Antes de dar sua
avaliação final da importância do Evidencialismo[1],
considere a racionalidade de minha avó. Minha avó nunca ouviu falar em
Argumentos Cosmológicos e Ontológicos ou Argumento do Design; e mesmo que
tivesse, não está claro se ela imediatamente pensaria neles ou ficaria
fascinada com suas críticas sofisticadas. Agora, minha avó não é uma pessoa
atípica: ela é uma mulher de fé comum (embora ela seja uma avó extraordinária!)
Se o Evidencialismo é verdadeiro, então minha avó tem um defeito noético[2] – ela crê em Deus sem evidência proposicional suficiente. Prefiro olhar a
questão em favor de minha avó. Minha avó não tem um defeito noético, daí o
Evidencialismo ser falso. É difícil para
mim imaginar que Deus a colocou em uma situação cognitiva que a fez com que sua
crença em Deus fosse positivamente irracional. Sou constrangido pela bondade de
Deus a crer que ele a tem criado com faculdades noéticas que produzem crenças
Nele em circunstâncias apropriadas.
Por que considerar a
experiência de minha avó? Creio que o Evidencialismo, motivado por uma busca de
certeza matemática para todas as crenças, tem oferecido um paradigma impróprio
da racionalidade. A Concepção Iluminista de racionalidade, como temos
demonstrado, é estranha à nossa experiência de crença. Ela reduz a
racionalidade ao modelo de calculadoras: mero algoritmo para calcular as
consequências dedutivas das crenças que são independemente verificadas. Quanto mais
próximo uma vida mental se assemelhar ao funcionamento de um computador, mais provável
que seja racional. Se os argumentos dos capítulos anteriores são persuasivos, então
deve ficar claro que a cognição humana é muito diferente de cálculos de
computador. A racionalidade não é simplesmente uma relação obtida entre as crenças
de alguém. Pelo contrário, é uma relação complexa entre o aparelho cognitivo –
divinamente projetado –, a experiências de alguém e o do mundo.
Se alguém tentar
preservar as crenças consideradas de crentes comuns, então a teoria da
racionalidade parecerá mais próxima das Teorias de Epistemólogos Reidiano[3]
e Reformados. A Epistemologia Teísta
preserva a racionalidade de minha avó.
A Epistemologia
Iluminista Clássica, com sua concepção excessivamente rigorosa da racionalidade
e de sua avaliação indevidamente negativa da racionalidade das crenças religiosas
foi achada em falta. A objeção Evidencialista à crença em Deus, pobremente
enraizada no Fundacionalismo Clássico[4],
tem sido seriamente desafiada. Uma Epistemologia Teísta ao longo das linhas
desenvolvidas por [Thomas] Reid e [Alvin] Plantinga parece captar com mais precisão
as nossas intuições sobre a estrutura das crenças racionais. As pretensões do
raciocínio têm sido descobertas, sinalizando um retorno à razão e à crença em Deus.
Fonte: CLARK, Kelly James. Returnto Reason: A Critique of Enlightenment Evidentialism and a Defense of
Reason and Belief in God. Grand Rapids, Michigan: Eerdmans Publishing Company,
2001, p. 157, 158.
Tradução e Notas de
Rodapé por Gaspar de Souza
[1] “O Evidencialismo
sustenta que uma crença é racional para
uma pessoa apenas se aquela pessoa tiver evidência, argumento ou razão suficiente para suas crenças”(Kelly
James Clark, idem, p. 3). William K. Clifford (1845 – 79) em uma
palestra disse: “é sempre incorreto, por toda parte e para qualquer pessoa,
acreditar em qualquer coisa sem evidência [prova] suficiente”(The Ethics of Belief. IN: STEPHE, Leslie; POLLOCK, Frederick(ed). Lectures and Essays. London: Macmillan and Co., 1879, p. 186). Estas palavras resumem a posição Evidencialista em
sua versão mais forte. Segundo esta teoria epistemológica, temos a “responsabilidade
moral” de crer apenas na presença de evidências ou provas. É possível que
Clifford não tivesse as “crenças religiosas em mente”, mas é exatamente às crenças
religiosas que se aplica o princípio de Clifford. Assim, espera-se que haja “provas
suficientes” para, por exemplo, a Existência de Deus. Abaixo um resumo parcial do verbete Evidencialismo em: VANARRAGON, Raymond
J. Key Terms in Philosophy of Religion.
London and New York: Continuum, 2010, 168p. (p. 35, 36)
“O Evidencialismo pensa em apresentar-nos uma afirmação geral sobre a justificação
para todas as crenças, muitas vezes
aplicados especificamente às crenças religiosas e, particularmente, à crença em
Deus. É por isso um tema central na
Filosofia da Religião. Isso põe um desafio às crenças teístas, um desafio que
pode ser posto em termos de argumentos como se segue:
- Se existe evidência [prova]
insuficiente para a Existência de Deus, então é incorreto ou irracional
crer que Deus existe.
