Introdução
Segundo os nossos irmãos da Reforma Protestante do Século
XVI, três marcas caracterizavam uma igreja verdadeira. São elas: 1) Fiel
pregação da Palavra de Deus, sem a qual a igreja não pode existir; 2)
Administração fiel dos Sacramentos e; 3) Exercício da Disciplina Bíblica para
manter a pureza da igreja. Este pensamento é bem explicado numa declaração da
igreja que representava bem a fé daqueles irmãos. Este documento chama-se a
Confissão Belga (1561). Diz assim aquele documento:
As marcas para conhecer a
verdadeira igreja são estas: ela mantém a pura pregação do Evangelho3,
a pura administração dos sacramentos4 como Cristo os
instituiu, e o exercício da disciplina eclesiástica para castigar os
pecados5. Em resumo: ela se orienta segundo a pura Palavra de
Deus6, rejeitando todo o contrário a esta Palavra7 e
reconhecendo Jesus Cristo como o único Cabeça8. Assim, com certeza,
se pode conhecer a verdadeira igreja; e a ninguém convém separar-se dela
(Cf. Gl 1:8; 1Tm 3:15; At 19:3-5; 1Co 11:20-29; Mt 18:15-17; 1Co 5:4,5,13; 2Ts
3:6,14; Tt 3:10; Jo 8:47; Jo 17:20; At 17:11; Ef 2:20; Cl 1:23; 1Tm 6:3; 1Ts
5:21; lTm 6:20; Ap 2:6; Jo 10:14; Ef 5:23; C1 1:18)
Porém, a disciplina eclesiástica é, “talvez, a marca em
declínio mais visível na igreja contemporânea”, diz Al Mohler. Ainda segundo Mark Dever, a
disciplina eclesiástica é “um aspecto vital da saúde da igreja”. É tão
importante para a Igreja que, na sua ausência, juntamente com a ausência das
outras duas marcas, a igreja não demorará muito a sucumbir à impureza moral e
ética.
Não se pode esquecer que tanto a Administração dos
Sacramentos, quanto o Exercício da Disciplina, são frutos da fiel exposição da
Palavra de Deus. Na falta da pregação fiel, as outras duas marcas também
estarão ausentes. Se não se expõe a Escritura fielmente, tampouco os
sacramentos serão administrados corretamente como Jesus Cristo instituiu, nem a
disciplina será exercida pelos padrões da Escritura, passando a ser vista como despotismo.
A própria palavra em si mesma, disciplina, é vista
como negativa. Principalmente do último século para cá,
Desde que os
princípios do pós-modernismo encontraram lugar no seio da igreja, qualquer
conceito que ameace o individualismo e a liberdade de escolha quanto ao estilo
de vida, comportamento, etc., é logo taxado de arcaico, passé. A
dicotomia prática de muitos cristãos gera a ilusão de que a igreja não tem nada
a ver com o procedimento ‘secular’ de seus membros. Nessa ‘nova era’
antropocêntrica, a igreja é vista como uma organização altamente dependente do
indivíduo, e que precisa conservá-lo ao custo de várias exceções. O medo da
impopularidade leva muitos líderes à cumplicidade e pecados são justificados em
nome de uma atitude mais ‘humana’(2). Por outro lado, o que dizer daqueles que,
em nome do zelo pela disciplina, cometeram injustiças e causaram mais males que
bens?(3) Em todo esse contexto, a disciplina tem uma vida curta e a tolerância
consagra-se como a virtude da moda.(4) Porém, o que acontece com uma igreja sem
disciplina?
Mas, o
que fazer, então, para contornar este decadência disciplinar? O que é
disciplina e qual a sua base escriturística e lógica? Quais os argumentos mais
comuns para o não exercício da disciplina bíblica? Qual o pressuposto para o
não exercício da disciplina? Como aplicá-la corretamente, de modo que os seus
propósitos sejam alcançados? Aliás, quais os propósitos da Disciplina Bíblica?
É a fim
de responder estes questionamentos que trataremos deste tema. Nossa base é a
Escritura Sagrada (AT e NT); consultaremos outros autores que tenham tratado do
assunto em questão.
