terça-feira, 4 de agosto de 2009

O Leão, o Cordeiro e o Pavão

Não é um novo título das Crônicas de Nárnia. Gentilmente cedido por Roberto Vargas, um amigo da blogosfera, o post abaixo é uma excelente alegoria de uma experiência dele com um incrédulo. Leiam com atenção para acompanhar o raciocínio do Roberto. Como disse, não é o título de um novo filme, mas quem poderíamos chamar assim, não acham?
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Um Conto (nada) Fantasioso!

Em Nárnia, mundo mágico criado por C.S. Lewis, os animais são inteligentes e falam. Vários outros seres fantásticos vivem naquele mundo. Ou viviam, porque Nárnia já passou seu "fim dos tempos", que na verdade é apenas a primeira página de um livro sem fim! Peço licença a Jack para usar as imagens narnianas para um breve conto. Ele não faz justiça aos originais nem de longe, mas acredito que Jack não o reprovaria de todo:

Nos útimos tempos de Nárnia, uma época de grande apostasia, vivia um Pavão. Uma ave muito astuta, considerada muito sábia entre os seus. Nesta mesma época, bem perto de onde vivia o Pavão, vivia também um Cordeiro. O Cordeiro, muito novo ainda, era um legítimo seguidor de Aslam.

Numa bela manhã de Nárnia, ambos resolvem passear pelo campo. Encontraram-se assim e iniciaram um diálogo.

- Bom dia, senhor Pavão - disse o Cordeiro.

- Bom dia, Cordeiro - respondeu o Pavão.

- Bela manhã, não?

- Sim, muito bela.

- Graças a Aslam por ela!

- Oh, não a estrague com esta lorota a respeito de Aslam!

- Por que estragaria se a manhã é obra dele?

- Porque Aslam simplesmente não existe. Nem ele, nem as crenças que o envolvem, nem todas estas histórias a respeito dele. Ninguém que seja intelectualmente honesto pode crer nestas bobagens.

- Ora, e em que alguém que seja intelectualmente honesto pode crer?

- Apenas naquilo que for passível de justificação por argumentos válidos!

- Ah, sim. Agora vejo! Mas deixe-me entender melhor. Conversamos sempre de acordo com as regras da lógica, não?

- Sim, claro! Sem as regras da lógica não podemos argumentar!

- Claro, queria apenas saber se concordamos a respeito disso. Também estamos conversando agora, não estamos?

- Que pergunta! Claro que estamos.

- Oh, não se zangue comigo. Preciso entender bem as coisas. Deixe-me fazer mais algumas perguntas e então poderei dizer se realmente entendo o que você me diz.

- Tudo bem, vá em frente.

- Sei que você gosta muito de ler livros, principalmente aqueles que falam sobre os assuntos muito difíceis que a razão procura entender, não é verdade isso?

- Sim, eu considero a razão a autoridade máxima sobre o pensamento, a juíza sobre todas as coisas. Por isso é que só aceito como racional aquilo que pode ser provado por argumentos válidos.

- Entendo. Mas me diga, você precisa mesmo de argumentos para saber que os livros que você lê são escritos por quem dizem ser?

- Ora, por que precisaria? É óbvio que foram. Assim diz a história.

- Mas isso não é argumento. É um testemunho, quero dizer, é uma observação direta de alguém e sobre a qual você tem confiança. Da mesma forma que você não argumenta para saber que está conversando comigo. Você simplesmente me observa, fala comigo e crê que estamos conversando. Você se considera irracional por isso?

- Claro que não, mas isso é completamente diferente...

- Desculpe-me interrompê-lo, mas não é diferente. Você não disse que sem as regras da lógica não podemos argumentar? Então deve aceitar as consequencias lógicas do que afirma.

- Sim, mas...

- Desculpe-me interrompê-lo de novo, mas deixe-me terminar meu raciocínio... As próprias regras da lógica são autoevidentes e, portanto, não são passíveis de argumentação. Se você crê que racional é apenas o que pode ser justificado por argumentos válidos e, ao mesmo tempo, também crê que é racional a lógica e aquilo que crê por observação direta ou por testemunho, então ou você é, por seu próprio critério, intelectualmente desonesto ou irracional...

- Não precisa me xingar!

- Não estou xingando, estou apenas seguindo seu próprio raciocínio. Além do mais, foi você que me chamou de irracional primeiro ao dizer que minhas crenças o são. De qualquer forma, ou se conclui isso ou sua noção de justificação apenas por argumentos válidos é falsa.

- Pois não me convenceu com esse papinho todo. Suas crenças são mera fantasia.

- Pode ser, mas não pelos seus critérios. Segundo eles, como eu disse, ou você também crê em fantasias ou seu critério está errado. Qualquer que seja o caso, que autoridade você tem para criticar minhas crenças?

- E o que entende você, seu cordeirinho? Tenho toda uma instrução que você não tem. Sei muito mais do que você sonha em aprender! Aponte-me textos que comprovem o que você diz!

- Muito bem, senhor Pavão, eu admito minha ignorância sobre muitos assuntos que você, provavelmente, domina. Mas textos não tem a ver com a argumentação que você mesmo exigiu para provar a racionalidade de algo. Entendo que esta mudança de atitude não nos levará a lugar algum. Eu, pelo menos, estou lhe dando a oportunidade de reconhecer o erro de seu critério.

- Se você não é capaz de apresentar textos então não tenho qualquer desejo em sua companhia.

- Tudo bem, se argumentos não são suficientes, textos serão de pouca ajuda mesmo que eu os apresente. Despedimo-nos aqui então. Tenha uma boa vida, a melhor que lhe apetecer!

E foi assim, então, que o Pavão pavoneou-se e se retirou todo empertigado em sua pretensão de superior conhecimento. Se, a partir daí, ignorou ou procurou agredir ou desqualificar o Cordeiro não se sabe, pois ninguém que conheço lhe deu mais atenção.

O Cordeiro, por outro lado, continuou procurando conhecer e entender as coisas. O melhor que sua falha razão poderia fazer, mas sem deixar de buscar o auxílio da Sabedoria! Ele não estava entre aqueles que lutaram a Última Batalha, pois vivera num período pouco anterior. Mas estava entre aqueles ao lado direito do Rei no dia de Aslam!


Neste nosso mundo também existem pavões falantes, embora em peles de animais racionais. Homens, é claro! Eles nem de longe são tão infantis quanto este de Nárnia, mas nem por isso deixam de cair nos mesmos erros. Um deles travou diálogo semelhante comigo. A este tenho apenas a dizer, num último comentário antes de nos despedirmos definitivamente, que não entrarei mais em quaisquer razões com ele, pois já sei de que tipo elas são. Estas são minhas últimas palavras a este respeito. O fato é que a arrogância de tais homens não vale minha educação para com eles!

Porém, quanto ao que realmente me interessa, ainda aqui nas "Terras Sombrias", aguardo o dia em que ouvirei: "Acabaram-se as aulas: chegaram as férias! Acabou-se o sonho: rompeu a manhã"!

Soli Deo Gloria!

Fonte: http://robertovargas-make.blogspot.com/2009/03/um-conto-nada-fantasioso.html

Postado por Gaspar de Souza

2 comentários:

Roberto Vargas Jr. disse...

Caríssimo Gaspar,

Gentilmente cedido? Não, meu caro, eu fico lisonjeado e agradeço por você gentilmente divulgar o meu texto.

Abraço, na Sabedoria,
Roberto

Eli Lacerda disse...

Belíssima alegoria, e extremamente edificante.

Abraços,
Elí