Por Douglas Groothuis
Sumário
O mundo evangélico hoje sofre de uma
anemia apologética. Apesar do fato das Santas Escrituras convocarem os Crentes
a dar razão da esperança que nós temos em Cristo (1 Pedro 3.15; veja também
Judas 3), falta-nos uma voz pública no mercado de ideias para a verdade e a razão.[1] Nós
não temos uma presença intelectual forte na cultura popular ou acadêmica (embora
algumas áreas, tal como a filosofia, sejam mais influenciadas por evangélicos
que por outros). As razões para esta anemia são multidimensionais e complexas.
Três livros recentes exploram a falta
de uma “Mente Cristã” no evangelicalismo contemporâneo, e eu fortemente
recomendo tais livros. O livro de Mark Noll, The Scandal of the Evangelical Mind (Eerdmans, 1994), explora as
raízes históricas do antiitelectualismo evangélico. O livro Fit Bodies, Fat Minds (Baker Books,
1994), de Os Guinness, discute alguns dos problemas históricos e também esboça o
que a mente cristã deve ser. Por fim, o livro Love Your God with all of Your Mind (Navpress, 1997), de J.P.
Moreland, explica porque os Cristãos não pensam, não desenvolvem uma teologia bíblica
da mente,[2] e
oferecem argumentos e estratégias apologéticas úteis para capacitar
intelectualmente a igreja.
Meu modesto propósito neste texto é
fornecer brevemente seis fatores que inibem ilegitimamente o compromisso
apologético hoje. Se estas barreiras forem removidas, nosso testemunho
apologético poderá se transformar naquele que seria de Cristo.
Muitos cristãos não parecem se
importar que o Cristianismo seja rotineiramente ridicularizado como
ultrapassado, irracional e tacanho em nossa cultura. Eles podem queixar-se que
isto os “ofende” (assim como todo mundo reclama que uma coisa ou outra os
“ofendem”), mas eles fazem pouco para combater as acusações por oferecer uma
defesa da cosmovisão cristã em uma variedade de ambientes. No entanto, a
Escritura ordena que todos os Cristãos têm uma razão para a esperança que está
dentro deles e ordena apresentá-la com mansidão e respeito ao incrédulo (1
Pedro 3.15). Nossa atitude deveria ser aquela do Apóstolo Paulo que ficou
“muito angustiado” quando viu a sofisticada idolatria em Atenas. Este zelo pela
verdade de Deus levou-o a um encontro apologético frutífero com os pensadores
reunidos para debater novas ideias (Cf. Atos 17). Deve também ser para nós. Assim
como Deus “amou o mundo” e que enviou Jesus para nos reconciliar com Deus (João
3.16), os Discípulos de Jesus também deveriam amar o mundo que eles se esforçam
para alcançar os perdidos apresentando-lhes o Evangelho e respondendo objeções
à Fé Cristã (João 17.18).
Para alguns Cristãos, fé significa
crer na ausência de evidência ou argumentos. Pior ainda, para alguns fé
significa crer apesar da prova em contrário. [Quanto mais] irracionais nossas crenças,
melhor – mais “espirituais” elas são. Embora Paulo ensine em 1 Coríntios 1 e 2
que Deus tornou tolice “a sabedoria deste mundo”(porque ela é falsa sabedoria),
a Revelação de Deus não é irracional; nem deve a crença nela ser sustentada irracionalmente.[3] Deus
não exige de nós a suspensão de nossas faculdades críticas a fim de crer
naquilo que tem dado a conhecer. Por meio do profeta Isaías, Deus declara a
Israel: “Vinde e arrazoemos”(Isaías
1.18). Jesus nos ordenou a amar a Deus com toda a nossa mente (Mateus 22.37). Quando
Cristãos optam pelo irracionalismo, eles apenas se tornam mais uma “opção religiosa”
e são classificados ao lado [de religiões] como Heaven’s Gate [Portão do Céu] ou a Flat Earth Society [Sociedade da Terra Plana] e outros grupos
intelectualmente deficientes. No rastro do suicido de Heaven’s Gate, as mais importantes revistas como a Esquire, Newsweek e US News and World
Report afirmaram que a fé daqueles que acabaram com suas vidas de acordo
com a religião da ficção científica Marshall
Applewhite não seria estranho para
Cristãos que também acreditam em coisas ridículas. Infelizmente, o comportamento
de alguns Cristãos dá impulsos a tais acusações.