1. Base Lingüística para Disciplina
Primeiramente, é preciso dizer que o termo é um termo
bíblico. De imediato retira-se a ideia de que disciplina bíblica seja algo externo
às Escrituras ou à Comunidade da Aliança. Antes, tanto no AT como no NT, as
palavras denotam “a correção que resulta em educação”. Em
português, na versão Revista e Atualizada, a palavra disciplina aparece cerca
de trinta e três vezes. No Antigo Testamento, usa-se o verbo hebraico rs;y" (yasar
– 42x), traduzido em nossas Bíblias como admoestar, corrigir, disciplinar,
instruir, castigar, entre outros. Sua maior ocorrência encontra-se na
Literatura de Sabedoria (Provérbios, Eclesiastes, Jó) e Salmos(6x e 9x); também
ocorre no Pentateuco (8x, principalmente em Dt), nos Históricos (6x) e nos
Profetas (13x; 7x só em Jr).
Se considerarmos o seu correlato rs'Wm(musar), então estes números aumentam
para quase 90 vezes: 9 no Pentateuco, 26 nos Profetas e 50 no Hagiógrafos (36
só em Pv).
Considerando que só em Dt aparece cerca de 9 vezes, já é possível estabelecer
que a disciplina é vista no contexto da Aliança de Deus com o Seu Povo (Dt
11.2ss. Cf. Lv 26.18,
28; Sl 6.1; 38.1 [2]; 39.11 [12]; 94.10; 118.18; Os 10.10), na qual se ver a “atividade poderosa [de
Yahweh] na história da aliança, atividade mediante a qual ele se revela(cf. v.
7 com 4. 35ss)”.
A
Disciplina do Senhor deve ser vista nos adjetivos atribuídos a Deus, tais como
Pai (Dt 32.6; Cf. 1.31; Is 63.16; 64.8) e Instrutor / Mestre (Cf. Is 28. 26),
que instrui por sua Lei (Sl 94.12). A Disciplina do Senhor não pode ser
separada destes dois conceitos, pois a analogia “pai-filho”, “mestre-discípulo”
demonstra que os atos de repreender, corrigir, instruir e atender às
necessidades não são separados de um “relacionamento interpessoal de amor”,
isto é, de um relacionamento pactual. A disciplina nesta relação transmite a
certeza de que se é filho e discípulo daquele que disciplina, o Senhor.
É patente no AT o caráter teocêntrico da
Disciplina, sendo o próprio Deus a origem da mesma, no intuito de educar os
seus filhos, para introdução de valores e normas de comportamento ético que se
ajustem à Sua Lei (Cf. Dt 8.2ss; Pv 3. 11, 12). Isto é
chamado de “temor do Senhor”(Pv. 1.7) e tem sentido positivo.
Nos Profetas este caráter é revelado também de forma
negativa na apresentação das maneiras como Deus aplica a Disciplina.
Normalmente associa-se à ideia de castigo ou punição (Cf. Dt
21.8; Os 10.10; Is 26.16; esp. Ez 5.17; Am 4.6 – 11). Os Profetas têm
diante de si a Aliança contida em Dt 11.2ss e 28.15ss. e tais manifestações
simplesmente referenciam que “Deus lida com o seu povo tendo como ponto de
partida a advertência e a correção. [E] é assim que deve entender a severidade
do exílio(Cf. Os 5.2; 7.12; Is 8.11)”.
Quanto ao Novo Testamento, normalmente os autores
traduzem a palavra hebraica por paideiva(Paidéia) instrução ou disciplina (Cf. Hb 12. 7;
2Tm 3.16). Na raiz (pai" - pais) da palavra encontra-se a ideia de criança e educação.
O sentido de “ensinar” e “instruir” pode ser visto em Ato 7.22 e 22.3. Em Lucas
23. 16, 22 o sentido negativo de paideuvw(paideúõ) é apresentado como “espancar” ou
“castigar”. O sentido positivo no NT é o mesmo do AT, isto é, “o castigo [de
Deus] como ação amorosa de Deus, para preservar o homem do julgamento final”(Cf.
