessidade da explicação da explicação. Isso é elementar em filosofia da ciência. Exemplo: se em alguma das luas de Júpiter forem recolhidos maquinários de lavra desconhecida não seria justificável negar-lhes origem alienígena apenas por não se conhecer os seres extraterrenos que os possam ter produzido – sobretudo não havendo a mínima ideia de como chegaram àquele astro ou mesmo quem eram (Aquiles, Brás Cubas, Papai Noel?).


Segundo: exigir uma explicação anterior leva a uma regressão infinita: qual a explicação da explicação? Qual a explicação da explicação da explicação? E por aí segue, ad eternum... Pode até parecer um bom recurso para avacalhar uma infindável linhagem teogônica. Acontece que pau que dá em Pinto dá em Jacinto: de igual modo, nenhuma explicação científica seria definitiva e a ciência colapsaria. Esse é o lado Bin Laden de Dawkins: para acabar com Deus ele não titubeia em pôr em risco as torres gêmeas da ciência. Por que tamanha temeridade? Para não conceder ao leitor que a explicação do “aparente” aspecto de projeto do Universo não implica em descartar o projetista.


Terceiro: em outra parte do texto, Dawkins defende que a explicação da origem do Universo, no caso, o projetista, precisa ser pelo menos tão complexa quanto a coisa a ser explicada. Ora, isso em nada avançaria a explicação. Mais: Dawkins não parece ter uma relação epistêmica saudável com o critério de simplicidade para ponderação de hipóteses. Particularmente, não considero esse critério nem descartável nem soberano. Poderíamos citar outros critérios como o “poder explanatório”, o “escopo explanatório”, o grau “ad hoc” naturalidade/artificialidade, a plausibilidade, etc. Todos eles devem ser considerados balanceadamente ao se comparar hipóteses.


Quarto: um projetista não precisa ser tão ou mais complexo que o Universo projetado por ele. Sendo incorpórea, a mente divina se revelaria consideravelmente simples; até onde podemos supor, ela não possui secções, não é multicomposta. Incorpórea, frisemos, ela pode tranquilamente ser monolítica e ainda possuir as propriedades características de uma mente: autoconsciência, racionalidade e vontade. Isso é muito simples, ao contrário da complexidade de um universo contingente formado de quantidades de matéria e energia balizadas por inúmeras constantes e propriedades, além de uma inexplicável aparência de design. Comparados, a mente divina é inegavelmente mais simples que o Universo. Sem contar que a simplicidade de tal mente não a impede de formular ideias complexas, até imperscrutáveis para a nossa compreensão. Para ela, o cálculo infinitesimal, por exemplo, poderia ser tão trivial quanto somar 2 com 2. Dawkins, propositadamente ou não, desconsidera que a complexidade de uma ideia não é incompatível com a simplicidade da mente que a formulou.


Por fim, a verdadeira questão: Por que um biólogo doutorado em uma das mais renomadas universidades do planeta comete uma falácia tão bisonha? Pior: Por que tamanha falácia não é desmascarada pela maioria dos que se arrogam a faculdade de bem pensar?

Tenho um palpite, mas fica para a próxima.

[1] “Arte” de adivinhação por meio dos excrementos

[2] Este vídeo pode ser acessado aqui http://www.youtube.com/watch?v=aDlwYBitTJg&feature=related (parte1); http://www.youtube.com/watch?v=vpRR-gzs7xg&feature=related (parte 2) ou veja diretamente no blog


Parte 1



Parte 2



Postado por Gaspar de Souza


5 comentários:

Rodrigo disse...

PARTE 1/3

Hélio, seu texto é muito estranho vindo de um “bacharel em filosofia”.

Você já parou para pensar que talvez os teólogos, os escolásticos, os filósofos e pensadores cristãos não tenham ficado dois mil anos sentados pensando se “a punição justa a quem zomba de carecas é a morte”? Que talvez esse pessoal todo se ocupou do aprofundamento das questões filosóficas levantadas por Sócrates, Platão e Aristóteles, deixadas de lado pelos obviamente esquecidos cínicos, céticos e estóicos (para nem citar epicuro), questões essas que deram origem às ciências modernas, cujo método é socrático/aristotélico?