Muitos Cristãos não estão
conscientes dos enormes recursos intelectuais disponíveis para defender a “fé
que uma vez foi dada aos santos”(Judas 3). Isso porque muitas das principais
igrejas e organizações paraeclesiásticas praticamente ignoram a Apologética. Um
dos principais ministérios no campus [universitário], com uma ótima história e
um excelente programa, de qualquer forma não oferece material para auxiliar aos
estudantes a lidar com a descrença que emana de seus professores seculares. Poucos
sermões evangélicos quase nunca abordam temas sobre as evidências da Existência
de Deus, a Ressurreição de Jesus, a Justeza do Inferno, a Supremacia de Cristo ou
os problemas lógicos com as visões não-Cristãs. Bestseller Cristãos, com raras exceções, entram em especulações apocalípticas
infundadas, exaltam celebridades cristãs (cujos personagens frequentemente não se
encaixam com tal notoriedade) e deleitam-se com métodos “faça você mesmo”. Você
pode dizer muito sobre um movimento pelo que lê e pelo que não lê.
Em uma cultura pluralista, uma atitude
“viva e deixe viver” é a norma, e ceder a apelos da pressão social assombra o
evangelicalismo, drenando as suas convicções. Muitos evangélicos também estão mais
preocupados em serem “bacanas” e “tolerantes” do que serem bíblicos ou fiéis ao
Evangelho exclusivo encontrado em suas Bíblias. Não basta aos evangélicos estarem
dispostos a apresentar e defender sua fé em situações difíceis, seja na escola,
trabalho ou ambiente público. A tentação é de privatizar a fé, separá-la e
isolá-la inteiramente da vida pública. Sim, somos Cristãos (em nossos corações),
mas temos dificuldades de envolver alguém no que cremos e por que cremos. Isto não
é nada menos que covardia e traição do que dizemos crer. Considere a exigência inspirada
de Paulo para a oração e sua admoestação a nós: “Perseverai em oração, velando nela com ação de graças; orando também
juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de
falarmos do mistério de Cristo, pelo qual estou também preso; para que o
manifeste, como me convém falar. Andai com sabedoria para com os que estão de
fora, remindo o tempo. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com
sal, para que saibais como vos convém responder a cada um”(Colossenses 4.2 –
6).
Nós podemos esperar rejeição, mas
Jesus chama a aqueles que são perseguidos por amor de seu nome de “bem-aventurados”:
“Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo,
disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é
grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que
foram antes de vós”(Mateus 5.11, 12).
O Apóstolo Pedro ecoa as palavras de
seu Mestre: “Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois,
porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus”(1 Pedro 4.14)
Por outro lado, quando o Espírito
Santo abençoa nossos esforços, as pessoas respondem com interesse e, até mesmo,
com fé salvadora (Romanos 1.16). Nunca devemos esquecer que Jesus tem toda
autoridade no céu e na terra, e que ele nos comissionou a declarar e defender
seu Evangelho (Mateus 28.18 – 20).
No outro extremo do espectro de
erro, está a arrogância do “apologista sabe-tudo” que está mais interessado em
mostrar seu arsenal de argumentos do que defender a verdade de maneira piedosa.
O pecado que assedia a apologética é o orgulho
intelectual, e deve ser evitado a todo custo. A verdade que defendemos é um dom
da graça, não de nossa conquista intelectual. Desenvolvemos nossas habilidades apologéticas
para nos santificar na verdade, conquistar almas para Jesus, e glorificar a
Deus. Nós devemos “falar a verdade em amor”(Ef. 4.15). Verdade sem amor é
arrogância; amor sem verdade é sentimentalismo.[4]
Arrogância também ocorre quando
alguns apologistas acusam outros crentes sem prova suficiente. Paulo disse aos
líderes da igreja que eles deveriam esperar heresias no meio da igreja e estarem
em guarda contra elas (Atos 20.28 – 31). Deveríamos fazer o mesmo. Todavia, devemos
estar atentos para não difamar companheiros Cristãos ou assumir o pior sobre
eles. Sei deste erro na própria pele, tendo sido acusado uma vez de ser um
adepto da Nova Era porque um crítico horrivelmente interpretou mal uma porção de
um de meus livros anti-Nova Era, Unmasking
the New Age! Não vamos gastar nossas energias apologéticas atacando outros
crentes quando hereges reais e incrédulos clamam por refutação e correção.
Alguns que ficam animados com apologética
podem se tornar contentes com respostas superficiais às questões intelectuais difíceis.