Hb 12. 5, 6,9). Segundo Paulo, “quando julgados, somos disciplinados(paideuo,meqa - paideuómetha) pelo Senhor,
para não sermos condenados com o mundo”(1Co 11. 32). Parece deixar claro que,
para os cristãos, a Disciplina do Senhor é correção em amor, a fim de evitar
que eles se percam(Ap 3. 19).. Diz o DITNT
sobre isso:
Aos cristãos não se poupa a doença e morte como resultado dos pecados
deles. Aqui, a disciplina coincide em parte com o julgamento divino. Sendo,
porém, que este julgamento tem a natureza da disciplina, os crentes, por causa
dele, graciosamente são poupados de entrarem no juízo divino final do mundo,
sendo portanto, salvos da perdição [...] Paulo sabe, mediante a sua experiência
de levar a efeito sua comissão apostólica (2 Co 6.9) que a correção não é
uma contradição do amor de Deus, mas, pelo contrário, dever ser entendida à luz
deste amor.(itálicos meus)
Disciplina é, portanto, um ato educativo
de Deus para com seus filhos.
2. Base Teológica da
Disciplina
Fundamentado nos conceitos acima, principalmente no
contexto da Aliança, a Disciplina deve ser entendida também teologicamente. E
este sentido é o de povo de Deus, aqueles que foram separados por Ele
para ser sua “nação santa”(Ex 19.5, 6). O conceito expresso em ser povo da
aliança é o de santidade. John Sittema
diz que santidade no AT tem duas conotações: separação e pureza.
Esta última é facilmente entendida pela maioria dos cristãos. Mas, o conceito
de separação não é uma ideia fácil de aceitar. Ora, no AT o princípio da separação
do Povo de Deus é percebido principalmente na expressão “cortado de...” ou
“eliminado de...”(Cf. Êx 30.33, 38; Lv 17.4, 9, 14; Nm 19.20) e nas analogias da separação dos
animais, na plantação ou no uso de “roupas misturadas” (Lv. 19.19). Tal postura
simbolizaria
De uma forma clara e tangível
[que] Deus estava identificando Israel como seu povo separado/santo, que não
devia se misturar com o mundo. Não deviam se casar com pessoas de outros povos,
adorar outros deuses e nem misturar sua vida da aliança com quaisquer outras
práticas, valores e pessoas das cidades e regiões onde viveriam. E para
reforçar essa idéia (sic), são dados mandamentos específicos de separação
aplicada às plantas, animais e até mesmo tecidos – aspectos da vida cotidiana
de Israel que refletiam o princípio divino de santidade
Assim, no Antigo Testamento, a fim de evitar que o Povo
da Aliança fosse contaminado por pecados externos e internos, o Senhor, através
de Sua Lei Moral e posteriores desmembramentos desta Lei, mostrou ao Seu Povo o
que deveria ser feito ao transgressor, principalmente no sistema de
sacrifícios de Israel. Em certos casos,
o transgressor deveria ser eliminado (trk karat -
literalmente cortado) do meio do povo(Cf. Nm 15. 29 – 31). Tal ato
indicaria que existia distinção entre os membros da aliança e os que não eram
membros. Entre as transgressões que deveriam ser eliminadas, após exame se
houve ou não intenção,
encontram-se a rebelião contra o pacto (Gn 17. 14); profanação do Templo de
Deus, do Dia do Senhor e da Falsa Adoração (Ex. 12.15-19; 30.33; 31.44; Lv. 7.20-27;
Lv. 17.14-19; Nm. 9.13); Atos de idolatria ou feitiçaria (Lv 20. 3 – 6) e sexo
ilícito (Lv. 18. 29; 20. 17, 18). Estes atos tinham em comum a externalidade da
rebelião, sendo considerados uma grande ofensa contra Deus e o próximo,
e deveriam ser reprovados para não contaminar o Povo e não profanar o nome do
Deus da Aliança (Cf. Ez 20. 9, 14, 22; 36.23).
Sei que para a mente moderna tais atos parecem desumanos,
mas, segundo o padrão divino, a atitude é um ato de misericórdia, dando a
possibilidade de restauração e perdão ao transgressor e ao povo, em quem o
juízo divino poderia vir, caso não fosse aplicado a disciplina (Cf. Js 22. 11 –
20; Ne 13. 13 – 29; Ed 9 – 10).
Isto também é visto o Novo Testamento. A igreja de Cristo
é a comunidade dos Eleitos na Nova Aliança que tem a Jesus Cristo como Rei (Cf.
1 Pe 2. 9, 10).
Sob Ele, a disciplina é a mesma, mas com diferença na administração.
Entre
tantos designativos para a Igreja de Cristo,
um reflete bem o nosso assunto e as análises anteriores. A igreja é chamada de santa
(Ef. 5.27) e os membros desta igreja são chamados de santos (At 9. 32; Rm 1.7; 15.25; 1Co
1.2; 6.1, 2; 14.33; 2Co 1.1; Ef 1.1, 4; Fp 1.1; 4.21, 22; Cl 1.2, 12, 22, 26
etc.).