Você já se questionou por que será que hoje se questiona se Aristóteles, fundamental para a ciência moderna, teria sido devolvido a primeiro plano pelos árabes ou pelos monges do Monte Saint Michael lá na idade média e não por um movimento ateu ou, quem sabe, “illuminatti”? (http://lafuerzadelarazon.wordpress.com/2007/06/05/islam-%c2%bfcultura-superior/) (http://lafuerzadelarazon.wordpress.com/2008/05/01/aristteles-en-mont-saint-michel/)

Você já se questionou porque será que um dos primeiros observatórios do mundo foi o Observatório do Vaticano – Specola Vatiana – (http://vaticanobservatory.org/), de onde, inclusive, o padre José Gabriel Funes pesquisa atualmente vida inteligente fora da terra (segundo esse padre, Deus pode ter criado seres inteligentes em outros planetas do mesmo jeito como criou o universo e os homens)? (http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/05/13/vaticano_admite_que_pode_haver_vida_fora_da_terra-427364374.asp)

Antes de você dizer “convenhamos que religião e nosso conhecimento do mundo não andam exatamente de braços dados”, você já parou para pensar na PONTIFÍCIA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS, a primeira academia científica do mundo fundada em 1603, em Roma, - Galileu Galilei foi um de seus membros, inclusive – e que hoje conta cerca de 80 "acadêmicos pontifícios" provenientes do mundo todo, nomeados pelo Papa, sob indicação do corpo acadêmico? (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pontif%C3%ADcia_Academia_das_Ci%C3%AAncias)

Você já refletiu para o fato de que essa Academia, presidida pelo Papa, é a única academia de ciências do mundo a ter uma única categoria e um caráter supranacional, que conta em sua história com o maior número de membros laureados com prêmio Novel (45), a maioria escolhida ANTES de serem premiados, e tem por objetivo promover a pesquisa e examinar questões científicas? (http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_academies/acdscien/index_po.htm)

Você já parou para pensar que foi a Igreja, como provado pela história, que financiou os estudos de Galileu Galilei! Que o livro que publica sua teoria (heliocentrismo) foi analisado pelos censores da Igreja e recebeu o Imprimatur! Que o papa Urbano VIII foi testemunha de defesa de Galileu! Que o processo terminou com Galileu dizendo: "Eppur si muove!" ("contudo, ela [Terra] se move"). Que os estudos dele continuaram regularmente depois do processo! Que Galileu era um cristão fervoroso e o papa era seu amigo (padrinho, para ser mais exato)! Que naquela época as pessoas misturavam o conceito de heliocentrismo e o de hermetismo, coisas diferentes sobre as quais, aparentemente, até hoje alguns “cientistas” se confundem? Você, aliás, sabia que Copérnico era cônego da Igreja? (http://pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei) (CARVALHO, Olavo de in O jardim das aflições, 2ª edição, São Paulo, Editora É Realizações, p. 35)

Rodrigo disse...

PARTE 2/3

Hélio, você já parou para pensar que quando você questiona a existência de Deus, você se coloca sob o aspecto científico em uma situação muito vergonhosa? Isso porque você (1) não pode dizer que a matéria passou a existir (Big Bang) do nada sem causa alguma, quando a física nos ensina que nada se cria, nada se destrói, tudo se transforma; (2) tampouco pode dizer que a matéria sempre existiu (como matéria ou como energia) quando a ciência já apontou 3 evidências científicas para a ocorrência do Big Bang: (a) a expansão do Universo, (b) o Eco Radioativo e (c) a Segunda Lei de Termodinâmica (esta apontando que as leituras físicas só fazem sentido se considerarmos que as coisas tiveram um início, o que nos leva ao problema descrito no item 1 acima - contradição essa só explicada pela concepção lógica já levantada por Aristóteles de que as coisas só fazem sentido se colocarmos na equação um Ato Primeiro – Deus - que não veio a ser junto com as coisas que vieram – a criação). O que é mais insano, dizer que Deus não faz sentido algum e negar uma lei física e três evidências científicas ou dizer que Deus existe, embora não seja de fácil acesso racional? (http://www.youtube.com/watch?v=YVZivZagkjY&feature=related) Talvez você tenha a pretensão de já conhecer o Universo bem o suficiente para chegar a conclusões tão certas a esse respeito ...


Hélio, você já parou para pensar que, “se existe mesmo um Deus monoteísta” (sic), talvez o que ele realmente queiera de nós seja que comecemos por deixar de matar o próximo, como fizeram os regimes ateus comunistas e fascistas, que só no século passado, mataram mais do que CEM MILHÕES de pessoas (número que acho subdimensionado, mas que opto por usar por ser um número extraído de um levantamento feito por comunistas, eliminando a possibilidade de dizerem que sou tendencioso) (http://pt.wikipedia.org/wiki/O_livro_negro_do_Comunismo).

