sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

COMO SE CRIA UM TERRORISTA SUÍCIDA

Reportagem do BBC Online revela como se faz um "militante suícida". Trata-se da história de Meena, cuja família simpatiza com o "Talibã". Agora, eu pergunto: Cadê os "Direitos Humanos"? Ah, tá! Não existem "direitos humanos" nos Países Árabes. Lá, sim, é uma "Democracia", não é? Leiam e deixem seu comentário.

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Adolescente diz que família tentou transformá-la em militante suicida no Paquistão


Uma menina de 13 anos afirmou à BBC que sua família, simpatizante do movimento fundamentalista Talebã, tentou transformá-la em uma militante suicida no Paquistão.

O relato abaixo, feito pela garota - chamada Meena -, não tem confirmação independente, mas a polícia diz que acredita que ela esteja falando a verdade e que as informações prestadas por ela são úteis.

Leia abaixo o que Meena contou à repórter da BBC Orla Guerin.

O meu irmão costumava me dizer que o lugar de uma mulher é em casa ou no túmulo. Eu sempre fiquei confinada em casa.

Ele disse: "Se você sair da casa eu vou cortar a sua cabeça e colocá-la no seu peito”.

O meu irmão tinha ido à escola local e batido nas meninas e professoras.

Ele disse que qualquer pessoa que quisesse estudar era um "amigo dos Estados Unidos".

Eu queria ser médica. Eu queria tanto que uma vez sonhei que estava sentada em um hospital, trabalhando como médica. Eu queria ajudar os pobres, os que não têm como pagar consultas.

Comandantes do Talebã costumavam vir à nossa casa. Tinha um bunker subterrâneo ao lado da casa, com energia elétrica.

Era de concreto e muito forte. Os carros passavam por cima dele, mas ninguém percebia o que tinha embaixo. Eles costumavam usar o esconderijo para treinar militantes suicidas.

A maioria era de crianças da minha idade ou mais jovens. Elas estavam acostumadas a estas atividades porque eram pequenas demais para conhecer outra realidade.

'Paraíso'

Eu costumava ver estas crianças entrarem em um veículo e saírem para suas missões. Eles tocavam CDs islâmico para motivá-las.

E eu pensava, "Meu Deus, mais muçulmanos vão ser enterrados". Aí vinham as notícias de que mais muçulmanos tinham sido mortos.

O meu irmão costumava preparar bombas e a minha cunhada também. Ele me disse que iria me ensinar. Eu disse que não. Eu nem olhava o que eles estavam fazendo.

O meu pai e o meu irmão me mandaram realizar um ataque suicida. Eles estavam me pressionando a fazer isso.

Eles me diziam: "Se você fizer isso, vai para o paraíso muito antes de nós." Eu respondia: "Por que vocês não me dizem que eu vou para o inferno muito antes de vocês?"

Todos os dias eles me diziam isto. Todos os dias. Eu era muito jovem quando eles começaram a dizer isso. Eu falei para eles: "E todas as pessoas que vou matar? Elas são todas muçulmanas."

Eles começaram a me bater quando eu me recusei. Eles me bateram sem parar. Eles transformaram a minha vida em um inferno. Eu nunca tive um único momento de felicidade. Eles fizeram tudo, menos me matar.

'Remédio' para o suicida

Eles disseram: "A bomba estará ligada a um botão ou alguma coisa como um controle remoto de televisão. Nós daremos a você este tipo de controle remoto, e você vai para o local."

"Nós também daremos a você um celular, e vamos telefonar e apertar o controle remoto, e você vai explodir com esta bomba".

Eles me disseram que usariam uma quantidade tão grande de explosivos que ninguém nem saberia se era um homem ou uma mulher o responsável pelo ataque.

Eles me disseram que eu tinha que fazer isso.

Tinha um tipo de remédio que eles costumavam dar a militantes suicidas que fazia com que eles ficassem sorridentes, em um transe.

Eles disseram que me dariam aquele remédio, e que eu iria correndo para morrer - com um sorriso. Eu fiquei tão apavorada que decidi preparar meu próprio chá e minha própria comida.

Irmã

Eles amarraram uma bomba na minha irmã, Nahida. Eles amarraram peças retangulares aos dois braços dela, e uma faixa preta em volta das duas pernas dela.

Aí eles conectaram a coisa toda. Ela disse para o meu irmão que a bomba era pesada e que ela não conseguia andar.

Ele disse que ela ficaria mais confortável quando estivesse sentada no carro.

Eles deram o remédio para ela. Mas ela gritava alto pela minha mãe. Ela se dirigia (à mãe) e a abraçava. Quando a minha irmã olhou pra a bomba, ela tremeu.

Aí o meu irmão e o meu pai começaram a bater na minha mãe, e eles gritaram: "Porque você está distraindo a menina da missão dela?"

Eu ouvi a minha irmã dizendo: "Onde está a Meena? Eu quero vê-la." Mas eu não tenho forças. Meu coração não aguenta.

A minha mãe desmaiou quando eles colocaram a minha irmã no carro. O meu irmão disse que o atentado da minha irmã era no Afeganistão.

Eu sempre penso na minha irmã. Ela era saudável e uma menina muito boa. Ela era mais jovem do que eu, mas era mais sábia. A minha mãe costumava me dizer que eu era uma idiota e ela era muito sábia.

Cabra 'da sorte'

O meu irmão estava envolvido no atentado no mercado Khyber Bazaar (na cidade fronteiriça de Peshawar, em outubro de 2009, em que mais de 50 pessoas morreram). Isso foi discutido em casa.

Quando alguém era enviado a algum lugar eles conversavam sobre o alvo.

Eles diziam: "Nós estamos enviando este grupo lá".

Depois dos atentados, eles costumavam comemorar. Eles colocavam colares de flores uns nos outros, como as pessoas faziam quando voltavam do Hajj (peregrinação à Meca).

Quando (a ex-primeira-ministra do Paquistão) Benazir Bhutto morreu, o meu irmão começou a telefonar para todo mundo. Eles começaram a atirar e diziam "Benazir morreu, Benazir morreu". Todo mundo começou a atirar - eles comemoraram até bem tarde.

O meu irmão visitou a casa de um amigo e ganhou uma cabra e uma motocicleta, que trouxe para casa.

Eles costumavam ganhar animais de presente porque havia muitos membros do Talebã para alimentar. Ele me pediu para cuidar da cabra, mas ela fugiu pela porteira. Eu fui atrás dela.

A nossa casa ficava em uma colina. Tinha um córrego mais para baixo. Ela seguiu para o córrego e eu a segui. Um avião passou e fez muito barulho, e teve vibração (este foi um ataque por um helicóptero).

Quando eu olhei de novo para a minha casa, tudo o que pude ver foi uma coluna de fumaça. A minha casa estava em escombros.

Eu não tinha ideia de quantos membros da minha família estavam vivos. Como o local estava cheio de armas e explosivos, eu ouvi grandes explosões.

Aí eu comecei a andar e, na hora das orações do final da tarde, eu cheguei a uma cidadezinha.

As pessoas dizem que eu tenho um coração forte. Eu tinha que ser forte. O que eu podia fazer? Deus não me deixou nem morrer.

Se o meu irmão me pegar, eu vou envenenar a ele e a mim.

O Talebã manda para a morte os filhos de outros. Eles transformam mulheres em viúvas. Eles deveriam sofrer também.

Eu quero que estes membros do Talebã sejam queimados vivos.

Fonte: BBC Online

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