Por C. Stephen Evans[1]
Este é um trecho do livro Philosophy of Religion de C. Stephen Evans, no capítulo que trata dos Argumentos
Clássicos para Existência de Deus. Neste excerto, Evans descreve a
formulação de Norman Malcolm segundo o Argumento Ontológico de Anselmo, em que
trata com o conceito de existência necessária.
Os Argumentos Ontológicos tentam
mostrar que o próprio conceito ou ideia de Deus implica sua realidade. Se uma
pessoa pode claramente conceber Deus, então ele ou ela deve ser capaz de
entender que Deus deve existir. Os créditos para a primeira formulação deste
argumento são, geralmente, atribuídos a Santo Anselmo, Arcebispo da Cantuária
no século onze. Várias versões do argumento têm sido defendidas por filósofos
famosos como Descartes e Leibniz. O século vinte tem visto um grande
reavivamento de interesse no argumento, como pensadores tais como Charles
Harstshorne, Norman Malcolm e Alvin Plantinga defendem-no.
A versão original de Anselmo é
desenvolvida em seu Proslógio no curso de algumas reflexões sobre o que o “tolo
diz em seu coração: não há Deus”. Anselmo raciocina que até mesmo em negar a
existência de Deus, o tolo deve entender a ideia de Deus. Deus deve existir ao
menos como uma ideia no entendimento do tolo. Qual é a ideia de Deus? Para
Anselmo, Deus é o maior ser possível, “um ser do qual não é possível pensar
nada maior”
Anselmo afirma que é melhor ou maior
existir na realidade do que simplesmente existir no entendimento. Desde que
Deus é, por definição, o maior ser possível, diz Anselmo, é impossível para
Deus existir apenas no entendimento do tolo. Pois, neste caso, um ser maior do
que Deus poderia ser facilmente concebido, ou seja, um ser que existe tanto no
entendimento quanto na realidade. Posto em passos numerados, o argumento é como
se segue:
1. Deus é o maior ser possível.
2. Deus existe ao menos na mente ou no entendimento.
3. Um ser que existe apenas na mente não é tão grande quanto um ser que
existe na realidade bem como na mente.
4. Se Deus existe apenas na mente, ele não seria o maior ser possível.
5. Então, Deus deve existir na realidade e também na mente.
Como era de se esperar, este argumento
tem encontrado muitas objeções, pois a afirmação de que a existência de alguma
coisa pode ser inferida simplesmente de sua definição é implausível para muitas
pessoas. Gaunilo, um contemporâneo de Anselmo, produziu uma paródia do
argumento em que ele tentava provar que uma Ilha Perfeita – “um ilha da qual
nenhuma maior pode ser concebido” – deve existir. A réplica de Anselmo a este
foi essencialmente que o conceito de Deus é único. Deus, diferente das ilhas e
outros objetos finitos, é um ser necessário. A implicação é que o conceito de
“uma possível ilha maior ou mais perfeita” não pode ser coerente. Talvez para
algumas [ilhas] que nós concebamos, poderiam ser concebida uma mais perfeita do
que ela. Mas, apenas um ser necessário pode ser um maior ser possível. A
importância da réplica de Anselmo será evidente abaixo.
Uma objeção famosa feita por Kant e
outros é que não se pode legitimamente pensar “existência” como uma propriedade
que uma entidade pode ou não pode ter em graus variados. Dizer de algo que ele
existe não é dizer que ele tem alguma propriedade como “ser vermelho”, mas que
a entidade em questão, com todas as suas propriedades, tem sido atualizada.
Quando nós pensamos de um objeto, nós sempre implicitamente pensamos dele como
existindo. Mas, se existência não é uma propriedade, então ela não pode ser uma
propriedade que acrescentamos à grandeza de Deus, o qual é requerido pelo
argumento. O debate se existência é uma propriedade (ou se “existe” é uma
predicado adequado) não é um que podemos resolver, embora pareça seguro afirmar
que existência não é uma propriedade ordinária.
Outra objeção popular é a afirmação de
que o Argumento de Anselmo fala-nos apenas sobre a definição de Deus; ele não
pode dizer-nos algo que satisfaça aquela definição. Anselmo nos diz, muito
corretamente, que quando pensamos em Deus, pensamos Nele como um ser real,
mesmo como um ser necessariamente real, um ser que não pode deixar de existir.
Essa definição, no entanto, como todas as definições, apenas nos diz o que Deus
seria se ele existisse. [Mas] ele não pode estabelecer o fato de que ele
existe.
Versões contemporâneas do Argumento
[Ontológico] têm concentrado no conceito de existência necessária, a que
Anselmo empregou em sua réplica a Guanilo e no capítulo três de seu Proslógio.
Alguns filósofos, como o Normam Malcolm, têm argumentado que, realmente,
Anselmo desenvolveu dois argumentos.
O primeiro argumento enfatiza a
existência como uma “propriedade de condição necessária”, a qual Malcolm pensa
ser falacioso, desde que existência não uma propriedade. O segundo postulou o
conceito de existência necessária.