Será que você já parou para pensar no motivo pelo qual você e tantos outros falam tanto da Inquisição, que em três séculos matou aproximadamente vinte mil pessoas (CARVALHO, Olavo de in O jardim das aflições, 2ª edição, São Paulo, Editora É Realizações, p. 35), e se esquecem dessa “pequena” cifra de mais de CEM MILHÕES de pessoas mortas pelos regimes ateus?

Você já parou para estudar um pouco de História do Direito e descobrir: (i) que a Inquisição substituiu à época o Método Acusatório então vigente (aquele em que era você, quando acusado, que tinha que provar não ter feito aquilo do que te acusavam) pelo Método Inquisitório (por isso Inquisição – voila), (ii) que a Inquisição eliminou a Ordália – um tipo de prova judiciária usada para determinar a culpa ou a inocência do acusado, submetendo-o a uma prova dolorosa (envolvendo fogo ou água) que, se concluída sem ferimentos ou com feridas rapidamente curadas, livrava o acusado da acusação, (iii) que a Inquisição limitou o uso da tortura, típico instrumento jurídico da Idade Média (sim, a “tortura” era instrumento jurídico herdado de Roma, como o “juramento” perante um juri, por exemplo) de garantia da veracidade da informação prestada pelo acusado que estava sendo inquirido, instituindo regras para: (a) abrandar o seu uso e (b) restringir o seu uso para apenas quando: (i) já houvesse meia-prova, ou (ii) quando houvesse testemunhas fidedignas do crime, ou (iii) quando o sujeito já apresentasse antecedentes como má fama, maus costumes, ou (iv) tivesse tentado fugir e (v) apenas após aprovação do bispo diocesano e de uma comissão julgadora – (ufa, não era fácil como era nos governos civis)! (GILISSEN, John, Introdução histórica ao direito, tradução portuguesa de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros, 2a edição, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1995)

Rodrigo disse...

PARTE 3/3

Hélio, você já estudou um pouco, que seja, sobre a queda do Império Romano, e que, quando o Império Romano se desmantelou e as cidades ficaram sujeitas a violência geral, foram padres e bispos da Igreja, além de alguns poucos nobres romanos que retornaram para suas terras e cidadãos com conhecimento em organização militar, os responsáveis pela defesa das cidades e seus habitantes, que voluntariamente submetiam suas terras à jurisdição de quem tinha sucesso nessa atividade, na esperança e realidade da segurança? Que foi o bispo de Roma, papa Leão Magno que impediu o huno Átila de saquear Roma e que negociou com o visigodo Genserico pela vida dos habitantes da cidade?

Você já parou para pensar que enquanto Richard Dawkins, Christopher Hitchens, Daniel Denett, David Comings e cia ltda., mas limitada mesmo, ficam vociferando contra a religião, é a Igreja que está financiando estudos, organizações, pesquisas, etc.?

Será que você já refletiu sobre o fato de que o homem racional, além de descobrir sua origem, quer descobrir também o motivo das coisas, como bem reconhece o CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, que na página 84 de sua edição pela Editora Vozes, Rio de Janeiro, 1993, diz: “283 A questão das origens do mundo e do homem é objeto de numerosas pesquisas científicas que enriqueceram magnificamente os nossos conhecimentos sobre a idade e as dimensões do cosmo, o devir das formas vivas, o aparecimento do homem. (...) O grande interesse reservado a essas pesquisas é fortemente estimulado por uma questão de outra ordem, e que ultrapassa o âmbito próprio das ciências naturais. Não se trata somente de saber quando e como surgiu materialmente o cosmo, nem quando o homem apareceu, mas antes, de descobrir qual é o sentido de tal origem (...)?” (http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s2c1_198-421_po.html)

Hélio, você já parou para pensar, com base nos documentos históricos, que foi a Igreja (e não os ateus) a primeira a se opor a escravidão indígena, quando o Papa Paulo III, em 1537, emitiu a Bula Sublimis Deus (http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/justpeace/documents/rc_pc_justpeace_doc_19881103_racismo_sp.html), algo reconhecido até pelo comunista Eduardo Galeano? (GALEANO, Eduardo, As veias abertas da américa latina, 48a edição, São Paulo, Editora Paz e Terra, 2008, p. 62)

