O resgate dos de 33 mineiros no Deserto do Atacama, no norte do Chile, que ficaram soterrados desde o dia 5 de agosto até o dia 13 de setembro a uma profundidade de quase 700 metros, nos faz levantar algumas perguntas em termos de cosmovisão. O custo da operação de resgate ficou em aproximadamente 22 milhões de dólares!
Diante de todo este esforço – até a NASA, Agência Espacial Americana, esteve envolvida, cedendo a cápsula Phoenix 2, decorada com as cores pátrias chilenas – fica a pergunta: se o Darwinismo fosse verdadeiro em sua base filosófica, qual o motivo básico, dentro de sua cosmovisão, para envidar estes esforços no resgate de 33 pessoas?
A pergunta pode não aparentar as razões contraditórias subjacentes à Teoria da Evolução em sua modalidade naturalista-ateísta (isto porque existem alguns que defendem uma espécie de evolucionismo teísta).
Desde 1874, o Dr. Charles Hodges de Princenton em seu livro What Is Darwinism? já havia percebido que Darwinismo é Ateísmo. Veja suas palavras (p. 176, 177):
Se Mr. Darwin acredita que os eventos que ele supõe terem ocorridos e os resultados que vemos ao nosso redor não são dirigidos e não são projetados; ou se o físico acredita que as forças naturais que ele refere-se como fenômeno são não-causados e não-dirigidos, nenhum argumento é necessário para mostrar que tais crenças são ateístas. Então, temos chegado à resposta de nossa pergunta, O Que é Darwinismo? É Ateísmo. Isto não quer dizer que o próprio Mr. Darwin e todos que adotam esta visão são ateístas; mas quer dizer que sua teoria é ateísta.
Porém, é exatamente no teste da experiência prática, ou seja, na aplicação prática da cosmovisão darwinista, que ele se mostra auto-contraditório. Senão, vejamos.
Darwinismo é, assumidamente, naturalista e/ou materialista. Ao admitir processos naturais de seleção natural não guiados e cegos, seja no surgimento da primeira vida, seja na formação atual do Ser Humano, percebe-se que o que há por trás desta teoria é a causalidade determinista para o que somos hoje.
Aqui reside o problema: num universo de causas materiais e leis físico-químicas, não-guiadas, nem orientadas, antes forçosamente deterministas, como pode haver espaço para o valor da vida?
Tentativas naturalistas não faltam para encontrar este valor em “leis cegas”. A última foi o livro de Sam Harris: "The Moral Landscape: How Science Can Determine Human Values”(Free Press, 2010, 304p). Na introdução do livro o autor afirma que
Os valores [morais], portanto, traduzem-se em fatos que podem ser cientificamente compreendido: a respeito das emoções positivas e negativas sociais, os impulsos retributivos, os efeitos de legislações específicas e as instituições sociais sobre as relações humanas, a neurofisiologia da felicidade e sofrimento etc.
E se houver diferenças entre as culturas e os níveis destas moralidades, estas
diferenças são fatos que devem depender da organização do cérebro humano. Em princípio, portanto, podemos explicar as maneiras pelas quais a cultura que nos define dentro do contexto da neurociência e da psicologia. Quanto mais nos entendemos no nível cerebral, mais vamos vendo que há respostas certas e erradas para as questões dos valores [morais] humanos.(grifos meus)
Entre os dias 20 e 22 de Junho de 2010, a Edge Foudation, Inc. promoveu uma Conferência em Washington sobre “The New Science of Morality”. A Conferência afirma em sua declaração n.º 1:
Como a linguagem, sexualidade ou música, a moralidade emerge a partir da interação das várias bases de construção psicológica dentro de cada pessoa e, a partir da interação de muitas pessoas dentro de uma sociedade. Estas bases são produtos da evolução, com a seleção natural desempenhando um papel crítico. O estudo científico da moralidade, portanto, exige o esforço combinado das ciências naturais, das ciências sociais e das ciências humanas (grifos meus).
Em entrevista ao site Amazon, Sam Harris transparece a tensão “racional-irracional” daqueles que tentam uma explicação puramente materialista para valores transcendentes. Ao ser perguntado se existem respostas “certa ou erradas para as questões morais”, Harris disse que
a moralidade deve incidir, em algum nível, para o bem-estar dos seres conscientes. Se houver formas mais ou menos eficazes para buscarmos a felicidade e para evitar a miséria do mundo – e claramente existem – então não há respostas certas e erradas para as questões de moralidade
O entrevistador então perguntou se isto não conduziria a um relativismo sobre a felicidade: “não há muitas situações nas quais a felicidade de uma pessoa pode significar o sofrimento de outra?” Harris sai com a pérola retórica:
Geralmente falando, as ocasiões morais mais importantes não são assim. Se eliminássemos a guerra, a proliferação nuclear, a malária, a fome crônica, o abuso infantil etc., estas coisas seriam boas, em geral, para todos. Há certamente razões neurobiológicas, psicológicas e sociológicas por que isto é assim – o que quer dizer que a ciência poderia nos dizer exatamente por que um fenômeno como o abuso infantil diminui o bem-estar humano.
