O contexto histórico-filosófico do holandês Herman Dooyeweerd (1894 – 1977) encontra-se entre dois pólos. Primeiro, no contexto do NeoCalvinismo Holandês e, segundo, a filosofia alemã contemporânea, tanto do neo-kantismo, quanto da Fenomenologia de Edmundo Husserl. Isso sem menosprezar a influência familiar na formação do Dooyeweerd, na qual teve seus primeiros contatos com o neocalvismo por parte de seus pais. Wolters (1987), afirma que “Dooyeweerd não pode ser entendido se a apreciação de ambos os movimentos”.
No primeiro ambiente, a filosofia de Dooyeweerd pode ser seguida desde as primeiras formulações do movimento fundado pro Guillaume Groen van Prinsterer (1801 – 1876) e Abraham Kuyper (1837 – 1920) conhecido como neocalvismo. Van Prinsterer, aristocrata holandês e fundador do Partido Alemão Anti-revolucionário, argumentava, com base em sua importante obra, Unbelief and Revolution (1847), que se o Cristianismo fosse eliminado da vida pública, o resultado seria o caos da ordem por meio de uma revolução violenta (BISHOP). A conseqüência de sua exposição nos leva ao segundo grande pensador e propagador das ideias primordiais de van Prinsterer, Abraham Kuyper.
Kuyper exerceu maior influência sobre Dooyeweerd e é o mais conhecido do Neocalvinismo. Através de publicações e envolvimento eclesiástico (como pastor) e político (como líder do Partido Anti-revolucionário e posteriormente Primeiro Ministro), Kuyper pôde desenvolver uma visão reformada que fosse além dos aspectos soteriológicos do Calvinismo. Para Kuyper, apropriando-se dos conceitos de Weltanschauung já depurados por James Orr, o Calvinismo é uma Cosmovisão completa de vida, ou seja, o Calvinismo é um sistema completo de mundo e de vida. O próprio Dooyweerd confessa sua dependência, ainda que não sem críticas, da influência kuyperiana.
A filosofia da Ideia Cosmonômica, desde o começo de seu desenvolvimento até sua primeira expressão sistemática nesta obra, somente pode ser entendida como fruto do despertamento Calvinista na Holanda desde as últimas décadas do século XIX, um movimento que foi liderado por Abraham Kuyper (DOOYEWEERD, 1984, p. 523).
Isto posto, não podemos esquecer ainda a participação de seu cunhado D.H.T. Vollenhoven (1892 – 1978) que, marcadamente providenciou a Dooyeweerd uma abrangente visão acerca da estética, arte, economia, educação e outras ciências, especialmente história e filosofia.
No âmbito filosófico, a segunda principal influência sobre Dooyeweerd foi a Filosofia Alemã, especialmente em sua vertente neo-kantiana e fenomenológica. O próprio Dooyeweerd confessa isso no prefácio de sua principal obra, A New Critique of Theorical Thought, dizendo: “Eu estava fortemente sob influência da filosofia Neo-Kantiana, [e] posteriormente sobre a fenomenologia de Husserl”(DOOYEWEERD, 1984, p. v). Wolters (1987), diz que esta “é o fator mais importante para entender algumas das características mais estritas e técnicas” do pensamento de Dooyeweerd. No primeiro caso, a participação de Wilhelm Windelbrand e Heinrich Rickert, que contribuirão para a distinção entre Normas e Leis da Natureza (WOLTERS, 1987) e Nicholai Hartmann, cujos aspectos modais de sua filosofia marcarão o pensamento de Dooyeweerd que sofisticará a idéia de Hartmann e, ainda, a postulação de diferentes níveis ontológicos no qual cada nível é irredutível a um anterior (WOLTERS).
Enfim, o método transcendental do neo-kantismo seria criticado sob uma ótica biblicamente orientada, passando a ser uma nova crítica do pensamento teorético. Assim, conceitos como idéia, sujeito, conceito, transcendente, transcendental etc., passam por um refinamento em Dooyeweerd que se interessa pelo ferramental da filosofia de modo crítico e refletido sob “os pressupostos revelacionais”(OLIVEIRA, 2011, p. 56).
Um comentário:
Professor,
muito boa sua explanação sobre esse gigante calvinista. O senhor deve ter tirado 10 (ehehe). Só me diga uma coisa: este OLIVEIRA é qual?
Fica na Paz.
Ricardo Almeida
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