Como
“comunidade dos santos”, as Escrituras declaram que a Igreja de Cristo não é
deste mundo, antes é separada dele, mesmo que esteja nele e seja enviada
a ele (Jo 17. 11, 14, 16, 18).
Por ser separada do Mundo, o código de ética da Igreja se contraporá ao Mundo
(Cf. Hb 12.10 – 14; 1Jo 2. 15 – 17; 1Co 5. 1 – 13), fazendo com que este passe
a odiar a Igreja, pois a Igreja testemunha contra a corrupção do Mundo (Jo 7. 7; 15.18, 19; 1Jo 3.
13; Cf. Ne 9.26; Lc 11.47; 1Ts 2.15). E para
que este testemunho seja eficaz, a igreja deve reprovar abertamente o pecado
e/ou exercer a correção daqueles que se desviam (2Ts 3.14; 1Co 5.2; 2Jo 10, 11;
Jd 22, 23). Isto nos leva ao seguinte questionamento – quem exerce esta
disciplina?
3. O Poder da Igreja
em Disciplinar
A CFW (XXX,
§ i) afirma o seguinte: “O Senhor Jesus Cristo, como Rei e Cabeça de sua
Igreja, nela instituiu um governo nas mãos de oficiais dela, distinto do
magistrado civil”.
Tanto no AT como no NT, o exercício da disciplina eclesiástica era realizada
por homens a quem Deus constitui sobre o Seu Povo. No AT eram os juizes ou
sacerdotes, que, inclusive exerciam o governo civil
(Ex 21.22; 22.8; Dt 1.16) e os anciãos (Dt 11. 12; 21. 19; 22.15, 18). No NT,
este exercício foi dado aos “Oficiais”, Apóstolos em primeiro lugar (Mt 16. 18
– 20; 18. 15 - 20) e presbíteros em segundo lugar (1Tm 3. 1 – 7; Tt 1. 5 – 13).
A igreja também participa deste exercício, primeiramente no aspecto fraternal
e pessoal (Mt 18. 15) e, depois, em assembleia reunida (1Co 5. 2 – 11;
2Ts 3.6, 14, 15).
Este
poder da igreja é espiritual e chama-se “chaves do reino dos céus”(Mt
16. 19) relacionadas ao “ligar e desligar” (18.15 - 18). É certo que estas duas
expressões já implicam o poder da igreja em “abrir”(ligar) ou
“fechar”(desligar) o reino dos céus aos impenitentes, como deixa claro o
contexto (Mt 18. 17 – 20). Refere-se, então, à disciplina eclesiástica. A
Igreja de Cristo tem o “poder das chaves”, podendo “recebe à comunhão, bem como
para excluir os indignos de sua própria comunhão”.
Não é
que os Oficiais tenham poder intrínseco de perdoar ou não perdoar
pecados, mas declarar
a vontade de Deus para aqueles que não se submetem à vontade revelada de Deus.
Talvez a exposição da CFW (XXX, § ii) seja clara sobre este sentido:
A esses oficiais estão
entregues as chaves do Reino do Céu. Em virtude disso eles têm respectivamente
o poder de reter ou remitir pecados; fechar esse reino a impenitentes, tanto
pela palavra como pelas censuras; abri-lo aos pecadores penitentes, pelo
ministério do Evangelho e pela absolvição das censuras, quando as circunstâncias
o exigirem.(Mt.1619; Mt.18.17-18; Jo.20.21-23; 2 Co.2.6-8).
Neste
poder declarativo, os Oficiais não precisam temer o exercício da disciplina.
Nos textos bíblicos acima,
Jesus Cristo está ensinando
que a disciplina eclesiástica terá sanção no céu. Mas isso não quer dizer que a
igreja precisa esperar que Deus endosse suas atitudes depois que elas
acontecerem. Em vez disso, sempre que a igreja cumpre o papel disciplinar
pode estar confiante de que Deus já começou o processo espiritualmente.
4. Quais os Propósitos da
Disciplina Bíblica?
Já vimos
que o Senhor não permitirá que seu nome seja profanado, nem que o seu povo seja
contaminado. À luz disto e outras porções das Escrituras, é possível encontrar
quatro propósitos por que a Igreja deve exercer a disciplina do Senhor
.
