Neste começo de ano não estou muito empenhado em abastecer o blog. Meio que de “recesso eclesiástico local”, estou colocando em dia minhas tarefas acadêmicas. Tenho compromissos nos estudos que requerem tempo e dedicação. Tenho deixado de lado até as “leituras de lazer”, aquelas que faço sem recomendação de meus orientadores; aquelas que estão fora das “leituras obrigatórias”. Mesmo assim, venho aqui, dou uma olhada, vejo o que está na blogosfera, vejo uma notícia aqui, outra ali etc. Desde a última semana, ou final de semana, li num blog uma “breve crítica aos blogs.... “Eis Nosso Tempo!”. O autor, filósofo e calvinista, pretendeu tecer elogios piedosos à presidente eleita e em exercício. Enquanto Hendrik Stocker, este sim um “filósofo calvinista”, afirmava a “possibilidade de uma filosofia calvinista”, talvez se surpreendesse em ver os caminhos de alguns tentarem seguir este caminho. Principalmente pela fundamentação de proposições que fogem à lógica epistêmica do Calvinismo: a revelação.
O que me surpreendeu na crítica? Um princípio de subjetividade tamanha para um exercício da ratio na tarefa crítica, principalmente quanto se queria ver "objetividade concreta" nos blogs criticados. Ao procurar analisar a “postura para com nossos governantes”, citando um célebre documento teológico, o autor da crítica destaca o dever de orar pelos magistrados, honrar as suas pessoas etc. Tudo bem que, para quem defende a pirataria, o “pagar tributos e outros impostos”, obedecendo às suas ordens legais e sujeitar-se à sua autoridade, e tudo isso por amor da consciência, não deva ser tão importante quanto à primeira proposição. Mas isto é outra história.
O que chama a atenção é que o autor, não encontrando encômios [orações e honras] públicos nos blogs por ele criticados, mas apenas as críticas aos governantes, acredita que alguns irmãos “estão esquecendo desse capítulo”. Para alguém dado à filosofia, não se deveria andar por “impressão”. Primeiro porque, de fato, ninguém está isento de prestar honras aos governantes. Isto não quer dizer, em hipótese nenhuma, que não haja entre nós o direito à resistência ao Estado, dentro dos meios legais: voto, protesto, cartas e, até mesmo, por repúdio aos seus vícios. Calvino, após falar sobre a “reverência” que os Cristãos devem ao magistrado e aos governantes – Calvino diz que para levantar-se contra estes, deve-se buscar aqueles – os “príncipes” sofrerão “sentimentos de aborrecidmentos”:
Porque, quando em meio de tantos vícios, tão enormes e alheios, não só ao ofício de governante, mas inclusive a todo senso de humanidade, não se vê nos superiores prova alguma da imagem de Deus que deve resplandecer em todo governante, nem qualquer rastro de um ministro do Senhor, que foi posto para louvor dos bons e castigo dos maus, não reconhecem nele àquele superior cuja autoridade e dignidade a Escritura nos recomenda. E certamente, sempre esteve não menos arraigado no coração dos homens o sentimento de aborrecimento e ódio aos tiranos, que o de amor aos reis justos, que cumprem com seu dever. (Inst. Liv. IV, §24).
Não se pode confundir o repudiar “o governante” em repudiar “o governo”, ou seja, a Esfera Modal de Estrutura Governamental. Ora é isso que encontramos não apenas entre os Reformados (não estou falando dos Radicais), mas nas Escrituras. É “dar a César o que é de César”(Estrutura Governamental), mas não menos justo em dizer, como foi dito de Herodes (Governante), “dizei àquela raposa”(Lc 13.32). Diante disto se reconhece que “Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado”(Jo 19. 11).
O que isto tem a ver conosco? Devemos reconhecer a Estrutura de Governo que temos (democracia – quase morri de rir), mas, caso o governante não seja justo, podemos ter “sentimento de aborrecimento” sobre ele. O que de tão difícil tem em reconhecer isto? Por acaso isto impede dos cristãos orarem por Dilma e os seus? Claro que não. Antes, é estabelecido. É agora que entra o mais mimoso da “crítica”.