Você já parou para pensar que “no Rio de Janeiro, o povo derrubou as grades do Colégio dos Jesuítas e teria assassinado os missionários paraguaios se não fosse a intervenção do Governador; em Santos, derrubaram o Vigário-Geral” quando o Papa Urbano VIII decretou, em 1639, “a mais severa sanção da Igreja contra quem quer que escravizasse um índio, convertido ou não.”? (MOOG, Vianna, Bandeirantes e pioneiros, Rio de Janeiro, 18a edição, Editora Civilização Brasileira, 1993, p. 119)

Você já parou para pensar que o seu argumento de que “a religião dá prazer” (risos) não faz o menor sentido quando consideramos o fato de que a vida pós-morte coloca para quem nela acredita (o religioso) algo muito arriscado (aterrorizador, eu diria, para quem acredita no inferno) enquanto fica desse temor liberado aquele que não acredita em Deus, em religião e que pode fazer o que bem entender sem o risco da danação eterna? Hélio, você já leu o trecho “To be or not to be” de Shakespeare? Ele é um belo demonstrativo desse “prazer” que a religião nos dá. (http://bandeirantesepioneiros.blogspot.com/2009/07/sobre-o-suposto-conforto-da-vida-pos.html)

Talvez você ainda não tenha parado para pensar em nada disso, né !? Bem, sugiro de bom coração que o faça. Vá espairecer um pouco, faça uma Grande Navegação, vai apreciar Michelangelo na Capela Sistina enquanto reflete sobre o surgimento do Renascimento, sobre o Inferno, o Purgatório e o Paraíso de Dante, quem sabe assim, você pense um pouco mais antes de dizer que Deus “espera de nós atitudes exóticas” quando, de exótico, só mesmo os argumentos levantados no seu texto.

Sérgio disse...

Ora, do que os religiosos tem medo? Da verdade? Hélio Schwartsman colocou o dedo na ferida: virgens não dão à luz, água não vira vinho, homens não ressuscitam. E não venham me dizer que são metáforas bíblicas. Isso vai contra a própria natureza humana. Então por que acreditar em algo que vai contra a própria natureza? Por conveniência? E o autor usa o texto do jornal como gancho para defender justamente o criacionismo, a teoria mais anti-científica que existe? Aonde está o esqueleto de Adão e Eva meus caros?

Raimundo Lulio disse...

O ser onisciente que conformou em ínfimos 7 dias: a Terra (antes do Sol e dos demais astros celestes, contrariando todas às descobertas científicas!), astros celestes, animais, plantas, bactérias e etc ; esse mesmo ser cuja sabedoria e poder são ad infinitum, ordena aos seus seguidores que assassinem o sectário que trabalhe num sábado qualquer...
Stendhal, uma vez escreveu no seu fabuloso Le Rouge et Le Noir - se utilizando da verve de um filósofo fictício, chamado Phillipe Vane-: “A idéia mais útil aos tiranos é a de Deus”.Essa frase pode ser módica em relação ao seu número de palavras, mas , é extremamente grandiosa em sua sabedoria intrínseca – consegue sintetizar milênios de comportamento humano - .A idéia de deus, serviu aos homens durante miríades de anos como justificativa para assassinatos, genocídios, guerras,espólios, infanticídios e uma série de outras atrocidades.
Não foi o deus bíblico-mosáico que ordenou seu povo a cometer genocídios, assassinatos de homens que trabalhassem aos sábados, apedrejamento de mulheres adúlteras, eliminação de crianças não circuncidadas e outras bestialidades , mas sim, uma idéia que existiu na posse de um grupo de homens preocupados na prosperidade e sobrevivência do seu povo.Essa mesma idéia, travestida de outras marizes , também foi o álibi de muitos outros povos que sonhavam em granjear poder e influência – mas não tiveram muito sucesso e foram dizimados por outras “idéias” mais “poderosas”-.A idéia de deus foi uma arma evolutiva dos seres humanos, muito útil em épocas onde grupos humanos lutavam diariamente para sobreviver – e muito útil ao longo da história, a líderes religiosos que pretendiam (e pretendem) granjear fortuna e influência.
A idéia de deus é como analisado, uma idéia muito antiga e, como outras idéias de outrora, obtusa e anacrônica – não é de se surpreender que em tempos modernos, não se pratique mais boa parte desses absurdos bíblicos , seria um retrocesso à pré história.Querer hoje, no século XXI, justificar comportamentos bárbaros de 5 mil anos atrás ( e basear os seus arbítrios e julgamentos nesses mesmos), é no mínimo um retrocesso à bestialidade de tempos já enterrados pelo progresso humano.