Molinistas e
Calvinistas concordam sobre a validade do argumento a seguir, onde X é uma
escolha pessoal.
2. Deus conhece X de antemão
3. Então, X acontecerá.
Molinistas e Calvinistas até concordam que o seguinte argumento, como escrito, é falacioso:
1. Necessariamente, se Deus conhece X de antemão, então X acontecerá
2. Deus conhece X
de antemão.
3. Então, X acontecerá necessariamente.
A falácia em vista é aquela de transferir a necessidade da inferência para a conclusão. Todavia, o Molinista não aceitará que a falácia possa desaparecer em um número de modos diferentes. Um modo é por estabelecer que uma condição necessária para a presciência de Deus sobre X é a necessidade de X. Os Molinistas afirmam que X ocorrerá, não necessariamente, mas contingentemente. Claro, um X contingente, por definição, possivelmente pode não ocorrer. Então, os Molinistas são deixados com Deus conhecendo que X pode não ocorrer enquanto sabe que X ocorrerá – mas estas são verdades contraditórias e, então, impossível para Deus conhecer. Assim, a presciência de Deus de X pressupõe a necessidade de X pela simples razão que pode e será semanticamente antitético e é verdade que X ocorrerá. Conseqüentemente, se X ocorrerá, então é falso de que [talvez] possa ocorrer.
1. Necessariamente,
se Deus conhece X de antemão, então X acontecerá
2. Necessariamente,
Deus conhece X de antemão
3. Então, X necessariamente acontecerá.
Os Molinistas negam que Deus necessariamente conhece X de antemão. De fato, o papa do Molinismo, Willian Lane Craig, afirma que “a Teologia Cristã sempre tem mantido que a criação do mundo é um ato livre de Deus, que Deus poderia ter criado um mundo diferente – no qual X não ocorre – ou até nem [criado] um mundo. Dizer que Deus necessariamente conhece um evento X de antemão implica que este é o único mundo que Deus poderia ter criado e, assim, nega-se a liberdade divina”
Apenas de passagem, observe que os Molinistas não são tipicamente bem vistos nas áreas de Teologia Reformada Sistemática e Histórica, do Protestantismo Reformado. Na parte IV, seção VII do Clássico de Jonathan Edwards, The Freedom of the Will, Edwards tem muito a dizer sobre este assunto sob o título “Acerca da Necessidade da Vontade Divina”.[1] Edwards, eloqüentemente, afirma que “ninguém discute qualquer dependência da vontade de Deus, que sua suprema sábia volição é necessária, que isto infere uma dependência de seu ser, que sua existência é necessária. Se for alguma coisa muito insignificante para o Supremo Ser ter sua vontade determinada pela necessidade moral, assim [será] tão necessária em todo caso a vontade santa e ditosa em mais alto grau. Então, por que também não é insignificante para ele ter sua existência, e a perfeição infinita de sua natureza, e sua infinita felicidade, determinada por necessidade. Não é mais desonra para Deus ser necessariamente sábio do que ser necessariamente santo... e, em todo caso, agir mais sabiamente ou fazer as coisas mais sábias de todas; pois a sabedoria é, também, em si mesmo excelente e honorável... mais uma coisa a ser observada antes de concluir esta seção. Que, se isto em nada invalida da glória de Deus necessariamente determinada pela condição superior em alguma coisa; então, também não deve ser assim determinada em todas as coisas
Meu apelo a Edwards como um representante da Teologia Reformada Ortodoxa é simplesmente mostrar que a observação de Craig é, no mínimo, injustificável. Pensadores reformados consideram as escolhas livres libertárias uma irracionalidade filosófica, da mesma forma que a noção metafísica boba pertencente ao homem, mas como também pertencente a Deus. Não apenas Molinistas como Craig não percebem que a necessidade da vontade divina é sustentada por um vasto número de Calvinista, [mas] observam também a imprecisão das observações de Craig onde ele fala de liberdade. Molinistas não fazem distinção alguma entre a liberdade (ou seja, a capacidade de escolher como se quer) e o poder de escolha contrária, que é a alegada capacidade de agir de forma contrária à forma como se queria (livre-arbítrio libertário). Os dois [tipos] são os mesmos para o Molinista; no entanto, a primeira ideia é pertencente à responsabilidade moral, enquanto a última é uma noção metafísica que no fim destrói a responsabilidade moral. É triste ter que perguntar, mas alguém já leu um Molinista que tenha interagido como a noção de liberdade, que é a própria sede da responsabilidade moral? Por que a habilidade de escolher como se quer não é uma condição suficiente para responsabilidade moral? O Molinista nos diz por que a liberdade é insuficiente? Não, eles simplesmente ignoram a questão da liberdade e fazem afirmações brutas de que nós somos capazes de escolher contrário ao que nós queríamos, a fim de ser agentes moralmente responsáveis. O que é, afinal, ser capaz de escolher X, quando nós pretendemos escolher não-X? Se isto é uma caricatura da liberdade libertária, então [como] um Molinista explicará esta noção metafísica à luz do problema do regresso infinito que é inerente à noção?
Insistente, deveríamos
ver que a premissa menor, que “necessariamente, Deus conhece de antemão X” é, de fato, verdadeira. Se a presciência de
Deus sobre X não era necessária, então ela era contingente. Esqueça por um
momento que os futuros contingentes – sendo verdadeiramente contingentes – desafiam
os verdadeiros valores eternos com respeito ao seu resultado, (como os Teístas
Abertos têm demonstrado). Qual a simples verdade de que todas as coisas eternas
(Deus e seus pensamentos) devem ser necessárias? Afinal, Deus deliberou? Ele moveu-se
do não-saber para o saber? Além disso, onde está fundamentado “X acontecerá” se
não na determinação eterna de Deus? E caso contrário, o que significa
determinar X sem determinar a causa de X? Será que causas contingentes
determinam o decreto eterno de Deus, o que inclui a noção arminiana de “certezas
contingentes”?