- Não existe evidência suficiente
para a Existência de Deus.
- Então, é incorreto ou irracional
crer que Deus existe.
Se este argumento válido, então você não deveria crer em Deus. Mas,
claro, muitas pessoas creem que Deus
existe, e não estariam contentes com a conclusão de que é incorreto ou
irracional para eles fazerem assim. Eles desejarão rejeitar o argumento e a
maneira sensata de fazer isso seria questionar uma das duas premissas. (Outra
forma de rejeitar um argumento é demonstrar que as premissas não apoiam a conclusão;
porém, eles fazem isso com esse argumento). Questionar a premissa (1) é
questionar o Evidencialismo em si, e muitos filósofos tem feito exatamente
isso. Alguns propuseram Argumentos Pragmáticos para crença em Deus, que fornecem
razões para crer em Deus na ausência de boas evidências, razões que geralmente
envolvem benefícios práticos que podem ser obtidos por acreditar em Deus.
Outros defendem a Epistemologia Reformada, afirmando que podemos,
justificadamente, começar com a crença
em Deus, e não precisam fornecer evidências ou argumentos para isso.
Alguns filósofos e
teólogos têm atacado a premissa (2) do Desafio Evidencialista apresentando
argumentos para a Existência de Deus. Em outras palavras, eles argumentam que existe evidência suficiente para a Existência
de Deus e, então, que podemos ser perfeitamente justificado em crer em Deus. Esta
tentativa de chegar às provas suficientes para existência de Deus é conhecida
como o projeto da Teologia Natural”.[Nota doTradutor]
[2] A “Estrutrua
Noética”, segundo Alvin Plantinga, "é
o conjunto de proposições que alguém crer, junto com certas relações
epistêmicas que mantêm entre ele e essas proposições"(PLANTIGA,
Alvin. Reason and Belief in God. In: WOLTERSTORFF,
Nicholas(ed). Faith and Rationality:
Reason and Belief in God. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2009, p.
48). Para mais informações, consulte (Warrant: The Current Debate. New York: Oxford University Press, 1993, cap.
4[p. 74ss]). Na base dessa estrutura encontram-se crenças adquiridas
imediatamente, ou seja, sem apoio de outras
crenças, com graus diferenciados
e profundidade ingressão, ou seja, crenças
são mais profundas e outras mais periféricas nesta Estrutura Noética, como, por
exemplo, 2+2=4 é imediata e básica e não precisa de outras crenças para
apoiá-la. Porém, 1456 * 354 = 515424 não
é básica, mas creio nela porque creio que 2+2=4. Outras crenças básicas em
minha estrutura noética são “o céu é azul” ou “eu creio que tomei café da manhã”.
[Nota doTradutor]
[3] Thomas
Reid (1710 – 1796), filósofo presbiteriano escocês e fundador da filosofia do “senso
comum”, tornando-se um crítico da teoria da impressão e das ideias articuladas
por David Hume. “Thomas Reid acusou que, supostamente, a teoria da percepção representativa
encontrada em Descartes e em Locke havia sido como o Cavalo de Troia filosófico
que conduziu diretamente ao desespero cético”(AUDI, Robert. The Cambridge Dictionary of Philosophy. 2nd. Cambridge, 1999. p. 399. Ver também, pp.
783 – 787). A filosofia do senso comum advoga que existem princípios que
não se podem deixar de acreditar porque estão no caminho que estamos trilhando.[Nota
doTradutor]
[4]
Para uma excelente exposição e crítica ao Fundacionalismo Clássico, veja GOMES,
Davi Charles. A Suposta Morte da
Espistemologia e o Colapso do Fundacionalismo Clássico. In: FIDES
REFORMATA. n. 5, vol. 2, 2000. Disponível em: .
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