- Restauração
do irmão faltoso
(Mt 18. 15; Gl 6.1; Tg 5.20) – “Chamar e ganhar para Cristo os irmãos
ofensores”(CFW XXX § iiia)
Este é o
aspecto restaurativo da disciplina. Ela não deve ser vista como, primariamente punitiva,
mas restaurativa, isto é, a busca e a tentativa de impedir que a ovelha de
Cristo se desvie (2 Co 2. 5 – 11). Este aspecto deve ser feito em amor,
apresentando os perigos do pecado e do desviar-se do Senhor.
- Impedir que o Pecado se espalhe (1Co 5. 6, 7; 2Ts 3.6 – 15; Hb 12. 15) –
“Impedir que outros pratiquem ofensas semelhantes, para purgar o velho
fermento que poderia corromper a massa inteira” (CFW XXX § iiib)
Neste
propósito, Deus preserva o rebanho da contaminação pelo exemplo do
transgressor. Aqui fica claro que o não exercício da disciplina conduzirá
outros a práticas semelhantes. Assim, a fim de preservar o rebanho, a
disciplina deve ser aplicada, protegendo a pureza da Igreja de Cristo (Gl 5.9).
- Preservar
a Honra da Igreja e de Cristo Jesus (Rm 2.24; 1Co 5. 2; 6.6; 2Pe 2.12; 3.14; Ap 2.14 – 16, 20) –
“Vindicar a honra de Cristo e a santa profissão do Evangelho” (CFW XXX §
iiic)
Sem dúvidas alguma, sempre que a Igreja negligencia
o testemunho de Cristo, Jesus é blasfemado entre os incrédulos. Sempre que a Igreja
deixa de tratar o pecado abertamente, ela será vista como hipócrita (Mt 7. 1 –
5; Cf. 1 Pe 4. 14 - 19) e será condenada com o mundo (1Co 11. 32)
- Evitar
o Justo Juízo de Deus sobre seu Povo (Ap 2. 18 – 29) – “Evitar a ira de Deus a qual com
justiça poderia cair sobre a Igreja, se ela permitisse que o pacto divino
e os seios dele fossem profanados por ofensores notórios e obstinados”(CFW
XXX § iiid)
Este é,
sem dúvida, um dos aspectos mais temível. O Senhor havia dito às igrejas de
Éfeso, de Pérgamo e de Tiatira que, pela falta de exercício disciplinar
daquelas igrejas, ele traria juízo sobre a igreja (Ap 2. 5, 16, 22, 23) para
que soubessem que, embora os homens não se dessem conta da seriedade do pecado,
Ele “sonda os rins e os corações”(2. 23). Assim, não exercitar a disciplina é
esperar a certeza do julgamento de Deus.
5. Como a Igreja Aplica a
Disciplina?
Talvez
seja aqui que surja a maior dificuldade. Como exercer a disciplina
eclesiástica? Deve-se, primeiramente, saber se as Escrituras fazem alguma
classificação acerca dos pecados. De fato, alguns pecados são mais odiosos do
que outros (Pv. 6. 16 – 19; Ml 2. 16) e alguns são públicos e notórios (1 Tm 5.
24). Segue-se que, a fim de exercer fielmente a disciplina, deve-se considerar
estas coisas, bem como a maturidade na fé(Rm 14. 1 – 23). À luz de Mateus 18.
15ss, segue-se que a disciplina é, antes de tudo, preventiva e deve
começar entre os fraternos (se teu irmão...) para que os outros
passos sejam dados.
Também a
depender da gravidade do pecado – público ou privado. Wayne House
apresenta o seguinte gráfico sobre o problema e o procedimento em cada caso de
disciplina:
Passagem
|
Problema
|
Procedimento
|
Propósito
|
Mateus 18. 15 – 18
|
O pecado de um “irmão” (não definido)
|
- Repreensão
em particular
- Reunião
em particular
- Anúncio
público
- Exclusão
pública
|
Restauração (ganhar “a teu irmão”)
|
1 Coríntios 5
|
Imoralidade
Avareza
Idolatria
Embriaguez
Fraude
|
1.
Lamentar
coletivamente
2.
Remover
do Grupo
3.