A essência do segundo argumento, como
Malcolm formula, é como se segue: Deus é, por definição, um ser que
simplesmente não passou a existir. Deus não pode vir à existência, nem pode
ficar fora da existência, uma vez que um ser que o fizesse um ou outro não
seria Deus. Segue-se disto que se Deus existe, então sua existência é
necessária. Se ele não existe, então sua existência é impossível. Mas, ou Deus
existe ou não existe, então, a existência de Deus é necessária ou impossível.
Uma vez que não parece plausível dizer que a existência de Deus é impossível,
segue-se que sua existência é necessária. Assim, se a existência de Deus é
possível, então é necessária. Abaixo segue o argumento. Mais formalmente,
o argumento pode ser posto como se segue:
1. Se Deus existe,
sua existência é necessária;
2. Se Deus não existe, sua existência é impossível.
3. Ou Deus existe ou ele não existe.
4. A existência de Deus é necessária ou impossível.
5. A existência de Deus é possível (não é impossível)
6. Então, a existência de Deus é necessária.
Como deveríamos avaliar este
argumento? Ele é formalmente válido? Certamente parece ser. Mas, é legítimo?
Para ser legítimo, as premissas devem ser verdadeiras. Das cinco premissas a
mais problemática é a número (5)
Como nós sabemos que a existência de
Deus é realmente possível? A premissa parece bastante inócua; parece como se
nós estivéssemos simplesmente dizendo que talvez exista um Deus. Ela se torna
uma afirmação bastante poderosa, no entanto, uma vez que a existência de Deus
só é possível se ela for necessária. Por que o ateísta não deveria rejeitar e
afirmar a existência de Deus, quando o assunto é completamente compreendido,
pode ser visto como impossível? Uma vez que Deus não existe, não é possível que
ele já tenha existido ou nunca existirá.
Por outro lado, qualquer que creia que
Deus realmente exista terá que julgar que esta premissa é verdadeira e, deste
modo, o argumento será legítimo. Pois a possibilidade da existência de Deus
certamente segue-se da realidade de sua existência. É claro que devemos lembrar
que uma prova eficaz deve ser mais do que simplesmente legítima. Ela deve ser
racionalmente convincente. Aqui o argumento parece falhar, pois é difícil ver
porque um ateísta não rejeitaria a premissa (5) e firmemente manter a
impossibilidade da existência de Deus. E mesmo que o ateísta julgue a
legitimidade do argumento e, portanto, será para ele convincente, não será
racionalmente convincente ou a menos que possa, de alguma forma, saber que a existência
de Deus é possível sem inferi-la de sua existência real. Devemos lembrar que,
para um argumento ser racionalmente convincente para alguém, as premissas devem
ser conhecidas a essa pessoa por razões independentes da conclusão.
Mesmo se o argumento falhe como uma
prova racional convincente, no entanto, ele ainda pode realizar outras tarefas.
Alvin Plantinga, um defensor de uma versão contemporânea do Argumento
Ontológico, afirma que, embora o argumento possa não ser uma prova, ele
demonstra que é razoável crer em Deus. A premissa central, que a existência de
Deus é possível, embora possa não ser conhecida, é uma proposição que poderia
ser racionalmente aceita: o argumento mostra a “aceitabilidade racional” do
teísmo[2]. Isto parece legítimo, mas
deveria ser observado que o ateísta pode, talvez, fazer uma afirmação
semelhante: não é claramente contrário à razão afirmar que a existência de Deus
é impossível.
Karl Barth interpreta o argumento de
Anselmo não como uma prova, mas como uma tentativa de entender mais
profundamente o que é aceito pela fé. Parece plausível que o propósito de
Anselmo em formular este argumento pode ser bem diferente dos propósitos dos
filósofos contemporâneo que têm defendido o argumento. Em todo caso,
independente do valor o Argumento Ontológico como prova, reflexões sobre ele
aprofundam nossa apreciação de Deus como um ser necessário.
O argumento também serve a função de
forçar o ateísta a “sair do esconderijo”. Se o argumento é válido, então a
pessoa que deseja negar que Deus existe, deve afirmar que a existência de Deus
é impossível. Esta é uma afirmação muito mais forte que uma pessoa queira
fazê-la inicialmente. Este último ponto pode ser generalizado em uma moral que
possa ser aplicada a todos os argumentos teístas. Os Argumentos podem ser
rejeitados, mas a pessoa que os rejeita paga um alto preço. Pois negar uma
proposição é logicamente equivalente afirmar outra proposição. Negar p é
afirma não-p. Em alguns casos, a asserção necessária para
rejeitar os argumentos teístas pode ser mais problemáticas que outras.
Traduzido por Gaspar de Souza
[1] EVANS, C.
Stephen. Philosophy of Religion: Thinking About Faith. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1982, p. 46 – 50.
[2] Consulte PLANTINGA,
Alvin. Deus, a Liberdade e o
Mal. São Paulo: Vida Nova, 2012, p.140 [N.T]
Um comentário:
Quando o ser humano fala essa caneta e perfeita,esse copo e perfeito ele esta dividindo a perfeição,a perfeição e unica,o ser humano divide a perfeição por que ele esta na imperfeição,a perfeição não pode estar na imperfeição,quando o ser humano tem uma ideia de deus como sendo perfeito,e impossivel o ser humano provar a existencia de deus na imperfeição,se o ser humano tem uma ideia de deus como o mais perfeito se ele não existe na imperfeição,então ele existe na perfeição,então deus existe
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