Uma terceira maneira de se livrar da falácia é utilizar fatos que estão gramaticalmente no passado [e] contemplá-los como no futuro. A progressão abaixo não toma atalhos, então pode parecer um pouco entediante, mas cada passo é apropriado.
Estabelecer a necessidade de crença de Deus sobre a
escolha de Tom:
1. 100 anos atrás,
Deus sabia que Tom escolheria X amanhã
2. Se X é crido no
passado, então agora é necessário que X seja crido então.
3. Então, agora é necessário
que 100 anos atrás Deus acreditava que Tom fará X amanhã.
Estabelecer a necessidade da escolha de Tom, dada a necessidade da crença de Deus
4. Necessariamente, se 100 anos atrás, Deus sabia
que Tom faria X amanhã, então Tom fará X amanhã.
5. Se p (i.e, a crença
histórica de Deus sobre a escolha de Tom) agora é necessária (3), também
necessariamente se p, então q; então q (i.e, a escolha de Tom de X
amanhã;[consequente de 4]) agora é necessário [transferido do princípio da
necessidade].
6. Então, agora é necessário
que Tom fará X amanhã [3, 4 e 5]
Estabelecer que Tom não agiu livremente, dado a
necessidade da escolha de Tom.
7. Se agora é necessário
que Tom fará X amanhã, então Tom não pode fazer outra coisa.
8. Então, Tom não
pode fazer outra coisa que não X amanhã.
9. Se [Tom] não
pode fazer outra coisa, então [Tom] não age livremente.
10. Então, quando
Tom fizer X amanhã, ele não fará livremente.
Molinistas novamente aceitarão a validade do argumento, mas terão problemas com algumas premissas, ou seja, 5 e, possivelmente também 2. Com respeito a 2, um Molinista pode querer afirmar que a necessidade do passado não se aplica ao passado todo, mas isso é uma censura arbitrária. Um Molinista pode também objetar a premissa 5, onde uma mudança de modalidade ocorre segundo necessidades acidentais (necessidades sobre o passado) são mescladas com necessidades metafísicas que têm a ver com as ações de escolher. Isso, no entanto, representa um caso clássico de distinção sem diferença relevante. A objeção Molinista é a transferência do princípio da necessidade, ainda que eles permitam o mesmo princípio da lógica quando tratam com a validade do argumento 3. Realmente, suas objeções deveriam ser apenas às premissas 2 do argumento 4, mas eles estão preparados para argumentar que o passado é contingente e não necessário?
Dado a objeção de
transferência do princípio da necessidade, a posição Molinista reduz-se a: a
escolha de Tom de X necessariamente ocorrerá, mas contingentemente. O que
significa X ocorrer necessariamente por meios contingentes? Em outras palavras,
o que significa uma ocorrência necessária ocorrer contingentemente!? (novamente, “vontade=poder” para o Molinista)
Em
suma, o lamento de Craig com o argumento 3 é que ninguém pode provar a
necessidade do conhecimento de Deus. Se alguém puder provar a necessidade, então
sou conduzido a crer por sua palavra que ele aceitaria a conclusão do argumento
3 acima, que afirma a natureza não-contingente da escolha. Consequentemente, o
problema com Craig e seus discípulos durante a prova de 10-passos não deveria
ser superior a qualquer alteração na modalidade no passo-5, desde que o mesmo
tipo de mudança na modalidade ocorre no argumento 3 sem objeção! A objeção de
Craig ao argumento 3 não é uma objeção de mudança de modalidade, mas sim,
estritamente uma objeção metafísica pertencente à liberdade de Deus. Não tendo nenhuma
objeção modal ali, os Craiguitas não deveriam encontrar nenhum argumento em 4 também.
Consequentemente, Craig e seus discípulos deveriam ao menos começar a conceder
que, com o tempo, o pré-conhecimento de Deus torna-se necessário (passo 3 –
argumento 4), que os conduziriam a abraçar todos os argumentos válidos como
sendo sólido dado que não há objeção modal para o argumento 3. Então, por que
eles não fazem? Porque o assunto é ético, não intelectual. Essa é a razão. Deus
ocultou dos Arminianos as gloriosas doutrinas da graça e é por isso que eles
dizem coisas tais como “como Deus pode encontrar culpa, pois quem pode resistir
à sua vontade?”. Temo que os Arminianos não reconheçam que Romanos 9 está
falando a eles.[2]
Traduzido por Gaspar de Souza
Fonte: Reformed Apologist
[2] A objeção ao Dr. Craig, bem como a crítica ao Arminianismo, em nada diminui as contribuições que ambos têm prestado ao Cristianismo, nem tampouco venho a considerá-los como “não-Cristãos”. Mantenho meu respeito e admiração pela irmão Dr. Craig e pelos irmãos Arminianos. As palavras do Dr. Cornelius Van Til são-me úteis e diretivas: "Somos gratos e nos alega o trabalho feito por arminianos no testemunho do evangelho. Alegres, por causa do fato de que, a despeito da inconsistência de sua apresentação o testemunho cristão, algo, com muita frequência, da verdade do evangelho brilha para os homens, e eles são salvos"(VAN TIL, Cornelius. O Pastor Reformado e o Pensamento Moderno. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p.55)[Nota do Tradutor]
Um comentário:
eu não entendi p. nenhuma deste texto. Eu devo ser mto anta mesmo...pode me explicar o q isso tudo significa? Embora eu não tenha entendido, fiquei curioso.
minho_hst@hotmail.com
Ismael
Postar um comentário