O autor diz que as “violentas críticas aos governantes do Brasil” “são carregadas de motivos partidários”. Fico a imaginar que, se as críticas demonstram partidarismo, os “elogios e apologias” demonstrariam o quê? Assim, caindo na mesma armadilha, o autor “acaba tirando do povo, daqueles mais incautos” a liberdade de escolha entre os maus e os bons governantes. Para que o “povo”, seja lá o que isso seja, escolha entre bons e maus governantes, é preciso que haja quem apresente ambos, não é? Agora eu entendo o motivo de ele achar “até saudável” haver oposição ao governo. Ah, bom. Pelo menos isso, não é? Ah, e ele não precisa ficar com “dó de Dilma”, pois ela o terá para tecer elogios apartidários....
Há uma confusão não cabeça do amigo entre a relação que os cristãos devam ter com o governo. Ele acredita que há incompatibilidade entre criticar as injustiças dos governantes e, ao mesmo tempo, orar pelos mesmos governantes, como se uma coisa excluísse a outra. Ele comete uma falácia do “falso dilema” para, dái, chegar a um “non sequitur”: ou crítica ou ora e honra. Como ele só leu nos blogs a primeira, conclui-se que os blogueiros não fazem a outra. Há muitas razões por que não publicamos nossas honrarias aos governantes, p.e, eles já têm os blogs que façam isso.
Por isso, para ele, é preciso ver onde estão as orações e as honras nesses blogs. Ora, talvez o autor devesse perguntar aos blogueiros quais as atitudes deles em suas igrejas, em seus quartos, “onde o Pai vê em secreto”, em suas reuniões de lideranças etc., etc., etc. São tantas as opções sobre orar pela presidente Dilma, inclusive, se for o caso, imprecatórias [podemos, não é?] e pelos novos governadores e representantes do povo, que não preciso dizer que o filósofo-calvinista precisaria deixar o concretismo do blog e, no mínimo, tentar refletir sobre a subjetividade dos blogueiros. Neste caso, o filósofo-calvinista lembraria que não é onisciente. Por enquanto, resta-lhe a dúvida se oramos ou não pela presidente.
O que me surpreendeu na crítica? Um princípio de subjetividade tamanha para um exercício da ratio na tarefa crítica, principalmente quanto se queria ver "objetividade concreta" nos blogs criticados. Ao procurar analisar a “postura para com nossos governantes”, citando um célebre documento teológico, o autor da crítica destaca o dever de orar pelos magistrados, honrar as suas pessoas etc. Tudo bem que, para quem defende a pirataria, o “pagar tributos e outros impostos”, obedecendo às suas ordens legais e sujeitar-se à sua autoridade, e tudo isso por amor da consciência, não deva ser tão importante quanto à primeira proposição. Mas isto é outra história.
O que chama a atenção é que o autor, não encontrando encômios [orações e honras] públicos nos blogs por ele criticados, mas apenas as críticas aos governantes, acredita que alguns irmãos “estão esquecendo desse capítulo”. Para alguém dado à filosofia, não se deveria andar por “impressão”. Primeiro porque, de fato, ninguém está isento de prestar honras aos governantes. Isto não quer dizer, em hipótese nenhuma, que não haja entre nós o direito à resistência ao Estado, dentro dos meios legais: voto, protesto, cartas e, até mesmo, por repúdio aos seus vícios. Calvino, após falar sobre a “reverência” que os Cristãos devem ao magistrado e aos governantes – Calvino diz que para levantar-se contra estes, deve-se buscar aqueles – os “príncipes” sofrerão “sentimentos de aborrecidmentos”:
Porque, quando em meio de tantos vícios, tão enormes e alheios, não só ao ofício de governante, mas inclusive a todo senso de humanidade, não se vê nos superiores prova alguma da imagem de Deus que deve resplandecer em todo governante, nem qualquer rastro de um ministro do Senhor, que foi posto para louvor dos bons e castigo dos maus, não reconhecem nele àquele superior cuja autoridade e dignidade a Escritura nos recomenda. E certamente, sempre esteve não menos arraigado no coração dos homens o sentimento de aborrecimento e ódio aos tiranos, que o de amor aos reis justos, que cumprem com seu dever. (Inst. Liv. IV, §24).