Nossa cultura se contenta com respostas rápidas a muitas coisas, e a técnica está
dominando. Alguns Cristãos memorizam respostas prontas para questões apologéticas
– tais como o problema do mal ou a controvérsia Criação-Evolução – que eles dispensam
sem um tratamento adequado das questões e sem uma preocupação empática pela
alma que levanta a questão. Uma vez vi um pequeno livro com um título como algo
do tipo “The Handy, Dandy Evolution
Refuter”. Sim, a macro-evolução é falsa, e bons argumentos têm sido
trazidos contra ela, tanto da Natureza, quanto das Escrituras, mas o assunto não
é tão simplista como o título do livro faz parecer.[5] Apologética
deve ser feita com integridade intelectual.
O moto apologético de Francis
Schaeffer era que deveríamos dar “respostas
honestas para questões honestas”. Primeiro, devemos realmente ouvir a questão
perguntada ou a objeção levantada. Devemos entrar na mente daqueles que estão apresentando
razões para não seguir a Cristo. Cada pessoa é diferente, não importa o quão comum
algumas objeções céticas possam parecer. Não reduza as pessoas a clichês.
Segundo, responda o que você ouviu. Não
responda questões que não foram perguntadas. Tal abordagem superficial não vai
impressionar o incrédulo que pensa. Se no momento você não pode oferecer uma
resposta sólida para a objeção, não tente ocultar sua ignorância ou
incapacidade. Honestamente admitir suas limitações é melhor que dar uma
resposta fajuta. Fale para a pessoa que este é um bom ponto e que você precisa
pensar mais sobre isso. O Cristianismo é absolutamente verdadeiro; mas isto não
implica absolutamente que qualquer Cristão possa tratar com toda objeção levantada
contra ele. Deveríamos evitar técnicas apologéticas e, em lugar disso,
desenvolver recursos intelectuais e cultivar um diálogo real com os descrentes.[6]
Walter Martins disse corretamente
que a igreja evangélica era um gigante adormecido e ele esforçou-se
poderosamente para despertar todo o seu potencial dado por Deus para apresentar
o Evangelho e defendê-lo contra objeções céticas e cultuais. Com seu legado em
mente, possamos reavivar esta visão e encontrar paixão e sabedoria para por em
prática por meio do poder do Espírito Santo(Atos. 1.8).
O Dr. Douglas
Groothuis (N.T – pronuncia-se Grote–Hice)
é um filósofo Cristão, Professor de Filosofia no Denver Seminary. Também é
pregador do Evangelho e Escritor. Autor de onze livros, sendo um deles Christian
Apologetics – A Comprehensive Case for Biblical Faith (InterVarsity
Press, 2011). Suas áreas de especialização em Filosofia são Ética e Cultura Contemporânea,
História da Filosofia Moderna e Filosofia da Religião. Especialista em Blaise
Pascal, Dr. Groothuis possui muitos outros livros sobre Cultura, Filosofia, Tecnologia
e Apologética. Atualmente ele é o responsável pelo programa de Apologética Cristã
e Ética no Denver Seminary. Visite seu site:
The Constructive Curmudgeon.
Traduzido por Gaspar de Souza.
Agradeço ao Dr. Groothuis
a autorização para tradução desta importante advertência aos apologistas.
[1]
Se o autor fala isso de seu contexto, o que diremos de nosso contexto
brasileiro? [Nota do Tradutor]
[2] Em compasso
com a filosofia da mente, área de interesse do Dr. Moreland, com livros e
artigos acadêmicos publicados. [Nota do Tradutor]
[3] Para explicação das passagens bíblicas que,
supostamente, ensinam que a fé não é racional, veja J.P. Moreland, Love God
With All of Your Mind (Colorado Springs,
CO: NavPress, 1997), 57-61.
[4] Sobre isto, veja Douglas
Groothuis, "Apologetics, Truth, and Humility," Christian
Research Journal (Spring 1992), p. 7.
[5] Para uma forte introdução
a este assunto, veja Philip Johnson, Defeating Darwinism by Opening
Minds (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1997). Nota do Tradutor: Este livro encontra-se em português, Como
Derrotar o Evolucionismo com as Mentes Abertas(Editora Cultura Cristã,
2000).
[6] Veja Dialogical
Apologetics by David Clark (Grand Rapids, MI: Baker Books, 1993).
Um comentário:
É um blog encantador encontrei o seu blog enquanto navegava pela net, não li muito, mas gostei do que vi e li,espero voltar mais algumas vezes,deu para ver a sua dedicação e claro sempre aprendemos ao ler blogs como o seu.
Se me der a honra de visitar e ler algumas coisas no Peregrino e servo ficarei radiante, e se desejar deixe um comentário.
Abraço fraterno.António.
Peregrino E Servo.
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