A fraude da moral naturalista está na mesma proporção de explicar a unidade das coisas. A ciência pode explicar um cachorro, mas não pode explicar o que faz um cachorro, um cachorro. O darwinismo não pode explicar a bondade, a justiça, o belo ou por que “estas coisas seriam boas”. Assim, Harris não explica o que é felicidade, mas ele arvora-se em definir que existem “ocasiões morais mais importantes” que outras! Certamente Hitler ficou feliz com a matança de 6 milhões de judeus e considerou que aquela ocasião era moralmente “mais importante” que outras. Falta ao naturalista o fator que uma os universais dos Valores Morais (bondade, maldade, justiça, beleza etc) aos particulares dos atos morais.
Gosto de uma analogia feita pelo filósofo John Frame:
Os valores morais, afinal, são bastante estranhos. Nós não podemos vê-los, ouvi-los ou senti-los, mas não podemos duvidar que eles existam. Uma testemunha de um roubo de banco pode ver o ladrão caminhando para o banco, sacar a arma, falar ao atendente-caixa, pegar o dinheiro e ir embora. Mas a testemunha não vê o que talvez é o fato mais importante – o mal moral da ação de roubar” (Apologetic to the Glory of God, 1994, p. 93, 94).
Harris e os demais naturalistas querem nos convencer que isto está no cérebro!
Pois bem, no nível cerebral não somos mais do que processos físico-químicos que ocorrem numa massa cinzenta dos nossos neurônios impulsionados por propriedades elétricas. Neste caso, o problema mente-corpo, tão debatido na filosofia de nossos dias, entraria no campo da metafísica, coisa que os naturalistas não pretendem, bem como num determinismo deste desconhecido elemento; estariam anuladas as responsabilidades. Assim, surge a pergunta: se todo valor moral fundamenta-se num fenômeno cerebral ou sócio-político-econômico desenvolvido a partir da evolução e seleção natural, o que obriga a prática dos valores morais que promovam o bem-estar do Ser Humano? O que obrigou, dentro do arcabouço darwinista-naturalista, o resgate de 33 homens que, na visão darwinista-naturalista, não passam de “animais melhorados”, visto que “pessoalidade” ou “hombridade” não são resultados de fenômenos aleatórios de leis impessoais mas, certamente, de um Deus Único (Universal) e Triúno (Particulares), Pessoal (pessoalidade) e Infinito (valores infinitos).
Os darwinistas-materialistas-ateístas não são coerentes com sua base pressuposicional. Para serem coerentes, deveriam ver o ocorrido com os 33 mineiros como fatalismo; que eles não estavam aptos para próxima geração; que os cérebros de todos estavam, simultaneamente!, trabalhando para resgate de nada mais, nada menos, que um “conjunto de átomos, de químicas e células”. Podemos afirmar que, nisto, reside o “auto-engano” desta visão de mundo.
É possível agir moralmente correto se Deus não existisse?
Alguém talvez venha a perguntar: "Se Deus não existisse, você não seria moralmente correto?" Ora, SÓ há moralidade porque existe um Deus Pessoal. Nem mesmo o "imperativo categórico" kantiano resiste ao teste da subjetividade da moral da "regra áurea (Golden Rule)"(faça aos outros o que você gostaria que fosse feito a você), visto que o que falta é uma base objetiva para tal imperativo e isto não tem a não ser numa visão teísta. Como aponta o filósofo Paul Copan (The Rationality of Theism, 2003, p. 150):
Ao invés de ser produto da cultura, de preferências individuais ou da evolução sócio-biológica, valores morais existem de fato: a bondade é uma virtude e não um vício; torturar bebês por diversão é imoral; o estupro é moralmente repreensível. Muito de nós encontramos verdades óbvias – tal como nós encontramos 2 + 2 = 4 e o modus pones[1] [...] Negá-los [os valores morais] é rejeitar algo fundamental sobre a nossa humanidade.
Portanto, para que haja o dever, é preciso haver o ser. Não há obrigação se não há Legislador. Num universo de estrutura impessoal não se cria obrigação e o problema dever/ser acerca da lealdade e justificação deontológica está ausente numa estrutura impessoal.
[1] A regra lógica em que, dado duas premissas P à Q e P, pode-se deduzir seguramente Q. P.e: Se está chovendo, então lá fora está molhado. Está chovendo, logo, lá fora está molhado.
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