Não se pode confundir o repudiar “o governante” em repudiar “o governo”, ou seja, a Esfera Modal de Estrutura Governamental. Ora é isso que encontramos não apenas entre os Reformados (não estou falando dos Radicais), mas nas Escrituras. É “dar a César o que é de César”(Estrutura Governamental), mas não menos justo em dizer, como foi dito de Herodes (Governante), “dizei àquela raposa”(Lc 13.32). Diante disto se reconhece que “Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado”(Jo 19. 11).
O que isto tem a ver conosco? Devemos reconhecer a Estrutura de Governo que temos (democracia – quase morri de rir), mas, caso o governante não seja justo, podemos ter “sentimento de aborrecimento” sobre ele. O que de tão difícil tem em reconhecer isto? Por acaso isto impede dos cristãos orarem por Dilma e os seus? Claro que não. Antes, é estabelecido. É agora que entra o mais mimoso da “crítica”.
O autor diz que as “violentas críticas aos governantes do Brasil” “são carregadas de motivos partidários”. Fico a imaginar que, se as críticas demonstram partidarismo, os “elogios e apologias” demonstrariam o quê? Assim, caindo na mesma armadilha, o autor “acaba tirando do povo, daqueles mais incautos” a liberdade de escolha entre os maus e os bons governantes. Para que o “povo”, seja lá o que isso seja, escolha entre bons e maus governantes, é preciso que haja quem apresente ambos, não é? Agora eu entendo o motivo de ele achar “até saudável” haver oposição ao governo. Ah, bom. Pelo menos isso, não é? Ah, e ele não precisa ficar com “dó de Dilma”, pois ela o terá para tecer elogios apartidários....
Há uma confusão não cabeça do amigo entre a relação que os cristãos devam ter com o governo. Ele acredita que há incompatibilidade entre criticar as injustiças dos governantes e, ao mesmo tempo, orar pelos mesmos governantes, como se uma coisa excluísse a outra. Ele comete uma falácia do “falso dilema” para, dái, chegar a um “non sequitur”: ou crítica ou ora e honra. Como ele só leu nos blogs a primeira, conclui-se que os blogueiros não fazem a outra. Há muitas razões por que não publicamos nossas honrarias aos governantes, p.e, eles já têm os blogs que façam isso.
Por isso, para ele, é preciso ver onde estão as orações e as honras nesses blogs. Ora, talvez o autor devesse perguntar aos blogueiros quais as atitudes deles em suas igrejas, em seus quartos, “onde o Pai vê em secreto”, em suas reuniões de lideranças etc., etc., etc. São tantas as opções sobre orar pela presidente Dilma, inclusive, se for o caso, imprecatórias [podemos, não é?] e pelos novos governadores e representantes do povo, que não preciso dizer que o filósofo-calvinista precisaria deixar o concretismo do blog e, no mínimo, tentar refletir sobre a subjetividade dos blogueiros. Neste caso, o filósofo-calvinista lembraria que não é onisciente. Por enquanto, resta-lhe a dúvida se oramos ou não pela presidente.
Por Gaspar de Souza
Um comentário:
Amado Gaspar de Souza, faço dos seus comentários "o meu comentário oficial", concordo contigo 100%. Afirmei no blog filosofia calvinista que concordo com a oração ou a chamada, porém, a sua posição é extremamente sadia, equilibrada, moderada e realmente filosofia calvinista.
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Luis Cavalcante
http://luis-cavalcante.blogspot.com
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