Não se
associar
|
Restauração (5.5)
Purificação (5. 7)
|
2 Coríntios 2. 5 – 11
|
Não citado
|
Após o arrependimento sincero
- Perdoar
- Confortar
- Amar
|
Restauração (2. 11)
Proteção (2.11)
|
Gálatas 6. 1
|
“alguma falta”
|
Restaurar:
1.
Como
pessoas espirituais
2.
Com
brandura
3.
Com
reflexão
|
Restauração
|
2 Tessalonicenses 3. 6 – 15
|
Preguiça, maledicência (“se intrometem”)
|
- Observá-lo
- Não
se associar com ele.
- Adverti-lo
(como irmão, não como inimigo)
|
Restauração (“para que fique envergonhado”)
|
1 Timóteo 5. 19, 20
|
Denúncia contra Presbítero sem testemunha
|
- Necessidade
de testemunhas
- Se
o pecado continuar, repreender diante de todos
|
Purificação (“para que também os demais
temam”)
|
Tito 3. 9 – 11
|
Comportamento faccioso
|
1.
Admoestá-lo
duas vezes
2.
Evitá-lo
(como pervetido, pecaminoso, auto-condenado)
|
Proteção (contra divisões)
|
Ainda
segundo House
,
é possível elaborar um
fluxograma da Disciplina Eclesiástica, conforme
abaixo.
1.
Imoralidade Sexual aberta (1 Coríntios 5. 1 –
13)
2.
Conflitos pessoais não resolvidos (Mateus 18.
15 – 20)
3.
Espírito Faccioso (Romanos 16. 17 – 18; Tito
3. 10)
4.
Falsos Ensinos (Gálatas 1. 8, 9; 1 Timóteo 1.
20; 6. 3 – 5; 2 João 9 – 11; Apocalipse 2. 14 – 16)
|
6. Objeções à Disciplina Eclesiástica
Os homens são de tal forma que procurarão, em todas as
ocasiões, desculpas para não aplicarem ou se submeterem à disciplina bíblica.
Abaixo, o Rev. Arial Dias
apresenta algumas possíveis resistências à disciplina bíblica.
- Argumento
do Amor –
a disciplina eclesiástica é contrária ao amor. Resposta (Rm 13. 8 – 10;.
Hb 12. 4 – 12)
- Argumento
da Liberdade –
a disciplina eclesiástica opõe-se liberdade. Resposta (Jo 8. 31 – 26; Tg
1. 25)
- Argumento
da Felicidade –
a disciplina eclesiástica opõe-se a felicidade do cristão. Resposta
(Sl 1; Is 48. 22; Hb 12. 11)
- Argumento
do Afastamento –
a disciplina eclesiástica afastará as pessoas da igreja. Resposta (Sl 37.
23, 24; 1Jo 2. 18, 19)
- Argumento
da Hipocrisia –
a disciplina eclesiástica é um ato de hipocrisia, pois todos na igreja são
pecadores. Resposta (1 Co 6. 1 – 11; At 5. 1 – 11)
- Argumento
da Injustiça - a disciplina eclesiástica pode ser
aplicada injustamente ou ser utilizada como instrumento de perseguição.
Resposta (Is 5. 20, 22; Mt 23. 1 – 36)
Diz o Código de Disciplina da IPB: “Disciplina
Eclesiástica é o exercício da jurisdição espiritual da Igreja sobre seus
membros, aplicadas de acordo com a Palavra de Deus”.
Na jurisdição espiritual, a Igreja exerce o direito de punir
os pecados dos seus membros, mesmo que esses pecados sejam práticas permitidas
na sociedade em que a igreja está inserida. A igreja não pode faltar no combate
ao pecado interno. A sua saúde espiritual depende da sua pureza. ‘Você pode ter
disciplina sem santidade, mas não pode ter santidade sem disciplina’
Conclusão
Estamos em dias em que Disciplina Eclesiástica,
quando não desprezada, não é aplicada como deveria ser. Em dias de “crentes
melindrosos”, em época do “mercado eclesiástico”, muitos pastores e Conselhos
temem aplicar a Disciplina por medo e, principalmente, para não perder membros.
Mas, pergunto, uma árvore que é corretamente podada, tende a morrer ou dar
novos frutos?(Jo. 15.2)
WALTKE, Bruce
(org). New International Dictionary of Old Testament Theology and Exegesis(NIDOTE).:
Vol 2. Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1997, pp. 479 – 482.