Por Wadislau Martins Gomes
Para não criticar sem conhecer, dei uma olhada no material do “kit contra homofobia”, do MEC. Depois de ver a coisa toda, o que ficou na cabeça foi uma sensação de viver no país do Pica-Pau Amarelo, do Monteiro Lobato, pleno das reinações de Narizinho com o pó de pirlimpimpim. No final de “A Reforma da Natureza”, Emília diz: “O nosso segredo é o faz de conta” – e, diante do desentendimento do Dr. Zamenhof, a boneca de pano conclui – “Pois faça de conta que entende” ( A chave do tamanho, SP, Brasiliense,1976, p. 124).
Como exemplo, um vídeo do kit, “encontrando José Ricardo”; pena que em nosso Sítio sempre mudem o nome do filme; saiu: “Encontrando Bianca”. Os argumentos do José Ricardo para a transformação da natureza têm a mesma consistência do reino encantado de Taubaté. Sonhos paternos de sucesso e pé na bola, sobra de piadas, unhas pintadas de vermelho, gripe fingida, preconceitos, roupa nova, troca de nome, sentir-se mulher e o grande desejo de usar o banheiro feminino – nada disso constitui argumento. Antes, relata uma história do coração que revela causas mais profundas. Usar o banheiro feminino não é sonho só do José; é sonho inconfessado de adolescentes e outros mal crescidos, e esse problema é o menor. Há problemas verdadeiros a serem discutidos.
(i) Um deles, josés e biancas, é o do tratamento do mau preconceito (pois há bons preconceitos como, por exemplo, o preconceito contra o mau preconceito). Nada justifica um ataque a alguém sem que haja causa justa e perigo iminente. Todas as pessoas, independentemente da identidade projetada, portam a imagem de Deus em virtude da Criação. O fato de a pessoa natural se encontrar carente do reflexo adequado não significa que deverá ser mal amada. Com efeito, todos pecamos, de uma ou outra maneira, e alguns de nós carecíamos do entendimento de Deus (Rm 3.23) até que fomos refeitos à imagem de Cristo (2Co 4.6). Portanto, não nos cabe julgar as pessoas, mas mostrar-lhes o amor de Deus pelo pecador (Jo 3.16). Entretanto, isso não quer dizer que tenhamos de mudar nossa consciência cristã, fazendo do ruído do “eu” autônomo psicologizado e do super pó emiliano, uma imposição curricular.
(ii) Outra questão é a do próprio preconceito, isto é, da pressuposição que, quer queiramos quer não, está na base de todo comportamento. Algumas pessoas dizem que uma preferência de orientação sexual diferente da identidade sexual é coisa pecaminosa e causa de conflitos. Outras, dizem que esse tipo de preconceito é a própria causa de conflitos, e que os escolhedores ou indecisos necessitam de terapia. Contudo, os "sem preconceitos" acabam demonstrando preconceitos maiores. Por exemplo, a “terapia de identidade sexual” (Throckmorton & Yarhouse, 2006) faz isso ao propor uma congruência pessoal, confundindo potenciais conflitos de identidade sexual com religião e (pasme!) tratamento de desordens tais como dor crônica, abuso de drogas e depressão. Aí, vem a pergunta: o conflito existe porque a pessoa quer escolher e a cultura tradicional não deixa, ou o conflito existe porque fomos criados por Deus com identidade sexual definida e preferimos viver sem as restrições de Deus?
(iii) O bom senso leva a crer que valores tais como sexo e sexualidade sadia devam ser ensinados não só na escola, mas em casa, na igreja e em outras devidas esferas de autoridade. Entretanto, faz crer também que não é papel do governo determinar quais sejam esses valores nem impor sua própria ideia de quais sejam sadios. Como é que fica? No caso da Emília, a boneca ditadora, quando confrontada com a monstruosidade das consequências da reforma da natureza, decidiu: “Sempre achei a natureza errada...” – para que vaga-lume piscar-piscar, tanto beiço na Anastácia e dois chifres numa só vaca – “Erradíssimo. Eu... deixava tudo um encanto...” (op. cit., p. 90).Assim é que as leis são passadas em nosso Sítio. Emilianos e viscondes de sabugosas, de uma penada, querem transformar a natureza. Para quem achar ruim, vai a pecha, como encanto: homofóbico, homofóbico, homofóbico!
Não, não sou homofóbico. Sou homomórfico, preservando a igualdade e as diferenças (função biunívoca) da sexualidade e da relação sexual dentro do casamento. Sábia mesmo foi tia Anastácia que recomendou: “Não se ponham a ajudar os pintinhos a sair da casca senão eles morrem... Pinto sabe muito bem se arrumar sozinho. E não se esqueçam de molhar as mudinhas de couve lá na horta” (op. cit., p. 92).
Fonte: Coram Deo
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